quarta-feira, 27 de junho de 2012

14- Aprendo a não chutar o chão


Cambaleei em frente ao Departamento dos Anjos da Guarda, aborrecida por meu estomago ter ficado em Nova Jersey e feliz por ter conseguido viajar nas sombras.
Eu sei, você deve estar pensando: “Como?” Eu disse que não sabia? Mas é que eu não tinha um objetivo, nem sei como tomei  a iniciativa, só queria. De repente eu queria ir pro Departamento, desejei de toda a minha alma e fui. Bem louco, eu poderia ter deixado metade do meu corpo lá, ou qualquer outra coisa ter dado errado. Isso eu sentia que descobriria depois.
Entrei no Departamento, o pequeno saguão que antes era cheio de anjos, agora estava vazio. A secretária olhava tristemente pro computador, pensei o que de ruim teria acontecido dessa vez. Caminhei até a mulher.
– Oi? Gostaria de falar com Alice Lian.
A secretária mal olhou pra mim, apontou para o elevador no fim do corredor e segui até lá, me recordando como chegar à sala de Alice. Marquei para ir ao quinto andar, enquanto o elevador subia escolhi uma playlist “a minha cara”. Como estava ouvindo Maroon 5 até alguns segundos atrás, resolvi ouvir a banda. E cantar baixinho.
O elevador parou no quinto andar e segui o corredor familiar adiante. Na ultima porta hesitei. Bati levemente e uma voz fina e feminina do outro lado me deu calma e segurança, apesar de eu não gostar muito disso. Abri a porta e Alice estava atrás de sua escrivaninha, mexendo com alguns papéis. Quase corri para abraçá-la. Ter voltado no tempo me deu incerteza sobre tudo que tinha acontecido, e vê-la ali, atrás da escrivaninha me fez ter absoluta certeza que sim, tudo era verdade.
– Lohan. – Seus olhos azuis ardiam de curiosidade.
– Lian. – Cumprimentei,  mantendo o olhar.
Alice sorriu e gesticulou para que eu sentasse a sua frente, aceitei com outro sorriso.
– Então, o que te leva aqui? – Alice mexeu em seus cabelos loiros e cacheados e ajeitou o vestido, que era tão rosa que ardia o cérebro. – Não deveria estar atrás das espadas?
Levantei ligeiramente uma das sobrancelhas, um pouco parecido com Kristen.
– Não se faça de desentendida. Sabe o que me leva aqui.
– Não, eu não sei. – Retrucou, numa falsa voz de sinceridade.
– Alice, eu voltei ao passado me esquecendo de tudo. Tudo. Sofri um acidente de carro porque uma coisa estranha fez o carro onde eu estava capotar. E tudo isso na madrugada de ontem.
Ela joga a cabeça pra trás e ri, um riso controlado, do tipo “sou uma dama, tenho que rir como uma dama”. Por ai.
– Ontem, Cathy? Sabe que dia é hoje?
Hesitei.
– 11 de Novembro.
– Hã? – Alice cravou seus olhos azuis em mim, me fazendo parecer uma criança mal criada. – Pelos arcanjos, o que aconteceu com você? Hoje é dia 12. Doze. De. Dezembro.
Arfei, quando foi que isso aconteceu?
– Ah, meu Deus! Não pode ser verdade! Por que? Era dia onze porque voltei no tempo e...
– Quando você voltou no tempo, o dia certo continuava a transgredir aqui no céu. Só você e as coisas que te cercam voltou. Portanto, enquanto pra você era dia onze, aqui para nós era dia vinte e quatro. De Novembro. Agora ter perdido dias do mês, isso só poderia ter acontecido se você...Ah...Ahhhhh! Como você é idiota garota!
– Eu o que?
– Viajo nas sombras, não é? Sem experiência alguma, é claro.
– É claro o que? Diz logo!
Alice deu um suspiro longo e começou a me explicar. Juro que arrancaria aqueles cabelos se ela não falasse logo.
– Você nunca tinha viajado nas sombras antes, e quando se viaja pela primeira vez, bem...algo pode dar errado. Como uma parte de você ficar para trás ou o mais comum de todos: demorar dias para chegar no lugar desejado. Lohan, você é muito tonta. Queria-se falar comigo, era só me convocar.
– Eu não sabia. – Confessei. Alice se levanta de sua cadeira e começa a circular pela sala, e isso me lembra muito Eduardo. Antes que ela pudesse falar alguma coisa, pergunto. – E Eduardo? Kristen? O que aconteceu realmente, Alice? Por favor, me diga. Não suporto mais isso, Alice! Estão brincando comigo. Brincando com meus sentimentos e com a minha vida. Essa missão não esta levando a lugar nenhum, só sinto que estou chegando perto de ser totalmente destruída...por favor, me diga tudo. Tudo. Não me esconda nada. Imploro-te.
A piedade – não fingida – é obvia nos olhos de Alice. Ela podia ser arrogante da maneira que quisesse, mas ela estava do meu lado. Isso era certeza. Alice se sentou no chão e apoiou a cabeça na parede, um pouco acima dela Alices sorridentes emolduravam os retratos.
– Eduardo foi muito cavalheiro com você. Não o culpe e não o julgue. Naquele dia em que você voltou no tempo e perdeu a memória, aconteceu o seguinte: Eduardo sentiu a presença de grandes anjos por perto. Ele sabia que seriam capturados e toda a missão falharia. Não tinha nada haver com os sentimentos que ele sente por você, ele só foi um pouco dramático na declaração mas...Eduardo fez isso pro seu próprio bem. E pra te proteger dos anjos que ele sabia que iriam atrás de você – ou você iria atrás deles –, apagou sua memória. Foi uma atitude um pouco irresponsável, você poderia continuar sua vida sem saber de nada e o mundo entrar num apocalipse, mas na hora ele nem pensou direito. A pessoa que ele mais amava no mundo estava à beira de ser capturada e destroçada em pedaços. Então ele te mandou pro passado, apagou sua memória e os anjos o capturam. A ele e a Kristen. Agora Zacarias esta os mantendo preso no castelo principal do império, esperando por você. Kristen e Eduardo são as iscas que Zacarias está usando para capturá-la. Sinto muito. Não vou poder te ajudar.
Tentei absorver toda aquela afirmação, o que era difícil quando Alice estava chorando bem na minha frente. Ajoelhei-me e a tomei nos braços.
– Por que? – perguntei. – Por que não pode me ajudar?
