terça-feira, 29 de maio de 2012

3- O presente de Alice Lian


     – Sam? Sei que você esta ai, Sam. São cinco horas da tarde e você está dormindo, não é? Levanta logo a bunda dessa cama...vai logo Sam!...É sério...pode colocar o pé pra fora da cama...Sam?...Sam! Tem brigade...
     – Oi, Cat!
     – Não me chame de Cat – pedi. – Isso soa tão...gato.
     – Mas você é uma gata. Certo?
     Revirei os olhos, já havia desistido de fazer com que Sam parasse de me chamar de “Cat”, e nove meses de namoro pareceu incentivá-lo ainda mais a me chamar de “Cat”.
     – Hei, preciso que venha aqui em casa.
     – Mas você disse brigadeiro.
     – Não tem comida em casa não, pô?
     Ele ri do outro lado da linha. Que risada histérica!
     – Acabo o leite condensado.
     – Existe mercado, Sam.
     – Existe a sua casa, Cat.
     Dessa vez sou eu quem dá a risada histérica. Quanta histeria.
     – Vai vim?
     – Aonde?
     – Na minha casa.
     – Fazer o quê?
     – Lembra que disse que tinha que te contar uma parada?
     – Ah, a parada que você estava tão...preocupada hoje na aula de Biologia?
     – É, Sam. Essa aí.
     Ele mexe com alguma coisa do outro lado da linha e depois diz com uma voz preocupada:
     – Cat, o que está acontecendo?
     – Não podemos falar sobre isso por telefone.
     – Está bem. Estou indo parai.
     – Obrigada, Sam.
     – Estou chegando, hein? – ele dá uma risadinha e mais barulho do outro lado. – Tchau, Cat.
     – Tchau.
     Desliga.
     Pensei no que Alice tinha dito de manhã “Conte a quem você quiser, só duvido que alguém vá acreditar, não é?”. Joguei o travesseiro do outro lado do quarto. Ainda de meia, fui até o som, escolhi um CD que eu mesma havia feito, escolhendo as melhores musicas do “momento”. Encaixei o CD. Perfeito! It’s Not Over começou a tocar, me joguei no tapete macio e pensei.
     Será que se eu contasse tudo pro Sam, ele acreditaria? Acreditaria que eu era uma aberração? Talvez ele terminasse comigo, afinal, quem ia querer Miguel como sogro? Eu ainda não havia aceitado muito bem o fato dele ser meu pai. Apesar do que Mateus havia me dito, quando perguntei por que Miguel nunca veio me visitar, mandar lembranças...qualquer coisa que um pai normal faça. O que ele disse, me fez ter outra imagem de Miguel.
     – Ah! Cathy, acredite, ele sempre te protegeu. Mas ele te escondia, sempre te escondeu, ninguém podia saber, você seria uma bela isca pra uma...armadilha. – Ele fez uma pausa, parecia pensar se contava o que estava na ponta da língua. – Lembra do acidente? O que matou sua mãe?
     Fiz que sim com a cabeça, ele prosseguiu, cauteloso.
     – Foi ele o milagre que te salvou. Eu sei, sua mãe...mas não o julgue mal. Ele tentou, mas quando ele chegou lá, no local do acidente, já era tarde demais, sua mãe estava morta e você estava tão perto da morte...a “querida filha de Miguel” morrendo em um acidente de carro! Então ele te devolveu a vida, te curando.
     – Isso...não...não era certo. – gaguejei.
     – Não, ele inverteu o seu destino. Era pra você ter morrido naquele dia Cathy, naquele acidente de carro. Nem deveríamos estar falando com você. Você deveria estar morta. Morta.
     Suspirei, agora tocava What About Now e a musica estava me fazendo chorar. Depois de tudo que haviam me dito, de todo aquele sobrenatural, ainda tinha o fato de “Cathy, você deveria estar morta.” Why?

