segunda-feira, 28 de maio de 2012

2- A origem de tudo e um pouco mais.



     Não agüentei e cai no riso, e apesar de todos estarem com olhares e posturas sérias, como se estivessem anunciando o fim do mundo, eu ri. Tanto, que cheguei a entalar.
     – Um copo d’água. – pedi, aos entalos.
     Um copo surgiu a minha frente na mesa, peguei-o e bebi a água. Respirei fundo e  encostei-me  na cadeira, como se estivesse corrido ao lado de Usain Bolt.
     – Já parou? – perguntou Mateus, muito sério. Fiz que sim e ele prosseguiu. – Temos uma longa história pra te contar, do seu interesse. E se você rir toda a vez que dissermos algo “improvável” – ele fez aspas no ar –, vou ser obrigado a passar uma fita na sua boca.
     Eu estava de saco cheio daquele assunto. E ainda tinha de agüentar um cara folgado dizendo que ia passar uma fita na minha boca? Rá. E fora o fato de que eu ia acabar ficando atrasada para a aula de Biologia...
     Chequei meu relógio, devia ter parado, pois ainda marcava 06:00 horas. Olhei para o relógio que ficava na parede da cozinha, o meu celular, ambos marcavam 06:00 horas. Olhei para fora da janela, amanhecia.
     Levantei-me da cadeira e dei a volta na mesa quadrada, passando por Mateus segui até a janela do apartamento. Olhei para baixo e o que vi não foi nada animador. Do sexto andar dava para ver tudo que acontecia lá embaixo, desde a rua da frente, ao jardim do prédio. O bonitão que passava correndo todos os dias dando “bom dia”, a senhora do apartamento 25  que ia a padaria sempre ás 06:00 horas...o porteiro que tentava acalmar um garotinho chorão que nunca queria ir pra escola, com uma mãe que sempre usava óculos escuros (É, não importava se estava sol ou não!)... Os carros que passavam na rua da frente...o cachorro mijão...o jardineiro...tudo. Estava tudo parado. Como se alguém tivesse dado “play”. Não ouvia a cantoria dos pássaros, nem o barulho de pneus descontrolados. Ninguém gritava. Ninguém se movia.
     Vire-me e encarei os três presentes. Eu e eles parecíamos ser os únicos seres vivos que ainda respiravam, e aquilo foi assustador.
     No silencio que se seguiu, soube, apenas por encarar aqueles rostos belos, sabia que estavam dizendo a verdade. Por mais que cada palavra soasse tão improvável. O que diziam fazia sentido por tudo que já aconteceu de estranho comigo. Cada coincidência...cada persuasão...cada raiva que tive e fiz explodir coisas...fiz pessoas fazerem “favores” pra mim apenas com um olhar... tudo. Na época aquilo não parecia ter explicações, e agora elas vieram como tapas na minha cara.
     Alice deu um sorriso culpado, como uma criança que foi flagrada brincando com as roupas da mãe. Ainda sorrindo, falou:
     – Temos todo o tempo do mundo, Cathy. Sente-se.
     Dessa vez eu não fui. Encarei aqueles olhos azuis como se pudesse extrair toda a verdade deles, a raiva me dominava. Por que não paravam de enrolar e não diziam tudo em uma frase só? “você é uma aberração” serviria.
     – Por que estão todos assim...meio, congelados? – me surpreendi perguntando.
     – Tudo tem sua hora, querida – ela hesitou e prosseguiu: – Sente-se. Tenho certeza que quer saber quem é seu pai, não?
     – Ah! Vou ficar por aqui mesmo. – encostei-me na soleira da janela, cruzei os braços e encarei todos. – Vamos! Contem-me!
     A verdade é que eu estava com medo. Com medo da verdade.
     – Bem – começou Mateus, de costas para mim, ele brincava com as flores do jarro, em cima da mesa, distraído. – Seu pai sempre foi um bom...Anjo. E Cathy, você tem toda a razão em dizer que é pecado o que vamos lhe contar. E não discordamos, pelo menos eu, não. Mas ouça, por favor. – ele fez uma pausa, escolhendo as palavras certas. – Seu pai era apaixonado por sua mãe, Emma, e quando digo “apaixonado” não é como os homens aqui da Terra amam. Seu pai seria capaz de dar sua existência por Emma.
     “Na época, ele tinha um romance – por não ter uma palavra melhor: – secreto com ela. Não, sua mãe não sabia quem ele era de verdade.
     Mamãe sempre dizia que ele era misterioso, pensei. E ela morreu sem saber a verdade.
     – Como ele escondeu isso dos outros...? – não consegui pronunciar a palavra “anjo”, não me pergunte o por quê.
     – Seu pai é poderoso. É capaz de deixar qualquer Anjo ajoelhado a seus pés.
     Lembrei do sorriso de mamãe, em como ela era corajosa, honesta e encantadora, ela sabia conquistar, tinha charme e inteligência...não foi difícil imaginar um “anjo poderoso” apaixonado por ela. Qualquer um se apaixonaria.
     – E então – Alice prosseguiu com a história. –, seu pai resolveu dar uma escapadinha. Sabe? Nada demais...
     Eduardo sorriu, meio rindo.
     – Eai ele descobriu que camisinha não funciona com anjos.
     Alice fez uma careta pra ele, e me senti desconfortável a intimidade dos dois.
     – E você – Mateus se virou para mim, sério. – Nasceu exatamente no dia 11 de Novembro, de um imperdoável e atormentado 1995.
      Franzi o cenho.
     – O que a data que eu nasci tem haver?
     Foi Eduardo quem respondeu:
     – Os humanos se referem ao numero 13 um numero de azar. Mas na verdade, é o numero 11.
     – O quê? – zombei. – Só porque eu nasci neste dia?