Ela respondeu entre um soluço e outro.
– Arrancariam minhas asas e me jogariam na terra até o dia do juízo final. A minha melhor escolha é continuar com meu serviço e não ficar em nenhum dos lados. Notou que o céu esta vazio? Nas ruas já não tem mais anjos circulando, o Departamento está vazio e os anjos da guarda já não guardam os humanos. Os arcanjos estão reunindo exércitos para lutarem um contra o outro, ninguém esta se lembrando que Lúcifer esta prestes a se reerguer. Você é nossa única salvação. E tem que ir sozinha, porque...porque eu não posso ir contigo. Se for capturada arrancaram minhas asas...não suportaria isso. – Alice se vira pra mim, envergonhada. – Cathy, eu sou uma fracassada. Medrosa. Não sou guerreira como você. Não tenho coragem de deixar toda a minha vida em casa e sair pra salvar o mundo, como você. Perdoe-me.
– Alice, tudo bem. Só que odeio ter que dizer isso, mas...se o mundo acabar mesmo, se o apocalipse em fim acontecer então, de que adiantaria sua vida? Terá que escolher entre os arcanjos ou a nós, loucos que querem salvar o mundo. Vai ter que escolher, Alice. Sabe que vai.
Alice fungou e limpou as lágrimas do rosto, encostou as costas na parede e me olhou pelos cantos dos olhos.
– Você é inteligente, garota. Pode ser bem bobona por andar com uma blusa escrito “me gusta” por ai e ouvir Maroon 5 enquanto milhares de anjos estão a sua procura, mas é inteligente. Sábia e corajosa. Não me surpreendo que Eduardo esteja amando você loucamente e...
– Alice.
– Oi?
– Você gosta do Eduardo?
Ela me encarou como se eu tivesse jogado um tijolo na sua cara.
– Cathy eu...é, sou apaixonada por ele há um século. – Sorri, nem se comparava ao tempo que eu gostava dele. Garoto chato, mas disputado. – Mas ele gosta de você, não de mim. Isso é bem óbvio não? O que ele fez por você...Uma grande prova de amor. Ele já ta encrencado, aproveite e viva um romance ao lado dele esta bem? Ele merece. Vocês merecem.
Eu já sabia que Eduardo estava afim de mim, é incrível como homens não conseguem esconder os próprios sentimentos. Mas ver Alice falando era totalmente diferente, como se a verdade viesse à tona e me deixasse no chão, perplexa.
– Sinto muito. – Digo. – Não era minha intenção, sabe que não.
Ela sorri desconfortável e se levanta, fungando alto.
– Você deve ir salvá-lo. Mesmo que isso seja a intenção de Zacarias e tudo seja uma armadilha, você deve ir. E eu não posso ir contigo. Desculpa, não sou nem um pouco corajosa.
Senti uma pontada de raiva em relação à Alice, o mundo estava acabando e ela não queria levantar a bunda da cadeira? Ótimo, eu estava pronta pra me jogar das cataratas do Iguaçu.
– Tudo bem, eu vou. – Fico novamente em pé e olho para porta, tinha que pedir um favor antes. – Antes quero que faça algo por mim, o.k.? – Alice assentiu. – Tem como você saber se Lucia Cosmin esta...viva? E Lijia, como ela esta?
Estava temendo até demais a resposta. Alice franziu o cenho, pensou um pouco e disse:
– O acidente não aconteceu realmente, você voltou para o presente e tudo que aconteceu antes não foi mais que obras da sua cabeça. Pra todos você esta no México. Como tinha dito pra Lijia quando partiu a França.
– Como...como eu voltei ao presente? – gaguejei.
– Não há como inverter o tempo no céu ou confundi-lo. Quando veio para cá, você se acertou com o tempo. É complicado de explicar. O importante é que esta de volta, e o solstício de inverno esta chegando.
Um peso a menos na minha consciência. Não tinha feito mal algum a Lucia e nem a minha .
– O solstício, é claro! Minha espada, onde ela esta?
– Com Kristen, onde esta aprisionada. No grande castelo. E duvido que tenham a pegado, Kristen tem bons truques para esconder objetos...Como nas histórias que os egípcios guardavam suas armas no Duat e...ahhh, isso não é importante. Você deve ir. E já!
– Hã... – Comecei a ir direto pra porta. No caminho me virei pra Alice. – Sabe que ajuda é sempre bem vinda não sabe? Eu estou indo não sei pra onde enfrentar não sei o quê. E nem sei pra onde começar...e...Aliás, como sabe de tudo isso? Sobre Lucia, , Kristen e Eduardo?
– Sou um anjo da guarda, Lohan. Tenho todas as informações precisas do que acontecem com os humanos. E Kris e Eduardo? Bem, todo o céu sabe o que aconteceu com eles. A data para os jogarem na terra e arrancarem suas asas já esta marcada. “Uma traição” é o que estão dizendo por ai. Agora, venha aqui. – Fui até ela e fiquei em sua frente. – Quando eu tocar seu rosto te mandarei direto pro castelo, por perto pra não ter perigo. Lá terá que lutar, com certeza. Ou vai ser esperta o suficiente pra entrar escondido e ninguém te ver? Duvido. – Alice mexeu em seus cabelos loiros e depois se dirigiu a um dos quadros, tocou-o e o quadro moveu-se como uma pequena porta. Ali dentro tinha uma bolsa pequena e cinza escura, podia ser útil pra guardar uns óculos e um batom – só.
– O que é isso? – Perguntei.
– Vai ser necessário pra sua ida ao império.
– Vai? – Olhei pra bolsinha pequena que Alice estava colocando no meu ombro. No que aquilo poderia ser bom?
– Ela te dará tudo aquilo que precisar.
Suspiro. Odeio mistérios.
– Obrigada, obrigada. Acho que tenho que ir agora, né?
Alice sorri e toca meu rosto, mergulho na escuridão que é viajar nas sombras – perdendo os sentidos e a respiração. E apareço em um bosque cercado de árvores imensas. E quando digo “imensas” é imensas mesmo. Tipo aquelas que você tenta olhar aonde termina mas não vê nada. A não ser o tronco e as folhas. O céu estava coberto pelas tais árvores, mas podia jurar que estava azul.
Olhei ao redor, um silêncio tão calmo e aconchegante que fiquei imaginando por quê eu não trouxe um livro comigo. Seria bom ficar ali lendo e esquecer da vida...mas Kristen e Eduardo estavam em perigo, por quase a minha culpa. Eu tinha que ir lá.