     Tocou September, All In, Walk, Basket Case, e nada do idiota do Sam.
     – Cadê aquele imbecil? – murmurei pro teto. Levantei-me, cambaleante, seguindo até o banheiro e a campainha tocou.
     – Oh! Até quem fim, Sam! – gritei da porta do banheiro.
     Fui até a porta. Espiei pela fechadura para checar que não era nenhum outro estranho do outro lado. Mas era só o Sam; com aqueles olhos carinhosos olhando pro nada.
     Abri a porta sorrindo e ele me recebeu com um apertado abraço. Longo até demais.
     – Sam, pode me soltar ta? Não faz nem algumas horas que a gente se viu...
     – Eu sei. É que eu estava com saudades de você. – Ele se vira e me observa, preocupação exagerada, como sempre.
     – Entre.
     Ele entrou desajeitado e o levei até o meu quarto. Sam sempre foi o meu “melhor amigo bonitão”, até a sexta série ele era só um amigo, então chegou a sétima e ele se apaixonou. Na oitava, no primeiro colegial... Ele era apaixonado por mim – e ainda é – mas não assumia. Mas nenhum homem sabe esconder seus sentimentos, e ele sempre me elogiava, mesmo quando me pegava acordando de uma “soneca” à tarde. “Você sempre está linda” ele dizia. E eu pirava, é claro. Mas então, há nove meses atrás ele resolveu tomar uma atitude. Comprou-me chocolates caríssimos, um buquê de tulipas vermelhas e deixou na minha porta. A campainha tocou às 3 da manhã de um sábado, eu estava dormindo, mas milagrosamente, fui e atendi. Não sei como o porteiro deixou ele entrar àquela hora, deve ser por que ele sempre o conheceu. Enfim, abri a porta e me deparei com todo aquele presente, no meio das flores havia um cartão, e numa caligrafia que conheci imediatamente, estava escrito:

"Sei que é patético Cat, mas quer namorar comigo?
      Sam."