     – Não. Não é isso – com um suspirou explicou. – Onze: o numero 1 dobrado, representaria uma cadeia de DNA. Representaria o equilíbrio também. Numero primo. É o primeiro numero que não dá pra contar nos dedos. O 11° Arcano Maior é a Justiça. E fora às tragédias...
     – 11 de Setembro. Torres gêmeas... – comentou Alice.
     – 11 de Janeiro. Terremoto no Haiti... – Mateus falou, com um olhar vazio.
     – E várias outras. – Eduardo hesitou por um momento, avaliando-me. – Deus é o numero 10, e como Lúcifer sempre quis estar acima dele...
     – O numero de sorte dele é 11? – adivinhei. – Mas...isso são apenas coincidências...rá...vão me dizer que o mundo vai acabar hoje só porque é dia 11/11/11? Fala sério! 
     Eduardo começou a retrucar, mas Alice falou mais alto, com sua voz fina:
     – Em todo o caso, você não nasceu no melhor dia. Mas isso é só uma data ruim...
     – Que nasceu uma coisa ruim – deixei escapar.
     Ela deu um sorrisinho malicioso.
     – A questão mais importante Cathy, é que achamos que você seja a criatura, perdoe-me pelo argumento, não definimos um nome certo para você ainda, mais poderosa que existi.
     Assoviei. Com certeza isso não era bom.
     – Mas – continuou Mateus. –, você pode não ser a única.
     – Hã? Meu pai andou saindo com mulheres demais? – zombei. Mas olhei para os lados, como se algum animal fosse surgir do nada e me atacar...animal?
     – Hummm – fez Mateus.
     – Seu pai, Cathy – Alice mexia nos anéis da mão (Que joalheria!), ninguém me encarava mais. Ótimo. Ai vem bomba. – Ele é o nosso querido Arcanjo Miguel.
     – Ta de brincadeira! – exclamei. – Mas que eu saiba ele é um Anjo muito importante...ele teria sido expulso do céu, não faz sentido...e eu...eu...nasci do pecado, é isso? Porque ele não caiu? É isso? Ele caiu? Foram pra isso que vieram aqui?
     Eles se entreolharam, como se compartilhassem um segredo intimo.
     – Ahn, já dissemos que Deus está...bem...ausente?
     Encarei-a. Por que de tudo que ela havia dito, aquilo soou o mais ridículo?
     – Ah, claro! E meu superpai resolveu “soltar as frangas” por ter o papai “viajando”? Muito rebelde! Agora já sei de quem puxei esse gênero...
     – Você aceitou as coisas mais rápido que imaginávamos – Eduardo sorriu, como se tivesse tirado a nota máxima na prova de física. – Mas não foi bem assim...Deus está ausente desde o término da Segunda Guerra, aquelas guerras foram vergonhosas, não é de se espantar, não é?
     Alice revirou os olhos para ele, levantou a mão pedindo silencio.
     – Os humanos têm atos terríveis e nobres. Nobres pelo amor, terríveis pelo ódio. De que adiantou todas aquelas mortes...milhares...tantos inocentes...! Preconceito, poder, desejo...horrível! – ela fez uma pausa, parecia tentar se lembrar do que estava falando antes. – Mas Deus continua falando com nós, e também com os humanos, é claro, ainda age na vida de todos. Mas ninguém sabe onde ele está, ninguém é mais punido por um pecado no céu. Tem anjos se relacionando com humanos...e já O procuramos, pensamos que ele talvez esteja na Terra, testando a todos...é imprevisível.
     Pensei naquilo por um momento. Nunca havia imaginado onde Deus morava. Sei lá, um palácio no céu? Como um mendigo embaixo de rodovias? Um rico de Londres? Mas imaginava que ao menos os anjos saberiam onde. Mas o fato de Miguel (Meu pai!) se aproveitar da ausência do seu próprio pai (Meu avô?)  era muito deplorável. Pelo menos não é algo que se chega comentando na escola. Ótimo, já sentia vergonha do meu pai.
     Fechei os olhos tentando absorver todas aquelas informações. Eu me sentia como se estivesse carregando um caminhão nas costas e tivesse que caminhar até o Canadá, em um dia.
     – Ele está agindo às escondidas – observou Mateus. Pude ver a dor em suas palavras.
     Olhei pela janela, lá fora o sol ainda nascia, exatamente como estaria às 06:00 horas da manhã. Uma parte do céu estava escura, ainda de noite. A outra clara e amarelada. Eu havia desejado a verdade por todos esse anos, e agora, três estranhos entram na minha casa (parando o tempo!) me dando-a de presente de aniversário. E não se podem recusar presentes.
     Uma lágrima morna escorre sobre minha face, sequei-a, vergonhosa. Não era isso que eu sempre quis, durante 16 anos? Eu havia me preparado para a verdade, seja ela qual fosse, e agora chorava como um bebê? Se aquilo que diziam fosse realmente verdade (E eu sabia que sim.), estava mais que comprovado que por todo esse tempo, meu pai, Arcanjo, Miguel, tarado-apaixonado, nunca se importou comigo. Mateus havia afirmado que ele era um “bom anjo” é, que fosse, mas não era um bom pai. Não se importava e não se importa comigo. Por que eu deveria me importar com a mínima existência dele?
Fixei meu olhar na única pessoa que tive simpatia ali. Eduardo brincava com o a borda do forro de mesa, até parecia uma criança perdida que não sabia o que estava fazendo ali. Sorri, meus olhos ainda transbordavam lágrimas, e aquela, com certeza, não foi a melhor imagem que ele teve de mim, ao levantar os olhos, a cabeça um tanto baixa ainda. Ele sorriu e por um momento, me senti feliz apenas por ele estar ali.


