terça-feira, 29 de maio de 2012

3- O presente de Alice Lian


     – Sam? Sei que você esta ai, Sam. São cinco horas da tarde e você está dormindo, não é? Levanta logo a bunda dessa cama...vai logo Sam!...É sério...pode colocar o pé pra fora da cama...Sam?...Sam! Tem brigade...
     – Oi, Cat!
     – Não me chame de Cat – pedi. – Isso soa tão...gato.
     – Mas você é uma gata. Certo?
     Revirei os olhos, já havia desistido de fazer com que Sam parasse de me chamar de “Cat”, e nove meses de namoro pareceu incentivá-lo ainda mais a me chamar de “Cat”.
     – Hei, preciso que venha aqui em casa.
     – Mas você disse brigadeiro.
     – Não tem comida em casa não, pô?
     Ele ri do outro lado da linha. Que risada histérica!
     – Acabo o leite condensado.
     – Existe mercado, Sam.
     – Existe a sua casa, Cat.
     Dessa vez sou eu quem dá a risada histérica. Quanta histeria.
     – Vai vim?
     – Aonde?
     – Na minha casa.
     – Fazer o quê?
     – Lembra que disse que tinha que te contar uma parada?
     – Ah, a parada que você estava tão...preocupada hoje na aula de Biologia?
     – É, Sam. Essa aí.
     Ele mexe com alguma coisa do outro lado da linha e depois diz com uma voz preocupada:
     – Cat, o que está acontecendo?
     – Não podemos falar sobre isso por telefone.
     – Está bem. Estou indo parai.
     – Obrigada, Sam.
     – Estou chegando, hein? – ele dá uma risadinha e mais barulho do outro lado. – Tchau, Cat.
     – Tchau.
     Desliga.
     Pensei no que Alice tinha dito de manhã “Conte a quem você quiser, só duvido que alguém vá acreditar, não é?”. Joguei o travesseiro do outro lado do quarto. Ainda de meia, fui até o som, escolhi um CD que eu mesma havia feito, escolhendo as melhores musicas do “momento”. Encaixei o CD. Perfeito! It’s Not Over começou a tocar, me joguei no tapete macio e pensei.
     Será que se eu contasse tudo pro Sam, ele acreditaria? Acreditaria que eu era uma aberração? Talvez ele terminasse comigo, afinal, quem ia querer Miguel como sogro? Eu ainda não havia aceitado muito bem o fato dele ser meu pai. Apesar do que Mateus havia me dito, quando perguntei por que Miguel nunca veio me visitar, mandar lembranças...qualquer coisa que um pai normal faça. O que ele disse, me fez ter outra imagem de Miguel.
     – Ah! Cathy, acredite, ele sempre te protegeu. Mas ele te escondia, sempre te escondeu, ninguém podia saber, você seria uma bela isca pra uma...armadilha. – Ele fez uma pausa, parecia pensar se contava o que estava na ponta da língua. – Lembra do acidente? O que matou sua mãe?
     Fiz que sim com a cabeça, ele prosseguiu, cauteloso.
     – Foi ele o milagre que te salvou. Eu sei, sua mãe...mas não o julgue mal. Ele tentou, mas quando ele chegou lá, no local do acidente, já era tarde demais, sua mãe estava morta e você estava tão perto da morte...a “querida filha de Miguel” morrendo em um acidente de carro! Então ele te devolveu a vida, te curando.
     – Isso...não...não era certo. – gaguejei.
     – Não, ele inverteu o seu destino. Era pra você ter morrido naquele dia Cathy, naquele acidente de carro. Nem deveríamos estar falando com você. Você deveria estar morta. Morta.
     Suspirei, agora tocava What About Now e a musica estava me fazendo chorar. Depois de tudo que haviam me dito, de todo aquele sobrenatural, ainda tinha o fato de “Cathy, você deveria estar morta.” Why?