     Eu sei, bizarro. Mas quando olhei para frente ele estava lá, encostado na parede do corredor, com seus olhos esverdeados brilhando, um sorriso irônico que eu tanto amo, com suas roupas bad-boy, os cabelos loiros bagunçados e mais tulipas vermelhas. Eu não me lembro de ter sido tão feliz por ser acordada às 3 da manhã de um sábado.
     E até hoje tulipas vermelhas aparecem do nada na frente da minha porta, sem cartão postal, mas bem óbvio.
     Ele passa o braço na minha cintura e beija o alto da minha cabeça, enquanto eu lembrava daquele dia, sorrindo.
     – O que foi? – ele sorri também.
     – Nada, é que bem...estava me lembrando do dia em que você me pediu em namoro...
     – Do cartão ridículo...
     – Das tulipas vermelhas...
     – Eu havia bebido muito naquele dia...
     Parei. O que foi que ele disse?
     – VOCÊ SÓ ME PEDIU EM NAMORO POR QUE ESTAVA BÊBADO, SAM?
     Ele me olha confuso e depois faz  uma expressão “Ah! Entendi!”
     – Não. Não é isso. É o cartão...o cartão ridículo.
     – Que tem ele? – digo mais calma.
     – Eu só escrevi daquela forma porque eu estava bêbado. E você sabe, eu teria sido mais caprichoso se não estivesse.
     Ah! Era isso.
     – Ahn, saiba que ainda o guardo na minha “gaveta especial”.
     Nos sentamos na cama, ele deita e cruza os braços por trás da cabeça. Hmmm...
     – Não acredito – ele ri. – Foi tão...patético!
     Nós rimos, mas logo eu paro, já lembrando o por quê de eu tê-lo chamado ali.
     Ele para também, notando minha quietude. Puxa-me para o lado dele, e deito em seu peito enquanto ele passa novamente o braço na minha cintura.
     – Hei, já pode me contar. Ok?
     E eu conto. Tudo. O tempo parando, Mateus me contando quem era meu pai, como ele era. Alice me dizendo que eu era uma “criatura” e até mesmo a falta de educação de Mateus. Conto a ele sobre a história de Deus estar “ausente”. E Sam ouve sem me interromper, apenas concordando e encorajando-me a continuar.
     Quando conto a ele sobre como Miguel me salvou ele me olha incrédulo, principalmente quando digo que eu deveria ter morrido.
     – E antes de eles saírem, Alice me entregou isso.
     Levantei-me e fui até a mesinha de cabeceira, abri a primeira gaveta e tirei de lá um livro com capa de couro, fino, mais ou menos 100 páginas.
     Entrego a Sam, ele o folheia e me olha incrédulo.
     – Mas está em branco! – exclama.
     – É, ela me disse exatamente isso antes de sair “Estou muito ocupada nesses dias Cathy, está um caos no céu e não posso ficar por muito tempo aqui na Terra. Mas preciso que vá me visitar amanhã, meio dia.” Fiz a pergunta óbvia: Como? Ela disse “Escreva meu nome, Alice Lian, no livro e ele te levará.”
     – Como é que é?
     – É isso mesmo que você ouviu, ela disse isso como se estivesse dizendo “aqui o numero do meu celular, me ligue.” Fala sério!
     Ele sorriu e me abraçou. Sua boca estava no meu cabelo quando falou.
     – Eu acho que eu deveria ir com você, não?
     Afasto-me, e o encaro. Perplexa.
     – Então você acredita em mim?!
     – É claro que sim! E alias, sempre achei que você não fosse normal...
     Sorrio como uma boba pra ele. Sam me beija e esqueço de tudo, de Alice, de anjos, de pai maluco, de tudo...ele se afasta, cedo demais. Acaricia com o polegar meu rosto, desde perto da orelha até o queixo, que ele segura com firmeza. Beija-me de novo e sussurra entre um sorriso, que eu já sabia muito antes de ele falar o que era.
     – Brigadeiro?
     – De novo!
     – Nós só fizemos brigadeiro semana passada!
     – Sam, hoje é segunda.
     – Brigadeiro? – pergunta de novo, dessa vez com um charme meloso na voz.
     – James Blunt?
     – Quê?
     – Brigadeiro e James Blunt.
     – Vamos comer James Blunt?
     – Não, Sam! Pelo amor de Deus!
     Nós rimos, histericamente novamente.
     – O.k.
     – O quê, Sam?
     – James Blunt...
     – Vai comer o James Blunt, é?
     – Cat!
     – Vai...mas você faz o brigadeiro.
     – Nós fazemos o brigadeiro.
     – Ecaaa! Que meloso que vai ser isso.
     – Então tire o James Blunt! Você está viciada nesse cara!
     – Sam!
     – Coloque...hmm, Green Day! É o melhor.
     – Não sei.
     – Vai? – Ele faz cara de gato abandonado que sempre me faz mudar de ideia, por qualquer coisa. E cedo na hora.
     – Ok, ok. Vá logo para o fogão.
     – Yeah! Hei, tem Coca?
     – Tem, Sam. Esqueceu que está na minha casa?
     Empurro-o da cama, ele cai de barriga no chão, xingando, mas rindo. Levanto em um salto, feliz por poder contar com ele, por saber que mesmo eu sendo uma aberração, ele está do meu lado.
     Corro até a cozinha, pulando e tropeçando em tudo pela frente. Enquanto Bruno Mars canta lá do quarto, na sua voz perfeita...
“When I see your face
There's not a thing that I would change
'Cause you're amazing
Just the way you are”

segunda-feira, 28 de maio de 2012

2- A origem de tudo e um pouco mais.