Dou um longo e cansado suspiro de quem diz “Ok mãe, já estou indo arrumar a cama” sabendo que a cama não ta só desarrumada, mas virada de cabeça pra baixo.
Tento espiar através das árvores. Pra que lado sigo? Sul, Norte, Oeste ou Leste? Minha mãe mandou eu escolher esse daqui...ta, eu já to parando. Resolvi seguir para o...esquece, nunca entendi muito de pontos cardeais. Resolvi seguir para o lado. Meus pés batiam das folhas secas que caiam silenciosamente de suas árvores, poderia ser primavera, ou até mesmo inverno...no Céu é tudo louco, isso eu te garanto.
Passei por mais árvores iguais, a um certo ponto comecei a ouvir o cântico de pássaros, o que quase me fez sentar pra realmente dormir. Alice disse que me mandaria para perto do castelo, império ou sei lá o quê. Estava parecendo mais que ela me mandou pra cidade vizinha, ou o país vizinho...ou o fim do mundo. Ou por ai.
Enquanto andava tentei raciocinar sobre que Alice disse: tudo que aconteceu durante a época que eu estava no passado foi inexistente a partir do momento em que eu voltei para o futuro [corrija-me se eu estiver errada]. Até ai, nada mal. Pelo menos não até um certo ponto...e aquela ave? Tudo bem que não aconteceu de verdade mas aquilo era muito real. Não podia ser só coisa da minha cabeça, alguém estava atrás de mim e querendo me destruir (O que, vendo por um certo ponto, não é uma novidade.). E tinha também o cartão de Eduardo, que eu sabia que era dele... “Um dia, quando o céu estiver desabando; Eu estarei ao seu lado; Nada nunca ficará entre nós. Pois eu ficarei ao seu lado.” Sim, isso é muito fofo: se declarar via uma letra de musica. “O céu desabando”? Isso já não era tão fofo. E é claro, tinha a profecia. Que me chamava de deusa...mas eu era de fato, uma deusa?
Das mais malucas, sussurrou uma voz irritante na minha cabeça. Dei de ombros pra mim mesma.
Na profecia dizia: “Filha do pecado...” Se referia a mim, obviamente. “A Morte a ti espera.” Isso naturalmente já aconteceu, pois no mesmo dia eu fui falar com a Morte. “Terá aquilo que necessita, mas do que adiantará?” Isso me intrigava, eu tinha a primeira espada, mas não todas. E isso não significava nada já que eu precisava das três, então...ainda não aconteceu. “Estará cercada pelas trevas” isso podia ser do fato de todos os arcanjos estarem ao meu redor ou algo parecido. “Do anjo, as portas da vida se abrirão.” E para ai. Quando viajei nas sombras pra falar com Alice, pensei que ela teria todas as respostas e não sei, abriria uma porta para o futuro? Mas eu já tinha ido para o futuro no momento em que vim para o céu, então bem...acabou que não tinha nada haver uma coisa com a outra. E eu não fazia a mínima ideia de quem se referia o anjo. E portas da vida, isso fazia os pelos da minha nuca se arrepiarem.
E talvez a profecia nem se referisse a mim. Eu não tinha habilidade nenhuma pra salvar o mundo, nem pra salvar meus amigos que eu pensei que tinham desisto e me enganado.
O fato era que eu estava confusa, por todos os sentimentos e duvidas me cercando. Não sabia em quem confiar e o tempo todo eu me sentia perdida. Sem fazer parte nem do mundo dos humanos ou dos anjos. Afinal, eu era uma nova criatura que tinha sido criada. Não era um nefilim – por não ser filha de um anjo caído com uma humana, meu pai ainda era um arcanjo apesar de ter pecado contra sua natureza. Bufei, Miguel era considerado tão importante e fazia isso? Decepcionante.
Cheguei perto de um pequeno lago: tão calmo e sereno que me deu vontade de chorar. Por que? Por que minha vida não era tão serena quanto aquele lago? Por que tudo não podia ser mais simples e toda a salvação do mundo não estivesse em minhas mãos? Chutei o chão com toda a minha força, fiquei ali arfando e olhando o buraco que havia feito: estraguei a grama. Eu só prestava pra estragar as coisas.
O chão começou a tremer de repente, escorreguei de surpresa e cai em cima do pequeno buraco que havia feito no chão, este cedeu e cai levando toda uma multidão de terra. Gritei em desespero quando fui inundada por terra fresca...eu não parava de cair.
Quando pensei que a queda fosse eterna, bati com as costas em chão fresco. Sem terra caindo em cima de mim. Um humano normal teria se quebrado todo, mas eu não sou normal. Uma dor aguda foi tudo que senti no corpo. Respirei fundo – o que era difícil por estar no subterrâneo. Olhei a minha volta, um túnel escuro me chamava de um lado, do outro uma parede de pura pedra dizia “tchau”. Sem muitas escolhas, observei.
O túnel estava escuro, fucei a bolsinha de batom – que surpreendentemente por dentro era maior que uma bolsa escolar, lá continha uma única lanterna. Peguei-a e segui túnel adentro, não tendo muitas alternativas.
Tropecei algumas vezes [Oh, não me diga Cathy?]. O túnel parecia não ter fim, e contando a caminhada no bosque e a que já tinha feito no túnel, meus pés iriam falhar a qualquer hora.
Um ar gélido me cercava, e eu tremia de frio e medo. Não sabia onde estava e aonde o túnel daria, estava cansada e não podia parar pra descansar, pois o túnel dava medo. Fuçei a bolsa atrás de qualquer coisa, mas ela estava vazia. Fiquei pensando se a única coisa que tinha ali era uma lanterna ou se eu pensasse com clareza no que precisasse apareceria o objeto na bolsa.
Cheguei a uma parte do túnel em que eu tinha que escolher entre três caminhos: uma encruzilhada. “Minha mãe mandou” não ia ajudar em muita coisa ali, eu teria que fazer uma escolha difícil, se eu errasse poderia parar em qualquer outro lugar...ou me perder.
E eu não queria ficar aprisionada ali pra toda a eternidade. E nunca tive sorte com a questão “escolha uma dessas” sempre escolho a errada. Escolhas determinam toda a sua jornada, um passo errado, e toda a minha vida, de Eduardo e Kristen, estariam acabadas.


Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.

sábado, 23 de junho de 2012

13- Nunca ignore um taxista: ele pode ser sua salvação.


Uma boa noticia: eu havia recuperado minha memória.
Má noticia: centenas de anjos estavam a minha procura.
Uma pessoa como eu já devia estar acostumada com o azar. Mas é inacreditável: perdi minha memória, voltei no tempo, Kristen não da noticias e uns bandos de anjos assassinos estavam a minha procura. E pior, eu ainda não tinha a menor ideia do que havia feito o carro capotar. De uma coisa eu estava certa: não era uma ave. Um anjo? Talvez. Ouvi boatos de que humanos não podiam ver as asas dos anjos. Boatos. Humanos.
E isso não tinha nada a ver comigo.
Eu estava irada. Tipo, Eduardo me joga no passado por simplesmente gostar de mim e eu nem sequer pude reclamar! Teria uma boa conversa com o senhor McLean quando o vise. Primeiro eu tinha que fugir daquele hospital e dar um jeito de voltar para o futuro [Voltar no futuro, veja bem aonde fui parar]. Zacarias havia dito que eu era uma criança birrenta que não sabia fazer nada, mimada e filhinha do papai. [Eu sei, não foi tudo isso, mas é pra dar um toque de emoção no discurso em geral.] E aquele sonho estranho. Talvez fosse só mais uma perturbação, invenção da minha cabeça. Eu afinal, sempre fui criativa.
O.k., agora é sério. Eu tinha que fugir do hospital e arranjar um jeito de concertar as coisas, por mais que eu não soubesse nem onde estavam meus chinelos.
Olhei por todo o quarto a procura de algo que pudesse me ajudar a sair dali – uma janela ou coisa parecida –, havia uma, mas com grade. Eu poderia quebrá-la e ir voando...nossa, nada inteligente. Pensando melhor, a ideia de aparatar (como diz Harry Potter) era mais fácil. Só tinha um problema: eu não sabia viajar nas sombras.
Suspirei, indignada.
Meu corpo não doía, apesar do acidente, e eu me sentia bem. Vistoriei todo ele atrás de algum machucado ou algo parecido: nada. Se raiva fosse dor, estaria cheia dela.
– Merda. Merda. Merda.
Ao lado da cama tinha uma mesinha, contendo roupas jogadas ali.
Sorte, pensei. Você veio!
Vestia uma daquelas roupas de hospital: uma coisa nomeada vestido. E azul doentio. Eca! Peguei a calça jeans e a blusa branca. Por sorte era uma das minhas favoritas, que tinha escrito “me gusta” bem grande. Me gusta. A única coisa ruim é que não achava meus chinelos dos memes, isso era chantagem com minhas emoções.
 Não sabia quem tinha deixado as roupas lá, que dia era hoje, se eu tinha perdido meu aniversário e por quê eu não estava machucada; mas resolvi ir ao banheiro tomar um banho e arrumar meus cabelos. Que infelizmente estavam grandes. Eu os queria pequenos, e queria meus óculos. E queria minha vida de antes.
Antes quando tudo era normal ou antes, quando conheci Eduardo? Definitivamente, não fazia ideia.
Uma coisa era certa: eu esganaria e faria de Sam, picadinhos. E Eduardo também, é claro.
Se eu estava me gabando por ter um namorado humano e um anjo apaixonado por mim, esquece, não estou mais. Magoada, angustiada, furiosa era pouco pra expressar minha situação com eles.
No banheiro me joguei em baixo do chuveiro. A água estava quente e maravilhosa, e isso poderia me ajudar a pensar com clareza.
Kristen e Daniel ainda eram meus anjos da guarda. Disso eu sabia. Eduardo teria me lançado no passado por razões sentimentais, ou ele pressentira algo ruim e tentou me proteger? E se tudo fosse um truque para roubarem a espada da Morte? Talvez eu não devesse confiar em mais ninguém daqui para frente. Confiei de corpo e alma e me traíram. Eu era uma tonta que achava que podia confiar em qualquer um assim, sem mais nem menos. Que qualquer um que batesse na minha porta fosse bom o suficiente pra eu me entregar, por inteira. Desde os anjos até o mais miserável humano. Nada. Ninguém merece confiança, ninguém mais parece digno a isso.
Fiquei mais alguns minutos embaixo do chuveiro, sai e vesti as roupas que estavam jogadas no chão. Encontrei meu All-star preto surrado no quarto, um pouco escondidos ao lado de um pequeno armário. As coisas estavam muito fáceis. E já tinha aprendido que nada é fácil na vida. Definitivamente suspeito.
Calcei os tênis e voltei ao banheiro. Estudei minha imagem no espelho: cabelos grandes e sem óculos, não era eu. Se eu tivesse um poder para me transformar no que quisesse – fisicamente. Não fechei os olhos, apenas desejei meus cabelos curtos. Uma névoa prata e brilhante envolveu todo o meu cabelo. Pisquei, surpresa, e já havia desaparecido. Meus cabelos curtos e repicados tomavam o lugar. Sorri e estendi a mão, desejando meus óculos, a luz prata apareceu na minha mão e desapareceu. No lugar, óculos redondos e meios quadrados iluminavam e chamavam-me. Coloquei-os e dei uma piscadela pra minha imagem no espelho. Se algum trouxa por ai pensou que brincaria comigo e eu ficaria chorando pelos cantos, sem ação alguma, estava completamente enganado. Jogaria meus cabelos para trás , ajeitaria meus óculos e enfrentaria o mundo. Já disse que não posso morrer? Pois é, não posso. Tudo bem que estava sem namorado e sem informação nenhuma. Sem muita coisa que podia ajudar e até mesmo sozinha – eu sei, nasci pra ficar sozinha pro resto da vida. Mas eu não me importava. Pelo menos era isso que eu queria: não me importar. Sentimentos era para os fracos, eu iria desligá-los e seguir em frente, como uma máquina mal feita.


