sábado, 26 de maio de 2012

1 - Recebo uma visita de estranhos.


Eu tenho uma vida bacana. É, pra quem tem 16 anos, só estuda, tem um carro e um namorado, pra mim, é bacana.
Eu moro em Nova Jersey com minha vó Lijia – na verdade, ela é minha madrinha, mas por ela ter 60 anos, eu a chamo de vó –, minha mãe morreu quando fiz 11 anos.
Íamos comemorar meu décimo primeiro aniversário em um restaurante no norte de Nova York. Mamãe me deixou sentar no banco de carona, eu estava linda – é, eu era uma menina bonita. – Vestia um vestido rosa com bolinhas brancas, sapatilhas pretas e meus cabelos estavam soltos, formando ondas até a cintura. Minha mãe estava uma deusa: vestia um vestido de seda azul, salto agulha, cabelos negros soltos até o ombro, a maquiagem perfeita. Nada exagerado, só casual. Linda.
– Cathy, minha querida,  você viu o presente que madrinha lhe mandou,? – ela dirigia e ajeitava o cabelo ao mesmo tempo, como se pudesse ficar ainda mais linda.
– Não – respondi. – Quando chegarmos, eu vejo. Juro.
Na verdade, nunca cheguei a abrir o presente.
Havíamos entrado em uma estrada vazia, cantávamos Beatles, extremamente desafinadas. Mamãe virou a esquina e um borrão de luz inundou nossos olhos. Só lembro do barulho dos pneus, mamãe e eu gritando e uma dor sufocante.
Mamãe não sobreviveu. E o fato de eu ter sobrevivido foi um milagre – um milagre que eu nunca queria que tivesse acontecido. – Os médicos disseram que ela morreu na hora. O carro despencou em um barranco e explodiu. E a questão era “Como eu havia sobrevivido?”. As crentes disseram que foi Deus, os médicos disseram que eu era “uma garota forte”, minha madrinha disse “foi o amor de sua mãe que te protegeu”. Sim, e eu sou Harry Potter.
Fiquei traumatizada, durante dois anos não tinha sede de viver...eu desejava a morte acima de tudo, desejava poder voltar à presença de minha mãe. Eu a queria muito. E ainda por cima, eu estava órfã. Não, eu desconheço o termo “pai”. Meu “pai” me abandonou quando soube da gravidez. Minha mãe nunca chegou a entrar em detalhes sobre ele, sempre dizia que ele era um cara legal. Bonito, mas muito, muito misterioso.  Quando ele a abandonou, ela foi obrigada a me criar sozinha. Uma mãe solteira. É, meu pai não é o melhor cara do mundo.
Agora eu tinha uma vida bacana, apesar de sentir muita falta de minha mãe, desejar todos os dias que ela estivesse aqui para dizer que tudo ia ficar bem, ainda era bacana.
O despertador gritou 06:00 horas. Espreguicei e segui até o banheiro. Banhei-me por um longo tempo, água quente sempre expulsa o sono. Coloquei o uniforme da escola (só a blusa) a calça era sempre jeans desbotado. E desci para o andar debaixo, pra tomar café com minha Lijia.
– Bom dia, – disse, bocejando.
Abri os olhos e deparei com dois homens e uma mulher, sentados a mesa da cozinha.
Congelei. O mais novo, aparentemente 17 anos, tinha os cabelos  bagunçados caindo no rosto, os olhos tão pretos quanto os cabelos. Ele vestia uma camiseta pólo branco, jeans preto e all-star. Ele sorriu, mostrando dentes brancos e saudáveis.
– Sou Eduardo McLean. E você, deve ser Catherine Lohan.
A primeira coisa que pensei foi “É da policia!”. Ninguém me chama de “Catherine” muito menos “Catherine Lohan”!
– Sou. Quem é você? – pensei que a pergunta foi um tanto idiota, e tão me referi a todos: – Quem são vocês?
– Epa! Vamos com calma Catherine – a loura se levantou (quem convidou ela a sentar?), tinha cabelos cacheados até a cintura. Vestia um vestido branco. Simples, mas elegante. Os traços do rosto eram quase perfeitos, se não fosse uma cicatriz que marcava da bochecha até o queixo. – Sou Alice Lian. E esse... – ela apontou para o homem moreno, que parecia ser o mais velho ali, uns 25 anos talvez? Seus olhos eram azuis e os cabelos caracolados, chocolate.  Ele parecia aqueles caras que freqüentavam  academia semanalmente. A voz fina da loura, Alice, quebrou o encanto. – ...É Mateus. E, ah! Feliz aniversário!
Olhei pra ela como se tivesse engolido barata na janta.
– O que estão fazendo aqui, na minha casa? – indaguei.
– Essa não é a sua casa, é a casa de sua madrinha. Sua casa fica em Manhattan e foi vendida á um casal. E alias, a esposa está grávida! – Mateus disse aquilo, como se cuidar da vida alheia fosse normal.
– Ah! Espero que o pai não abandone a criança antes mesmo de ver a cara dela – disse sem pensar.
Alice se sentou novamente, afastando a cadeira ao lado, em um movimento óbvio de convite. Hesitei, mas fui. É loucura demais sentar a mesa com estranhos?
– Aliás, Catherine... – começou.
– Cathy. Chame-me de Cathy! – interrompi.
– Tudo bem. Cathy. Nós viemos até aqui, exatamente, para falarmos de seu pai, que a “abandonou” – ela fez aspas com os dedos ao pronunciar a palavra.
Encarei-a. Ninguém nunca falara sobre meu pai, a não ser minha mãe, mas era sempre pequenos detalhes. Por mais que eu implorasse, parecia doer dizer até o nome dele. E agora um bando de estranhos entram na minha casa com o assunto “vamos falar de seu pai, ele agora resolveu aparecer”?
– A é? Vieram trazer a mesada?
Eduardo riu, e toda a minha atenção se dirigiu a ele.
– Você é muito engraçadinha. Mas viemos pedir um favor, em nome do seu pai.
– Eu nem sei quem é meu pai. Devem ter entrado na casa erra...e como foi que entraram, hein? – disse, levantando-me e encarando todos eles.
– É por isso que viemos até aqui, pra lhe contar a verdade sobre seu pai. Agora, será que dá pra sentar e calar a boca?  – havia tanto poder nas palavras de Mateus, que eu sentei como uma idiota na cadeira. Calando-me.
– Querida – Alice prosseguiu, como se ninguém tivesse interrompido. – Acredita em Anjos?
Eles não vieram pra falar do meu pai? Eu hein...
– Sim – respondi, sinceramente.
– Acredita em Deus?
– Apesar de eu não freqüentar a igreja, sim, eu acredito.
– Acredita que possa ter existido ou existindo, filhos de anjos? – reparei que ela ficou apreensiva ao pronunciar “filhos”
– Nefilins, você quer dizer?
– Não exatamente – ela hesitou. – Se eu te dissesse que é filha de um Arcanjo, você acreditaria?
Pensei por um tempo. A pergunta era um tanto óbvio.
– Não, isso é pecado – parei um momento, estudando os rostos estranhos que me observavam. – Mas o que isso tem haver com meu pai...? Está insinuando que sou filha de algum Arcanjo tarado-pecador? Cara, vocês piraram?
Eduardo suspirou do outro lado da mesa, encarei aqueles olhos negros como a noite.
– Você é filha de um Anjo – ele anunciou, simplesmente.
De tudo que eu poderia ter dito, algo como “vou ligar para a policia, isso é invasão de domicílio”! O que disse foi:
– Isso é pecado.
Eduardo deu um sorriso zombeteiro, como se curtisse uma piada particular.
– Não quando Deus está de férias.