     Não agüentei e cai no riso, e apesar de todos estarem com olhares e posturas sérias, como se estivessem anunciando o fim do mundo, eu ri. Tanto, que cheguei a entalar.
     – Um copo d’água. – pedi, aos entalos.
     Um copo surgiu a minha frente na mesa, peguei-o e bebi a água. Respirei fundo e  encostei-me  na cadeira, como se estivesse corrido ao lado de Usain Bolt.
     – Já parou? – perguntou Mateus, muito sério. Fiz que sim e ele prosseguiu. – Temos uma longa história pra te contar, do seu interesse. E se você rir toda a vez que dissermos algo “improvável” – ele fez aspas no ar –, vou ser obrigado a passar uma fita na sua boca.
     Eu estava de saco cheio daquele assunto. E ainda tinha de agüentar um cara folgado dizendo que ia passar uma fita na minha boca? Rá. E fora o fato de que eu ia acabar ficando atrasada para a aula de Biologia...
     Chequei meu relógio, devia ter parado, pois ainda marcava 06:00 horas. Olhei para o relógio que ficava na parede da cozinha, o meu celular, ambos marcavam 06:00 horas. Olhei para fora da janela, amanhecia.
     Levantei-me da cadeira e dei a volta na mesa quadrada, passando por Mateus segui até a janela do apartamento. Olhei para baixo e o que vi não foi nada animador. Do sexto andar dava para ver tudo que acontecia lá embaixo, desde a rua da frente, ao jardim do prédio. O bonitão que passava correndo todos os dias dando “bom dia”, a senhora do apartamento 25  que ia a padaria sempre ás 06:00 horas...o porteiro que tentava acalmar um garotinho chorão que nunca queria ir pra escola, com uma mãe que sempre usava óculos escuros (É, não importava se estava sol ou não!)... Os carros que passavam na rua da frente...o cachorro mijão...o jardineiro...tudo. Estava tudo parado. Como se alguém tivesse dado “play”. Não ouvia a cantoria dos pássaros, nem o barulho de pneus descontrolados. Ninguém gritava. Ninguém se movia.
     Vire-me e encarei os três presentes. Eu e eles parecíamos ser os únicos seres vivos que ainda respiravam, e aquilo foi assustador.
     No silencio que se seguiu, soube, apenas por encarar aqueles rostos belos, sabia que estavam dizendo a verdade. Por mais que cada palavra soasse tão improvável. O que diziam fazia sentido por tudo que já aconteceu de estranho comigo. Cada coincidência...cada persuasão...cada raiva que tive e fiz explodir coisas...fiz pessoas fazerem “favores” pra mim apenas com um olhar... tudo. Na época aquilo não parecia ter explicações, e agora elas vieram como tapas na minha cara.
     Alice deu um sorriso culpado, como uma criança que foi flagrada brincando com as roupas da mãe. Ainda sorrindo, falou:
     – Temos todo o tempo do mundo, Cathy. Sente-se.
     Dessa vez eu não fui. Encarei aqueles olhos azuis como se pudesse extrair toda a verdade deles, a raiva me dominava. Por que não paravam de enrolar e não diziam tudo em uma frase só? “você é uma aberração” serviria.
     – Por que estão todos assim...meio, congelados? – me surpreendi perguntando.
     – Tudo tem sua hora, querida – ela hesitou e prosseguiu: – Sente-se. Tenho certeza que quer saber quem é seu pai, não?
     – Ah! Vou ficar por aqui mesmo. – encostei-me na soleira da janela, cruzei os braços e encarei todos. – Vamos! Contem-me!
     A verdade é que eu estava com medo. Com medo da verdade.
     – Bem – começou Mateus, de costas para mim, ele brincava com as flores do jarro, em cima da mesa, distraído. – Seu pai sempre foi um bom...Anjo. E Cathy, você tem toda a razão em dizer que é pecado o que vamos lhe contar. E não discordamos, pelo menos eu, não. Mas ouça, por favor. – ele fez uma pausa, escolhendo as palavras certas. – Seu pai era apaixonado por sua mãe, Emma, e quando digo “apaixonado” não é como os homens aqui da Terra amam. Seu pai seria capaz de dar sua existência por Emma.
     “Na época, ele tinha um romance – por não ter uma palavra melhor: – secreto com ela. Não, sua mãe não sabia quem ele era de verdade.
     Mamãe sempre dizia que ele era misterioso, pensei. E ela morreu sem saber a verdade.
     – Como ele escondeu isso dos outros...? – não consegui pronunciar a palavra “anjo”, não me pergunte o por quê.
     – Seu pai é poderoso. É capaz de deixar qualquer Anjo ajoelhado a seus pés.
     Lembrei do sorriso de mamãe, em como ela era corajosa, honesta e encantadora, ela sabia conquistar, tinha charme e inteligência...não foi difícil imaginar um “anjo poderoso” apaixonado por ela. Qualquer um se apaixonaria.
     – E então – Alice prosseguiu com a história. –, seu pai resolveu dar uma escapadinha. Sabe? Nada demais...
     Eduardo sorriu, meio rindo.
     – Eai ele descobriu que camisinha não funciona com anjos.
     Alice fez uma careta pra ele, e me senti desconfortável a intimidade dos dois.
     – E você – Mateus se virou para mim, sério. – Nasceu exatamente no dia 11 de Novembro, de um imperdoável e atormentado 1995.
      Franzi o cenho.
     – O que a data que eu nasci tem haver?
     Foi Eduardo quem respondeu:
     – Os humanos se referem ao numero 13 um numero de azar. Mas na verdade, é o numero 11.
     – O quê? – zombei. – Só porque eu nasci neste dia?