Passei pelo corredor, ninguém me notou ou tentou impedir-me. Segui até o elevador e desci até o primeiro andar, lá também foi de boa – tudo muito fácil. O porteiro teve a educação de me dar um “alô” breve quando passei, sorri meio apreensiva e resolvi fazer a pergunta óbvia e vergonhosa.
– Oi...é...senhor, poderia me dizer, que dia é hoje?
O porteiro me estudou por um momento, um tanto formal. Ele se parecia com qualquer outro porteiro (pra mim porteiro é tudo igual), só tinha o fato importante: bronzeado. E muito bronzeado. Bronzeamento no outono? Sério, nunca faça isso.
– É dia 11.
– De Novembro? – perguntei, idiotamente.
Ele franziu o cenho.
– É claro que sim, ora.
Dei de ombros como quem diz “só estava confirmando”, agradeci e segui rua afora, sem ao menos saber o que fazer. Eu estava no Hospital Central Services Inc – um dos principais Hospitais de Nova Jersey. A Gloucester City podia ser vista com facilidade da onde eu estava. E a liberdade me amedrontava. Todo aquele entusiasmo dentro do quarto de hospital estava se esgotando, sendo substituído por medo. Os anjos me procuravam, e a cada passo essa suspeita aumentava como uma chama sendo motivada a crescer. Não podia ligar pra ninguém, nem mesmo pra Lucia. Lucia, que eu nem sabia se tinha ou não sobrevivido! Era mancada minha sair do hospital pensando apenas em mim e esquecendo totalmente dela, devia ao menos ter procurado saber de alguma informação ou algo assim. Que tipo de amiga eu era? Mas eles estavam atrás de mim, e eu não podia trazê-los a ela, como uma isca a ser usada. Eu estava sozinha.  
O tempo estava razoável [Digo isso por preferir céu nublado e chuvoso.] o sol brilhava, e ironicamente parecia sorrir para mim. Devia ser umas 10 horas da manhã, ou até mesmo meio-dia, nunca fui muito boa para a questão tempo.
Corri atrás de um táxi, eu não tinha dinheiro mas podia usar o truque sedução [Tudo bem, o da mente é melhor.], por mais que eu não gostasse dessa ideia. Era a única saída.
Estava com uma impressão estranha de estar sendo observada, como se alguém estivesse rindo enquanto corro no caminho certo para uma armadilha. Ótimo, pensei. Isso é pra eu aprender a não sair de casa escondido e de madrugada. E também não fugir pra França com estranhos.
Um táxi passou e fiz sinal para que parasse, ele parou e sentei no banco de passageiro. Estava tão agitada que seria capaz de deixar escapar um “siga aquele carro” – que sempre foi o meu sonho. Em vez disso, falei:
– Aeroporto, por favor. Newark. – Tentei minha voz mais convincente e controlada, pareceu funcionar, pois o motorista começou a dirigir sem argumentar.
O motorista que logo descobri que se chamava Benet, pisou fundo no acelerador e partiu avenida a baixo. Não prestei muita atenção, provavelmente faria o trajeto rotineiro para o aeroporto: começando pela Bellmawr. Fechei meus olhos tentando me acalmar. O que eu estava pensando que o aeroporto ia me ajudar? Pra onde diabos eu ia? Eu estava novamente fazendo aniversário, 16 anos duas vezes. O ônibus ainda não estava na França. Opa, eu teria que voltar para o futuro pra encontrar o ônibus, e com certeza o aeroporto não iria me ajudar a nada.
– Tem dinheiro, moça? – Perguntou o motorista Benet. Eu ainda estava de olhos fechados, abri um para responder rebeldemente.
– Quem é o idiota que entra em um táxi e não tem dinheiro?
O motorista Benet deu de ombros, ligou o som do carro e começou a ouvir Maroon 5, sorri.
– Gosta de Maroon 5?
Fiz um sinal positivo com a cabeça, é claro que eu gosto.
– Amo. Adam lindo.
O motorista Benet ri, parecia estar mais confortável. – Normalmente não ligo o som do carro, mas sabe como é, musica ajuda a relaxar até mesmo se você estiver com mil problemas.
– E o senhor esta com mil problemas? – Pergunto, já mais atenta e de olhos abertos.
– Por favor, chame-me de Benet. Senhor é muito velho. – Benet aparentava ter uns 40 anos, as rugas da idade marcavam sua face, mas fora isso, era bonito. Vestia-se normalmente, com camiseta e calça jeans, um pouco moreno e os cabelos castanhos escuro faziam com que ele parecesse um ator de Hollywood – dos mais normais, nada de Johnny Depp. – E bem, todo mundo tem problemas não é? Cada um sabe a dificuldade que é enfrentar cada dia.
– Algumas pessoas têm problemas que às vezes é quase impossível de resolver. – Pensei em como eu voltaria para o final de Novembro. Sorri, aquilo era impossível. – E ah, sou Cathy.
– Que pensamento mais negativo, Cathy. Acha que algo nesse mundo pode ser impossível? Eu dirijo por este EUA há anos, desde que eu tinha 24 anos. Conheço tudo aqui, e ainda assim, sempre me vejo me surpreendendo com as coisas da vida. Sempre me pego mudando de opinião e até mesmo pensando em desistir. Pensando. Desistir é para os fracos, pensar negativo e ver tudo com dificuldade é pra quem não tem força de vontade. Coloque um Maroon 5 pra tocar e seja feliz, menina! O mundo te espera ai fora, e você deve ter o que, 17 anos? Tem uma vida tão enorme pra enfrentar, tanto para experimentar. Tantas pessoas que podem te fazer mudar de ideia, te encorajar. – Benet dizia aquilo com tanta facilidade, com tanta calma que eu estava começando a sentir-me mais entusiasmada. Não queria que ele parasse de falar. Não. Agora não. – Ainda tem muitos meninos bons pra você se apaixonar. Cathy, querida, se estiver com o coração machucado por causa de homem, te dou um conselho: siga em frente. Pois tem uma coisa que desanima é ficar parado esperando que tudo venha com facilidade pra você. Dê de ombros e viva. Viva porque o mundo não para. Hoje você pode estar com dificuldades pra entender tudo isso. Amanhã estará sorrindo e dizendo a todos que a vida é o maior jogo de diversão que pode existir. E eu acho que o Benet aqui esta se empolgando novamente.
Eu rio, o cara é muito legal. Pensei se eu não poderia ser a companheira de táxi dele pra poder ouvir suas histórias, do tipo “Teve uma vez que tal pessoa...” e rir o dia todo. Tudo seria mais fácil – não ter que enfrentar o mundo lá fora –, Benet poderia falar aquilo com toda a calma e experiência possível, mas não tinha nenhum anjo atrás dele nesse exato momento. Disso eu podia ter certeza.
– Quer saber minha situação? – Pergunto. – Hipoteticamente falando?
– Hipoteticamente? – repete, sorri e continua. – É claro que sim, adoro histórias.
– Hipoteticamente, sou filha de um arcanjo. Tudo bem? – Benet franze a testa, mas confirma. Não sei o que deu em mim, mas resolvi contar tudo aquele homem. – Hum, e esse arcanjo por acaso é Miguel. Sabe, o maior de todos. Hipoteticamente. E ele foi seqüestrado por Lúcifer, seu irmãozinho que está ressuscitado, e isso aconteceu porque eu, a filha de Miguel, tinha sido usada como uma isca de uma armadilha para Miguel. Bem, não exatamente assim. Ninguém sabia da minha existência, eu estava sendo completamente escondida por meu pai, e minha mãe morreu quando eu tinha 11 anos. Ela nem sabia que meu pai era um arcanjo, ele mentirá para ela, diz à lenda que para seu próprio bem.
Tombei minha cabeça de lado e fechei os olhos, falei sem parar:
– Sei que isso pode soar estranho, nem sei porque estou dizendo isso, mas é o que aconteceu comigo. Vou te contar tudo, acredite se quiser. No dia 11 de Novembro, talvez hoje? Não sei, eu nem devia estar aqui. Espera, vou chegar nesta parte. – Senti Benet sorrindo e isso me encorajou a continuar. – Eu acordei como todos os dias e fui tomar café com minha , e na sala tinha três estranhos que me disseram que eu era filha de Miguel, ô arcanjo. Eu já pesquisei, já li e sempre acreditei em tudo isso. Eu acredito em qualquer coisa, não é a toa que minha amiga uma vez fez uma pegadinha comigo, me mandando uma carta igual de Hogwarts, eu pensei mesmo que fosse uma bruxa. Isso não vem ao caso, a questão é que acreditei rápido. Sou pa-ra-nor-mal: nada normal. E quando alguém bate na porta da sua casa dizendo o que você, particularmente, já suspeitava – não, eu não suspeitava que era filha de um anjo, mas sim que tinha algo estranho –, dizendo que você tinha uma missão, ou você ia ou ficava em casa pra morrer nas mãos dos seus inimigos. Quando te fazem uma proposta muita além do seu raciocínio, é muito vergonhoso não pensar direito e já tomar decisões precipitadas? E sim, eu fui. E descobri que tinha que ir atrás dos três Espíritos da Morte, que tinham as três espadas. No começo pensei que seria fácil, até eu descobrir que todo o céu estava a minha procura. Minha cabeça valia muito e eu perdi um amigo por isso. Já tinha conquistado a primeira espada, Benet, estava tudo ótimo, quer dizer, corríamos perigos e eu quase morri só por conversar com a Morte, mas...eu tinha amigos do meu lado. Tinha três pessoas que eu podia confiar. E então uma morre, por minha culpa. Ele pode ter morrido heroicamente, só que isso não tira a culpa de dentro de mim. Ele morreu porque um anjo queria me matar. A mim. E pra isso usou o corpo e a vida de Daniel.
“Ele morreu por minha causa.”
Paro e seco as lágrimas do rosto, estava respirando com dificuldade e meu coração acelerava a cada palavra. Falava rápido demais, mas com toda a sinceridade.
– Perdi minha mãe, sei a dor que é, mas ninguém ta preparado pra perder alguém. Por mais que ela não seja a pessoa mais especial da sua vida. Benet, eu acreditei que poderia trazer Dan de volta, enganar a morte. Teria eu poder a tanto? Zacarias disse que eu sou só uma garota de 16 anos, perdida e jogada no passado. Estou sozinha Benet, sozinha porque não posso mais confiar em ninguém! Confiei em Eduardo e olhe só onde eu estou! Por que? Não se pode mais confiar em ninguém. Não posso voltar pra casa. Não posso voltar e visitar minha amiga no hospital. Não posso fazer nada porque tenho chances de deixar as pessoas que eu amo em perigo. E ainda sofro por causa de um canalha idiota. Eduardo e eu, nós, não podemos ficar juntos. Seria contra a lei da natureza. E eu e Sam, aquele traidor. Humano imprestável que não tem amor à vida. Não agüento mais! Eu nem deveria estar no dia 11 de Novembro! Pelo amor de Deus, estou fazendo 16 anos de novo! Eu deveria estar no final do mês, atrás da segunda espada...mesmo que isso possa parecer maluco, eu queria salvar meu pai. Ele me salvou uma vez, o mínimo que eu podia fazer era salvá-lo. Estou destruída, destruída! Não consigo me imaginar pior. Como a profecia disse que vai ser pior? Que vou estar ainda mais com o coração destruído...? É isso, isso! Do Anjo, as portas da vida se abrirão!  Puta que pariu! É isso!
Benet me lançou um olhar de pura confusão, o táxi estava parado por causa do trânsito, abri a porta do carro e sai com um sorriso de orelha a orelha. Havia encontrado a solução, por mais que eu não gostasse muito dela. Só precisava fazer a coisa certa.
– Cathy, aonde vai? – gritou Benet do carro, voltei correndo e joguei um bolo de dinheiro no carro [Eu sei fazer surgir dinheiro, há.] E dei-lhe um beijão no rosto, mais feliz impossível.  – Ei, garota! Que...
Mas eu já não o ouvia mais, corri entre os carros e senti meu corpo desaparecendo dali. Da avenida, de Nova Jersey.
Dicasterio Custos Angeli! – Gritei, e meu corpo saboreou a viagem nas sombras.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sinopse: O Trono de Fogo