     Tocou September, All In, Walk, Basket Case, e nada do idiota do Sam.
     – Cadê aquele imbecil? – murmurei pro teto. Levantei-me, cambaleante, seguindo até o banheiro e a campainha tocou.
     – Oh! Até quem fim, Sam! – gritei da porta do banheiro.
     Fui até a porta. Espiei pela fechadura para checar que não era nenhum outro estranho do outro lado. Mas era só o Sam; com aqueles olhos carinhosos olhando pro nada.
     Abri a porta sorrindo e ele me recebeu com um apertado abraço. Longo até demais.
     – Sam, pode me soltar ta? Não faz nem algumas horas que a gente se viu...
     – Eu sei. É que eu estava com saudades de você. – Ele se vira e me observa, preocupação exagerada, como sempre.
     – Entre.
     Ele entrou desajeitado e o levei até o meu quarto. Sam sempre foi o meu “melhor amigo bonitão”, até a sexta série ele era só um amigo, então chegou a sétima e ele se apaixonou. Na oitava, no primeiro colegial... Ele era apaixonado por mim – e ainda é – mas não assumia. Mas nenhum homem sabe esconder seus sentimentos, e ele sempre me elogiava, mesmo quando me pegava acordando de uma “soneca” à tarde. “Você sempre está linda” ele dizia. E eu pirava, é claro. Mas então, há nove meses atrás ele resolveu tomar uma atitude. Comprou-me chocolates caríssimos, um buquê de tulipas vermelhas e deixou na minha porta. A campainha tocou às 3 da manhã de um sábado, eu estava dormindo, mas milagrosamente, fui e atendi. Não sei como o porteiro deixou ele entrar àquela hora, deve ser por que ele sempre o conheceu. Enfim, abri a porta e me deparei com todo aquele presente, no meio das flores havia um cartão, e numa caligrafia que conheci imediatamente, estava escrito:

"Sei que é patético Cat, mas quer namorar comigo?
      Sam."

     Eu sei, bizarro. Mas quando olhei para frente ele estava lá, encostado na parede do corredor, com seus olhos esverdeados brilhando, um sorriso irônico que eu tanto amo, com suas roupas bad-boy, os cabelos loiros bagunçados e mais tulipas vermelhas. Eu não me lembro de ter sido tão feliz por ser acordada às 3 da manhã de um sábado.
     E até hoje tulipas vermelhas aparecem do nada na frente da minha porta, sem cartão postal, mas bem óbvio.
     Ele passa o braço na minha cintura e beija o alto da minha cabeça, enquanto eu lembrava daquele dia, sorrindo.
     – O que foi? – ele sorri também.
     – Nada, é que bem...estava me lembrando do dia em que você me pediu em namoro...
     – Do cartão ridículo...
     – Das tulipas vermelhas...
     – Eu havia bebido muito naquele dia...
     Parei. O que foi que ele disse?
     – VOCÊ SÓ ME PEDIU EM NAMORO POR QUE ESTAVA BÊBADO, SAM?
     Ele me olha confuso e depois faz  uma expressão “Ah! Entendi!”
     – Não. Não é isso. É o cartão...o cartão ridículo.
     – Que tem ele? – digo mais calma.
     – Eu só escrevi daquela forma porque eu estava bêbado. E você sabe, eu teria sido mais caprichoso se não estivesse.
     Ah! Era isso.
     – Ahn, saiba que ainda o guardo na minha “gaveta especial”.
     Nos sentamos na cama, ele deita e cruza os braços por trás da cabeça. Hmmm...
     – Não acredito – ele ri. – Foi tão...patético!
     Nós rimos, mas logo eu paro, já lembrando o por quê de eu tê-lo chamado ali.
     Ele para também, notando minha quietude. Puxa-me para o lado dele, e deito em seu peito enquanto ele passa novamente o braço na minha cintura.
     – Hei, já pode me contar. Ok?
     E eu conto. Tudo. O tempo parando, Mateus me contando quem era meu pai, como ele era. Alice me dizendo que eu era uma “criatura” e até mesmo a falta de educação de Mateus. Conto a ele sobre a história de Deus estar “ausente”. E Sam ouve sem me interromper, apenas concordando e encorajando-me a continuar.
     Quando conto a ele sobre como Miguel me salvou ele me olha incrédulo, principalmente quando digo que eu deveria ter morrido.
     – E antes de eles saírem, Alice me entregou isso.
     Levantei-me e fui até a mesinha de cabeceira, abri a primeira gaveta e tirei de lá um livro com capa de couro, fino, mais ou menos 100 páginas.
     Entrego a Sam, ele o folheia e me olha incrédulo.
     – Mas está em branco! – exclama.
     – É, ela me disse exatamente isso antes de sair “Estou muito ocupada nesses dias Cathy, está um caos no céu e não posso ficar por muito tempo aqui na Terra. Mas preciso que vá me visitar amanhã, meio dia.” Fiz a pergunta óbvia: Como? Ela disse “Escreva meu nome, Alice Lian, no livro e ele te levará.”
     – Como é que é?
     – É isso mesmo que você ouviu, ela disse isso como se estivesse dizendo “aqui o numero do meu celular, me ligue.” Fala sério!
     Ele sorriu e me abraçou. Sua boca estava no meu cabelo quando falou.
     – Eu acho que eu deveria ir com você, não?
     Afasto-me, e o encaro. Perplexa.
     – Então você acredita em mim?!
     – É claro que sim! E alias, sempre achei que você não fosse normal...
     Sorrio como uma boba pra ele. Sam me beija e esqueço de tudo, de Alice, de anjos, de pai maluco, de tudo...ele se afasta, cedo demais. Acaricia com o polegar meu rosto, desde perto da orelha até o queixo, que ele segura com firmeza. Beija-me de novo e sussurra entre um sorriso, que eu já sabia muito antes de ele falar o que era.
     – Brigadeiro?
     – De novo!
     – Nós só fizemos brigadeiro semana passada!
     – Sam, hoje é segunda.
     – Brigadeiro? – pergunta de novo, dessa vez com um charme meloso na voz.
     – James Blunt?
     – Quê?
     – Brigadeiro e James Blunt.
     – Vamos comer James Blunt?
     – Não, Sam! Pelo amor de Deus!
     Nós rimos, histericamente novamente.
     – O.k.
     – O quê, Sam?
     – James Blunt...
     – Vai comer o James Blunt, é?
     – Cat!
     – Vai...mas você faz o brigadeiro.
     – Nós fazemos o brigadeiro.
     – Ecaaa! Que meloso que vai ser isso.
     – Então tire o James Blunt! Você está viciada nesse cara!
     – Sam!
     – Coloque...hmm, Green Day! É o melhor.
     – Não sei.
     – Vai? – Ele faz cara de gato abandonado que sempre me faz mudar de ideia, por qualquer coisa. E cedo na hora.
     – Ok, ok. Vá logo para o fogão.
     – Yeah! Hei, tem Coca?
     – Tem, Sam. Esqueceu que está na minha casa?
     Empurro-o da cama, ele cai de barriga no chão, xingando, mas rindo. Levanto em um salto, feliz por poder contar com ele, por saber que mesmo eu sendo uma aberração, ele está do meu lado.
     Corro até a cozinha, pulando e tropeçando em tudo pela frente. Enquanto Bruno Mars canta lá do quarto, na sua voz perfeita...
“When I see your face
There's not a thing that I would change
'Cause you're amazing
Just the way you are”