     – Não. Não é isso – com um suspirou explicou. – Onze: o numero 1 dobrado, representaria uma cadeia de DNA. Representaria o equilíbrio também. Numero primo. É o primeiro numero que não dá pra contar nos dedos. O 11° Arcano Maior é a Justiça. E fora às tragédias...
     – 11 de Setembro. Torres gêmeas... – comentou Alice.
     – 11 de Janeiro. Terremoto no Haiti... – Mateus falou, com um olhar vazio.
     – E várias outras. – Eduardo hesitou por um momento, avaliando-me. – Deus é o numero 10, e como Lúcifer sempre quis estar acima dele...
     – O numero de sorte dele é 11? – adivinhei. – Mas...isso são apenas coincidências...rá...vão me dizer que o mundo vai acabar hoje só porque é dia 11/11/11? Fala sério! 
     Eduardo começou a retrucar, mas Alice falou mais alto, com sua voz fina:
     – Em todo o caso, você não nasceu no melhor dia. Mas isso é só uma data ruim...
     – Que nasceu uma coisa ruim – deixei escapar.
     Ela deu um sorrisinho malicioso.
     – A questão mais importante Cathy, é que achamos que você seja a criatura, perdoe-me pelo argumento, não definimos um nome certo para você ainda, mais poderosa que existi.
     Assoviei. Com certeza isso não era bom.
     – Mas – continuou Mateus. –, você pode não ser a única.
     – Hã? Meu pai andou saindo com mulheres demais? – zombei. Mas olhei para os lados, como se algum animal fosse surgir do nada e me atacar...animal?
     – Hummm – fez Mateus.
     – Seu pai, Cathy – Alice mexia nos anéis da mão (Que joalheria!), ninguém me encarava mais. Ótimo. Ai vem bomba. – Ele é o nosso querido Arcanjo Miguel.
     – Ta de brincadeira! – exclamei. – Mas que eu saiba ele é um Anjo muito importante...ele teria sido expulso do céu, não faz sentido...e eu...eu...nasci do pecado, é isso? Porque ele não caiu? É isso? Ele caiu? Foram pra isso que vieram aqui?
     Eles se entreolharam, como se compartilhassem um segredo intimo.
     – Ahn, já dissemos que Deus está...bem...ausente?
     Encarei-a. Por que de tudo que ela havia dito, aquilo soou o mais ridículo?
     – Ah, claro! E meu superpai resolveu “soltar as frangas” por ter o papai “viajando”? Muito rebelde! Agora já sei de quem puxei esse gênero...
     – Você aceitou as coisas mais rápido que imaginávamos – Eduardo sorriu, como se tivesse tirado a nota máxima na prova de física. – Mas não foi bem assim...Deus está ausente desde o término da Segunda Guerra, aquelas guerras foram vergonhosas, não é de se espantar, não é?
     Alice revirou os olhos para ele, levantou a mão pedindo silencio.
     – Os humanos têm atos terríveis e nobres. Nobres pelo amor, terríveis pelo ódio. De que adiantou todas aquelas mortes...milhares...tantos inocentes...! Preconceito, poder, desejo...horrível! – ela fez uma pausa, parecia tentar se lembrar do que estava falando antes. – Mas Deus continua falando com nós, e também com os humanos, é claro, ainda age na vida de todos. Mas ninguém sabe onde ele está, ninguém é mais punido por um pecado no céu. Tem anjos se relacionando com humanos...e já O procuramos, pensamos que ele talvez esteja na Terra, testando a todos...é imprevisível.
     Pensei naquilo por um momento. Nunca havia imaginado onde Deus morava. Sei lá, um palácio no céu? Como um mendigo embaixo de rodovias? Um rico de Londres? Mas imaginava que ao menos os anjos saberiam onde. Mas o fato de Miguel (Meu pai!) se aproveitar da ausência do seu próprio pai (Meu avô?)  era muito deplorável. Pelo menos não é algo que se chega comentando na escola. Ótimo, já sentia vergonha do meu pai.
     Fechei os olhos tentando absorver todas aquelas informações. Eu me sentia como se estivesse carregando um caminhão nas costas e tivesse que caminhar até o Canadá, em um dia.
     – Ele está agindo às escondidas – observou Mateus. Pude ver a dor em suas palavras.
     Olhei pela janela, lá fora o sol ainda nascia, exatamente como estaria às 06:00 horas da manhã. Uma parte do céu estava escura, ainda de noite. A outra clara e amarelada. Eu havia desejado a verdade por todos esse anos, e agora, três estranhos entram na minha casa (parando o tempo!) me dando-a de presente de aniversário. E não se podem recusar presentes.
     Uma lágrima morna escorre sobre minha face, sequei-a, vergonhosa. Não era isso que eu sempre quis, durante 16 anos? Eu havia me preparado para a verdade, seja ela qual fosse, e agora chorava como um bebê? Se aquilo que diziam fosse realmente verdade (E eu sabia que sim.), estava mais que comprovado que por todo esse tempo, meu pai, Arcanjo, Miguel, tarado-apaixonado, nunca se importou comigo. Mateus havia afirmado que ele era um “bom anjo” é, que fosse, mas não era um bom pai. Não se importava e não se importa comigo. Por que eu deveria me importar com a mínima existência dele?
Fixei meu olhar na única pessoa que tive simpatia ali. Eduardo brincava com o a borda do forro de mesa, até parecia uma criança perdida que não sabia o que estava fazendo ali. Sorri, meus olhos ainda transbordavam lágrimas, e aquela, com certeza, não foi a melhor imagem que ele teve de mim, ao levantar os olhos, a cabeça um tanto baixa ainda. Ele sorriu e por um momento, me senti feliz apenas por ele estar ali.