Título: O Trono de Fogo
Subtítulo: As Crônicas dos Kane - Livro 2
Edição: 1
ISBN: 9788580570922
Editora: Intrínseca
Ano: 2011
Páginas: 398
Sinopse: Os deuses do Egito Antigo foram libertados, e desde então Carter Kane e sua irmã, Sadie, vivem mergulhados em problemas. Descendentes da Casa da Vida, ordem secreta que remonta à época dos faraós, os dois têm poderes especiais, mas ainda não os dominam por completo – refugiados na Casa do Brooklin, local de aprendizado para novos magos, eles correm contra o tempo. Seu inimigo mais ameaçador, Apófis, está se erguendo, e em poucos dias o mundo terá um final trágico. Para terem alguma chance de derrotar as forças do caos, precisarão da ajuda de Rá, o deus sol. Despertá-lo não será fácil: nenhum mago jamais conseguiu. Carter e Sadie terão de rodar o mundo em busca das três partes do Livro de Rá, para só então começarem a decifrar seus encantamentos. E, é claro, ninguém faz ideia de onde está o deus.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

12 - Tramam a minha morte


Eu estava e ao mesmo tempo não estava em um grande saguão branco como...como algo que definitivamente não sei descrever. Era lindo. Talvez da metade de um estádio de futebol e imagens emolduravam as paredes (era difícil saber o que era, pois estava longe), multicoloridas e elas brilhavam. No centro do saguão, havia uma grande mesa preenchendo o meio, terminando em um trono vermelho vivo decorado de branco e cinza. Fiquei impressionada, se aquilo era um sonho eu andava muito criativa ultimamente.
A mesa estava quase lotada, ao final havia algumas cadeiras vazias, mas poucas. Lá na frente o trono vazio era cobiçado pelos integrantes do saguão. Ou o rei não chegaria, ou teria uma disputa do tipo “quem será o rei?”. Fiquei pensando se eu teria que sentar no chão pra assistir a briga.
Um homem branquelo se levantou, e no começo pensei que ninguém iria ouvi-lo, pois ele estava no meio da mesa, ninguém o ouviria. Certo? Errado. O cara começou a falar e sua voz ecoou pelo saguão, arrepiando os pelos da minha nuca.
 – Ela deve ser morta pelo bem dos anjos e de toda a humanidade! – Acho que cheguei tarde demais, qual era o assunto a ser debatido mesmo? Seja qual for, a menina tinha muito azar. – Está fugindo mundo afora tentando salvar um arcanjo condenado pela eternidade no inferno! Nesta missão suicida, poderá libertar Lúcifer muito antes da hora!
O homem se calou e sentou-se em seu lugar. Um outro um pouco mais à frente, levantou-se e disse, sua voz retumbando pelo saguão:
– Zacarias tem toda a razão. Agora o irresponsável Eduardo McLean apagou sua memória e a jogou no passado! Como pode? Ele destruiu todos os nossos planos de acabar com Catherine. – Os integrantes na mesa fizeram concordância, outros se fitaram intrigados. – É isso mesmo que ouviram: Eduardo McLean apagou a memória de Lohan e a jogou no passado! Ela voltou ao dia 10 de Novembro, um dia antes de seu aniversário. Smain e Lenin a estão protegendo e...
Mas um homem meio japonês se levantou, interrompendo-o.
– Como ela pode voltar no passado? Lenin está destruído neste momento...é retrospecto?
Todos pareciam ter a mesma duvida.
– Catherine Lohan voltou no passado e tudo voltou. Mas nós estamos no presente, pois somos anjos. Agora Lenin...bem, ele continua morto. É só o passado a protegendo. Como uma espécie de espírito. Creio eu que Lohan é forte o suficiente para voltar para o presente. Mas ela é uma criança, então...
Eles estavam falando de mim. (Oh!)
Zacarias se levantou novamente, e disse em um tom de voz que convenceu até a mim:
– Vamos destruí-la de uma vez por todas. Sabemos onde ela esta e somos mais fortes que uma garota de 16 anos. Ou não?
Um grito de vitória explodiu pelo saguão, e mergulhei na escuridão.