Por: Carol C., 
   

19 comentários:

  1. Que foda! quero muito muito ler o proximo capitulo, quando sai?

    ResponderExcluir
  2. Puts! Da hora sua historia. Quando que sai o próximo capitulo? Adoreei

    ResponderExcluir
  3. Na verdade, não tenho absoluta certeza ainda. Mas talvez amanhã a noite ou segunda no comecinho da tarde =D que bom que gostaram! fico muito felz.

    ResponderExcluir
  4. Gostei muito! Quero ler o próximo capitulo!

    ResponderExcluir
  5. Adorei!!! Tu vai ser escritora, né? Que história...

    ResponderExcluir
  6. Ficou muito foda, Carol! Sério *-*

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada...eu segui seu blog. Muito fofo e lindo! Adorei.!

      Excluir
  8. adorei *O* eu quero ler o próximo! :D

    ResponderExcluir
  9. ficou simplesmente p-e-r-f-e-i-t-o! é melhor que muitos livros que eu já li só com esse capítulo, sério. você tem que fazer um livro! ou então imprimir e distribuir por ai. qualquer coisa que possa sair da internet e chegar nas mãos de todos, porque todos deveriam ser obrigados a ler esse capítulo (e essa história inteira também, mas como por enquanto só tem um capítulo...) enfim, você entendeu, não é? digo e repito: amei, amei e amei.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, não sabe como fico feliz ao ler isso! Obrigada, obrigada e mais obrigada!
      Publicar um livro? Ah, eu sou muito nova...mas quem sabe um dia quando fizer uma faculdade de letras e tenha mais qualificação? Eu posso fazer um livro inspirado nessa história. Em todo o caso, obg novamente! =D

      Excluir
  10. Muito bom! Seu jeito de escrever me motivou a ler sua historia, pois tem um ar de suspense, o que me deixou curiosa a ler ate o fim. Parabéns, esperando o próximo capitulo =)

    ResponderExcluir
  11. Oi Carool!!! Desculpa, nem conheço você, muito menos sei quem é... Mas, bom,, gostei! De verdade!Estava procurando por algo novo, na realidade, porque li bastante já e as coisas começaram a ficar muito repetitivas atualmente. Entãaaao, tenho algumas perguntas a lhe fazer, se não for muito incômodo (: Você esta escrevendo em um formato de fanfiction? Terá uma sequencia? Se sim, você pode postar o que já pensou da história aqui?? (olha, sou só uma menina comum aqui sonhando alto viu o//) Obrigadaaa!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vai sim, ter sequência, eu vou postar o próximo capítulo amanhã. E ah! Serão três "livros" é como se eu estivesse postando um livro aqui sabe? E na questão da trilogia, na verdade, não é certeza, mas dois é.
      E na sinopse já dá pra vc ter uma boa ideia de tudo...
      Obrigada você <3

      Excluir
  12. Gostei dese cap. A historia parece ser muito legal!
    Esperando pelo proximo capitulo.
    Bjos.

    ResponderExcluir
  13. pq vc e tão foda assim? :(

    ResponderExcluir
  14. ameei, quero ler o segundo ! *-*

    ResponderExcluir

Sua opinião é essencial para o blog...