Por: Carol C.

domingo, 27 de maio de 2012



Título: A Dança dos Dragões
Subtítulo: As Crônicas de Gelo e Fogo - Livro Cinco
Edição: 1
ISBN: 9789896373689
Editora: Saída de Emergência
Ano: 2011
Páginas: 576
Sinopse: O Norte jaz devastado e num completo vazio de poder. A Patrulha da Noite, abalada pelas perdas sofridas para lá da Muralha e com uma grande falta de homens, está nas mãos de Jon Snow, que tenta afirmar-se no comando tomando decisões difíceis respeitantes ao autoritário Rei Stannis, aos selvagens e aos próprios homens que comanda. Para lá da Muralha, a viagem de Bran prossegue. Mas outras viagens convergem para a Baía dos Escravos, onde as cidades dos esclavagistas sangram e Daenerys Targaryen descobre que é bastante mais fácil conquistar uma cidade do que substituir de um dia para o outro todo um sistema político e económico. Conseguirá ela enfrentar as intrigas e ódios que se avolumam enquanto os seus dragões crescem para se tornarem nas criaturas temíveis que um dia conquistarão os Sete Reinos?

sábado, 26 de maio de 2012

1 - Recebo uma visita de estranhos.


Eu tenho uma vida bacana. É, pra quem tem 16 anos, só estuda, tem um carro e um namorado, pra mim, é bacana.
Eu moro em Nova Jersey com minha vó Lijia – na verdade, ela é minha madrinha, mas por ela ter 60 anos, eu a chamo de vó –, minha mãe morreu quando fiz 11 anos.
Íamos comemorar meu décimo primeiro aniversário em um restaurante no norte de Nova York. Mamãe me deixou sentar no banco de carona, eu estava linda – é, eu era uma menina bonita. – Vestia um vestido rosa com bolinhas brancas, sapatilhas pretas e meus cabelos estavam soltos, formando ondas até a cintura. Minha mãe estava uma deusa: vestia um vestido de seda azul, salto agulha, cabelos negros soltos até o ombro, a maquiagem perfeita. Nada exagerado, só casual. Linda.
– Cathy, minha querida,  você viu o presente que madrinha lhe mandou,? – ela dirigia e ajeitava o cabelo ao mesmo tempo, como se pudesse ficar ainda mais linda.
– Não – respondi. – Quando chegarmos, eu vejo. Juro.
Na verdade, nunca cheguei a abrir o presente.
Havíamos entrado em uma estrada vazia, cantávamos Beatles, extremamente desafinadas. Mamãe virou a esquina e um borrão de luz inundou nossos olhos. Só lembro do barulho dos pneus, mamãe e eu gritando e uma dor sufocante.
Mamãe não sobreviveu. E o fato de eu ter sobrevivido foi um milagre – um milagre que eu nunca queria que tivesse acontecido. – Os médicos disseram que ela morreu na hora. O carro despencou em um barranco e explodiu. E a questão era “Como eu havia sobrevivido?”. As crentes disseram que foi Deus, os médicos disseram que eu era “uma garota forte”, minha madrinha disse “foi o amor de sua mãe que te protegeu”. Sim, e eu sou Harry Potter.
Fiquei traumatizada, durante dois anos não tinha sede de viver...eu desejava a morte acima de tudo, desejava poder voltar à presença de minha mãe. Eu a queria muito. E ainda por cima, eu estava órfã. Não, eu desconheço o termo “pai”. Meu “pai” me abandonou quando soube da gravidez. Minha mãe nunca chegou a entrar em detalhes sobre ele, sempre dizia que ele era um cara legal. Bonito, mas muito, muito misterioso.  Quando ele a abandonou, ela foi obrigada a me criar sozinha. Uma mãe solteira. É, meu pai não é o melhor cara do mundo.
Agora eu tinha uma vida bacana, apesar de sentir muita falta de minha mãe, desejar todos os dias que ela estivesse aqui para dizer que tudo ia ficar bem, ainda era bacana.
O despertador gritou 06:00 horas. Espreguicei e segui até o banheiro. Banhei-me por um longo tempo, água quente sempre expulsa o sono. Coloquei o uniforme da escola (só a blusa) a calça era sempre jeans desbotado. E desci para o andar debaixo, pra tomar café com minha Lijia.
– Bom dia, – disse, bocejando.
Abri os olhos e deparei com dois homens e uma mulher, sentados a mesa da cozinha.