Por: Carol C.

10 comentários:

  1. OMG OMG OMG EU QUERO LER O PRÓXIMO CAPÍTULO. QUANDO SAI? ADOREEEI.

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  2. Ain que peer!* eu quero mais u.u Cara você manda muito bem, invejinha! k' zoa/ é uma inveja boa, claro :) parabéns, vc é diva! k'

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  3. porra vei, voce tem que postar o outro

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  4. você escreve super bem, carol! meu deus, fiquei com vontade de ler mais! será que a cathy vai ter algo com o eduardo? omfg. #ansiosa

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  5. (@leticiavidal_ aqui haha)
    véeeeei adorei *o*
    EU PRECISO LER O PRÓXIMO AGORA, srsly.
    Será que a cathy vai ter algo com o eduardo? Ou com o Mateus (sim né, por que eu já pensei do futuro deles dois e tal HUAHEUAHEUAH)
    Beijos ;*

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  6. ta rolando um sentimento ai né hahaha q lindinho, mas nao foi um pouco rapido demais nao? esse cap me lembrou um pouco de supernatural, e todas essas "coincidencias" como numero 11 ficou mt legal, eu tb acredito nisso. adore, poste mais *-*

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    1. Ah, rápido, achou? É que bem...eu não estou escrevendo especificamente um livro. Então eu tenho que ganhar a atenção de quem tá lendo...mas no próximo capítulo as coisas vão ficar, digamos, menos rápido, rs =D

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  7. Carol, simplismente AMEI!!
    A historia ta muito boa. E a leitura envolve, faz a gente ficar curiosa.
    Esta de parabens eim!!

    Só que quero mais, como faz?? Que tal colocar mais eim??
    Bjs

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  8. To amando essa história Carol!!!!! Sério mesmo *-*
    To curiosa tsc tsc tsc
    Continua uhu uhu

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  9. Que prftttt sua história, to curiosa também ><

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