Uma luz implorava pra entrar em meus olhos e eu me sentia tonta (ainda mais). Tateei onde estava deitada. Parecia colchão e minha intuição dizia que era uma cama. Abri os olhos e os fechei de imediato. Um teto branco, um lugar branco...tudo muito branco. E isso me fez lembrar do sonho...aquelas pessoas queriam me matar. Por que? O que eu fizera? Que papo era aquele de “voltar no tempo, apagar memória”? E Eduardo McLean...quando pensei nesse nome, um turbilhão de imagens invadiu minha mente: um garoto de aproximadamente 17 anos, com cabelos bagunçados e muito pretos. Os olhos da mesma cor que os cabelos, seus traços eram vorazes e ao mesmo tempo fofos (por falta de uma palavra melhor) e ao tudo, lindo.
O garoto, Eduardo, sorriu e pensei por um momento que nunca mais respiraria. Aquele sorriso me encheu de um sentimento que nunca havia sentido por ninguém, nem mesmo por Sam. Por cara algum...era amor, sabia disso. Mas não sabia como. Quem ele era? Fez parte da minha vida...? Tinham dito que esse tal Eduardo havia apagado a minha memória e me lançado para o passado. Por que? Ele não me amava como eu o amava?
Aquelas perguntas preenchiam todos os meus pensamentos. Eu amava alguém que nem sequer conhecia. Eu amei essa pessoa. Amei Eduardo McLean e ele apagou minha memória.
Mesmo que isso parecesse um tanto improvável. Quem podia apagar a memória dos outros, não é? Mas eu sentia que era verdade. Sentia dentro de mim que tudo isso faz sentido. Faz. Fez. Fazia.
Fechei os olhos sem ao menos saber quem eu era de verdade. Podia ser apenas um sonho, mas tudo dentro de mim dizia que era verdade. E isso estava acabando comigo, me corroendo por dentro. Como se uma parte de mim estivesse lutando, dizendo e tentando me convencer. Pois tinha provas disso. Provas? Que provas?
Ouvi passos ao meu redor, mas não quis abrir os olhos para ver quem era. Não queria saber onde eu estava. Porque eu não estava no lugar certo.
Quando pensei nisso, meu peito explodiu de dor. Minha cabeça estava rodando e sentia minhas veias pulando, tentando sair de mim.
Arfei.
Alguém veio correndo a mim. Já era tarde demais. Vi tudo na minha frente: todos os acontecimentos desde o dia em que nem havia acontecido ainda, 11 de Novembro. Alice Lian, Mateus, Eduardo...Kristen Smain, Daniel Lenin, a Morte...as perseguições. A espada da Morte. A razão de tudo. Meu pai...pai...Miguel...
Abri os olhos como se estivesse nascendo novamente. A sede de vingança. O poder. A raiva. Ira. Eu era a filha do pecado...o próprio pecado na terra. E estava determinava a vagar e destruir todos aqueles que me viam como um inimigo. Eu seria o inimigo. Eu salvaria meu pai, e faria da vida de Zacarias um inferno. Dele e de todos os arcanjos do céu. Os coloria de joelhos aos meus pés. Nasci para ser a rainha e a querida de Miguel. Meu pai.


Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

11- A menina de cabelos ruivos










Parte II










Manter o coração enterrado não era muito diferente de manter a raiva reprimida, isso eu aprendera. O sentimento corrói você por dentro até que tudo que você quer é gritar ou chutar alguma coisa.”

                                          – Richelle Mead















Domingo, 10 de Novembro de 2011

Querido Diário,
Tive mais um pesadelo esta noite. Mais um. O mês inteiro sonhei com a mesma coisa: um homem acorrentando preso em uma gaiola coberta de neve, que eu sabia, nenhum ser humano sobreviveria mais de 5 minutos ali. Ele sempre murmurava a mesma coisa “Cathy! Tem que me salvar. Salve-me!”.  Salvar, de quem? Mas as palavras nunca saiam, a única coisa que eu sabia fazer era ficar ali, olhando.
O homem de asas.
Que chamava meu nome.
Mas hoje o sonho foi diferente. Sonhei que estava em um abismo sem fim, flutuando pela escuridão sem saída. O desespero. O medo. As lágrimas. Eu estava coberta por elas. Pensei que nunca sairia dali. Era horrível. E eu dizia alguma coisa...o nome de um garoto. Mas não consigo me lembrar quem. Sinto que se eu ouvir alguém dizê-lo eu lembrarei.
E depois de tudo, essa tristeza. É de madrugada e acordei soando com o pesadelo, por pouco não grito. Agora sinto essa tristeza invadindo-me, como se eu tivesse perdido algo...alguém. Não sei por quê.
Alguma coisa não esta funcionando na minha mente (eu sei, nunca funcionou) e é...como se eu devesse saber de alguma coisa que eu simplesmente esqueci.
É como se eu não devesse estar aqui. Mas em outro lugar. Com outras pessoas.