Congelei. O mais novo, aparentemente 17 anos, tinha os cabelos  bagunçados caindo no rosto, os olhos tão pretos quanto os cabelos. Ele vestia uma camiseta pólo branco, jeans preto e all-star. Ele sorriu, mostrando dentes brancos e saudáveis.
– Sou Eduardo McLean. E você, deve ser Catherine Lohan.
A primeira coisa que pensei foi “É da policia!”. Ninguém me chama de “Catherine” muito menos “Catherine Lohan”!
– Sou. Quem é você? – pensei que a pergunta foi um tanto idiota, e tão me referi a todos: – Quem são vocês?
– Epa! Vamos com calma Catherine – a loura se levantou (quem convidou ela a sentar?), tinha cabelos cacheados até a cintura. Vestia um vestido branco. Simples, mas elegante. Os traços do rosto eram quase perfeitos, se não fosse uma cicatriz que marcava da bochecha até o queixo. – Sou Alice Lian. E esse... – ela apontou para o homem moreno, que parecia ser o mais velho ali, uns 25 anos talvez? Seus olhos eram azuis e os cabelos caracolados, chocolate.  Ele parecia aqueles caras que freqüentavam  academia semanalmente. A voz fina da loura, Alice, quebrou o encanto. – ...É Mateus. E, ah! Feliz aniversário!
Olhei pra ela como se tivesse engolido barata na janta.
– O que estão fazendo aqui, na minha casa? – indaguei.
– Essa não é a sua casa, é a casa de sua madrinha. Sua casa fica em Manhattan e foi vendida á um casal. E alias, a esposa está grávida! – Mateus disse aquilo, como se cuidar da vida alheia fosse normal.
– Ah! Espero que o pai não abandone a criança antes mesmo de ver a cara dela – disse sem pensar.
Alice se sentou novamente, afastando a cadeira ao lado, em um movimento óbvio de convite. Hesitei, mas fui. É loucura demais sentar a mesa com estranhos?
– Aliás, Catherine... – começou.
– Cathy. Chame-me de Cathy! – interrompi.
– Tudo bem. Cathy. Nós viemos até aqui, exatamente, para falarmos de seu pai, que a “abandonou” – ela fez aspas com os dedos ao pronunciar a palavra.
Encarei-a. Ninguém nunca falara sobre meu pai, a não ser minha mãe, mas era sempre pequenos detalhes. Por mais que eu implorasse, parecia doer dizer até o nome dele. E agora um bando de estranhos entram na minha casa com o assunto “vamos falar de seu pai, ele agora resolveu aparecer”?
– A é? Vieram trazer a mesada?
Eduardo riu, e toda a minha atenção se dirigiu a ele.
– Você é muito engraçadinha. Mas viemos pedir um favor, em nome do seu pai.
– Eu nem sei quem é meu pai. Devem ter entrado na casa erra...e como foi que entraram, hein? – disse, levantando-me e encarando todos eles.
– É por isso que viemos até aqui, pra lhe contar a verdade sobre seu pai. Agora, será que dá pra sentar e calar a boca?  – havia tanto poder nas palavras de Mateus, que eu sentei como uma idiota na cadeira. Calando-me.
– Querida – Alice prosseguiu, como se ninguém tivesse interrompido. – Acredita em Anjos?
Eles não vieram pra falar do meu pai? Eu hein...
– Sim – respondi, sinceramente.
– Acredita em Deus?
– Apesar de eu não freqüentar a igreja, sim, eu acredito.
– Acredita que possa ter existido ou existindo, filhos de anjos? – reparei que ela ficou apreensiva ao pronunciar “filhos”
– Nefilins, você quer dizer?
– Não exatamente – ela hesitou. – Se eu te dissesse que é filha de um Arcanjo, você acreditaria?
Pensei por um tempo. A pergunta era um tanto óbvio.
– Não, isso é pecado – parei um momento, estudando os rostos estranhos que me observavam. – Mas o que isso tem haver com meu pai...? Está insinuando que sou filha de algum Arcanjo tarado-pecador? Cara, vocês piraram?
Eduardo suspirou do outro lado da mesa, encarei aqueles olhos negros como a noite.
– Você é filha de um Anjo – ele anunciou, simplesmente.
De tudo que eu poderia ter dito, algo como “vou ligar para a policia, isso é invasão de domicílio”! O que disse foi:
– Isso é pecado.
Eduardo deu um sorriso zombeteiro, como se curtisse uma piada particular.
– Não quando Deus está de férias.