8 comentários:

  1. (@leticiavidal_ aqui)
    aaaaaaaaaaaaaaaaaawn
    eu vou morrer com tanta fofura *-*
    sério, eu adorei o sam, ele é tão.... awn
    E ELE AMA BRIGADEIRO, AWN, QUE FOFOOO
    morri com o capítulo vdd/
    mal posso esperar para o próximo!
    Beijos
    P.s.: eu quero um sam pra mim x.x

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  2. q lindooooooooooooooooooooooo omgggggggggggggggggggggggggggggg

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  3. que liiiindo *-*
    ai deus, mt lindo meeesmo. maais :(

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  4. Nossa muuuito boa a historia, sua irmã me enviou um e-mail pelo Skoob falando sobre a história e me pedindo para visitar o blog, e não me arrependo de ter visitado
    O Blog é otimooo e a historia é linda super interessante
    Me tornei um grande fã
    Estarei sempre aqui conferindo novos capítulos
    Super ansiosa pelo próximo capítulo
    bjss

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  5. Carol nessa parte ''Sorrio como uma boba pra ele. Eduardo me beija e esqueço de tudo, de Alice, de anjos, de pai maluco, de tudo...ele se afasta, cedo demais. Acaricia com o polegar meu rosto, desde perto da orelha até o queijo, que ele segura com firmeza. Beija-me de novo e sussurra entre um sorriso, que eu já sabia muito antes de ele falar o que era.'' ela beijou o Eduardo ou foi o Sam ou eu estou errada ? desculpa ai sendo chata corrigindo e é queixo não queijo rsrs

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    1. Ai meus deuses...tem toda a razão! Mas é que às vezes eu me empolgo tanto com a história que eu digito até os nomes errados...e nesse dia eu tinha que terminar rápido porque não ia dar tempo de postar...e queijo! HUAHAUSHAUHSUAHS eu escrevi 19872281287² queijo no lugar de queixo.
      Desculpe, desculpe, desculpe pela minha tolice...e obrigada pela observação, isso mostra que é um leitora observadora <3
      Eu arrumei já =D

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