Por: Carol C., 
   

Cathy Lohan e os Espíritos da Morte

Sinopse: Cathy Lohan tinha uma vida normal, mesmo tendo perdido a mãe aos 11 anos em um misterioso acidente de carro e nunca ter conhecido seu pai, ela tentava seguir uma rotina saudável. Mas tudo muda no seu décimo sexto aniversário, quando encontra três estranhos em sua casa dizendo que ela era filha de um Arcanjo, e tinha uma missão e só ela poderia realizá-la. Cathy se envolve em perigos mortais. É cercada por inúmeros inimigos. Quem, afinal, Cathy devia confiar? Seria ela, quem se referia a profecia? O mundo de Cathy já não era mais o mesmo…
 Autora: Carol C.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Título: Um Dia
Subtítulo: Vinte Anos, Duas Pessoas, Um Dia.
Edição: 2
ISBN: 9788580570458
Editora: Intrínseca
Ano: 2011
Páginas: 416
Sinopse: 
Dexter Mayhew e Emma Morley se conheceram em 1988. Ambos sabem que no dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos diferentes. Mas, depois de apenas um dia juntos, não conseguem parar de pensar um no outro. Os anos se passam e Dex e Em levam vidas isoladas - vidas muito diferentes daquelas que eles sonhavam ter. Porém, incapazes de esquecer o sentimento muito especial que os arrebatou naquela primeira noite, surge uma extraordinária relação entre os dois. Ao longo dos vinte anos seguintes, flashes do relacionamento deles são narrados, um por ano, todos no mesmo dia: 15 de julho. Dexter e Emma enfrentam disputas e brigas, esperanças e oportunidades perdidas, risos e lágrimas. E, conforme o verdadeiro significado desse dia crucial é desvendado, eles precisam acertar contas com a essência do amor e da própria vida.