Paro de escrever e leio a ultima linha. Com outras pessoas? Que pessoas? Eu estava no lugar certo e com as pessoas certas. Eu estava alucinando, essa era minha única explicação.
Ajeito-me na cama e encaro o teto. Ele continuava o mesmo, assim como a minha vida. Nenhuma mancha nova. Nenhum acontecimento novo.
O papel que havia aparecido em minha cama (aparecido, não conseguia aceitar o fato de ter escrito um trecho da musica do Chris Brown) estava ao meu lado, reli-o mais cinco vezes e cada vez que fazia isso, sentia-me ainda mais confusa e desnorteada. “Nada nunca ficará entre nós”. Nós? Quem?
Amassei o papel e o joguei na parede da frente, ele bateu no pôster do Bruno Mars, e caiu no chão, fazendo um leve barulho de papel. Dei de ombros e peguei meu Ipod, escolhi uma boa playlist para me fazer dormir. Joguei o diário no chão, com raiva dele (Não, eu nem sei porque estou com raiva de um diário, mas ta.) e Lifehouse começou a tocar. Lifehouse. Agora sim eu dormia.
Depois de duas musicas perdi a consciência. Pareceu não ter passado nem 5 minutos e meu celular começou a vibrar vorazmente na cabeceira da cama. Peguei-o e atendi, sem ao menos ver quem era.
– Alô? – falei, sonolenta.
– Ei, Cathy! É você? Cathy, ta me ouvindo? – Era a voz de Lucia gritando do outro lado, ela devia estar em uma festa, pois o barulho estrondeante de musica eletrônica não tinha outra explicação. – Você estava dormindo?
– Oh, não, não, Lucia. Estava só pintando um quadro – disse, rindo.
– Sério? – Lucia parecia ter acreditado, revirei os olhos.
– Não, sua idiota. – Isso é amizade verdadeira: chamar a amiga de idiota. – Aonde ta?
– Adivinha?
– Desenrola logo.
– Em uma festa com – ela fez um ar de suspense, acho que saiu do lugar barulhento, pois a musica diminuiu – ...Leo! O gatinho da escola, Cathy!
Aimeudeus! Ta de brincadeira? Sério?! Eu tenho que ir ai! Como não me contou nada?
– Convite de ultima hora.
– Quantas horas são?
– Três da manhã.
– Passe aqui em vinte minutos.
– Ok!
E desligou.
Saltei de um pulo da cama e segui até o banheiro. Penteei meus cabelos imensos que iam até a cintura e os amarrei em um rabo de cavalo. Fui até o guarda-roupa e escolhi uma bata azul marinho e uma calça jeans rasgada. Passei um pouco de pó compacto, peguei meu all-star favorito (cano médio) e esperei. 5 minutos depois, Lucia estacionou na frente do prédio, abri sorrateiramente a porta e sai pelo corredor. Estava torcendo com toda a minha alma que Lijia não ouvisse eu fugindo as escondidas de madrugada, mas ela tinha um sono profundo, e essa não seria a primeira vez que eu sairia escondido.

Meu aniversário seria apenas amanhã, por tanto não podia dirigir meu carro novo, ainda. Ainda. Entendeu? Ainda. Ta, já parei. Então, passei pela portaria (Antes disse ao segurança pra não contar nada a minha . Ele disse “claro”. O cara nunca contava, e olha que o pessoal do prédio sempre dizia que ele era chato. Discordo.) e entrei no carro de Lucia. Um Ford azul e antigo.
Lucia sempre foi bonita. Desde os 9 anos quando a conheci ela já era a “bam-bam-bam” na beleza. Lucia é ruiva dos olhos verdes, tinha algumas sardas no rosto, mas isso só a deixava ainda mais linda. As feições de seu rosto eram perfeitas, por não ter uma palavra melhor. O corpo magro: ela nunca tinha problemas na loja. Já eu não achava numero pra mim, sou muito magra. Tipo, 55 quilos! (Ok, to exagerando. Eu acho sim numero pra mim.).
Enfim, agora ela estava usando um vestido rodado a partir da cintura e violeta. O vestido tinha detalhes branco e roxo. Lembro que tinha ajudado-a a escolher, tinha sido a maior guerra: violeta ou verde claro? Você já deve ter reparado que violeta ganhou.
Lucia deu um alô e começou a falar. A falar muito. Ela não se importa se você quer ouvir ou não, ela vai falar de qualquer maneira. Tagarelou sobre Leo e como ele era fofo, engraçado, lindo, fofo, lindo e engraçado. Mas minha mente estava em outro lugar. Um nome começou a disparar na minha cabeça: Kristen Smain.
Eu nunca ouvira falar de nenhuma Kristen Smain, mas sentia que já tinha compartilhado coisas com essa garota, como amigas...
Amigas...
Uma imagem minha de cabelos curtos e óculos meios redondos e meios quadrados, rompeu em minha cabeça. Eu sorria e passava os dedos sobre o cabelo.
Voltei a ouvir a voz de Lucia, que ainda falava sobre Leo. Tentei imaginar quando eu havia cortado os cabelos curtos. Eles sempre foram grandes e eu nunca gostara de óculos daquele jeito.
Mas eu tinha de admitir que estava linda. De uma maneira que me fez prometer cortar o cabelo assim um dia. Um dia. Nem que eu tivesse de comprar óculos daquele jeito.
– Sam esta lá? – perguntei a Lucia. Ela para de falar, respira fundo e responde:
– É uma longa história.
– Conta logo, Lucia.
– É assim: Sam estava se agarrando com outra garota, bêbado.
Eu devia ter ouvido errado. Sam, bêbado? Com outra? Impossível. Ele gostava de mim a anos, não ia jogar nosso relacionamento pra cima dessa maneira.
– Não pode ser verdade – digo, já começando a ficar com raiva. – Não pode ser!
Lucia abre a boca mas nada saiu dali, ela olha pra frente, para a estrada escura e arregala os olhos. Olho também e o que vejo não é nada animador: uma ave gigante (só podia ser uma ave) estava no meio do caminho, abrindo as asas e grunhindo para nós. Mas era difícil acreditar que era uma ave, pois a criatura tinha 2 metros de altura.
Lucia pisou no freio e o carro rodou na estrada, bateu em uma árvore e caiu barranco a baixo, batendo em pequenas árvores e enormes pedras. Senti o sangue fluindo pela minha cabeça, ouvi o grito de Lucia, só que ele já estava distante demais para mim. Eu estava sofrendo meu segundo acidente de carro.




 Cathy Lohan e os Espíritos da Morte 
Por: Carol C.

terça-feira, 12 de junho de 2012

10- Uma aula particular com Professor McLean








“Não importa quanto os dias sejam perfeitos, eles sempre têm que acabar.”
                         Stephenie Meyer








Os acontecimentos dos meus últimos dias não foram os mais alegres, e apesar de eu ter conhecido pessoas (anjos) maravilhosas, eu também as perdi. Dan esta morto. E eu não posso mudar nada disso. O meu anjo da guarda, morto por minha culpa.
Depois do ocorrido, pensamos que Rafael tivesse morrido, mas o desgraçado estava vivo e nos ouvindo o tempo todo. Kristen ficou com tanta raiva dele, que cravou a espada da Morte nas costas do anjo, que ela me disse ser onde estavam suas asas. Rafael não havia morrido por ser um arcanjo, e os anjos não sentiam dor física, assim como não sentia nada físico. A espada fez apenas com que ele perdesse a consciência por um tempo, eu não sabia como funcionava a espada e precisava pesquisar a respeito. Mas de acordo com Eduardo, o toque da espada poderia ser fatal a um mortal, ou no meu caso, semi-mortal.
Até ai tudo bem, quer dizer, não exatamente tudo bem, mas bem. Você entendeu.
E quando Eduardo bateu com a espada na nuca de Rafael, ele sentiu uma dor por dentro (e não por fora) como se não respirasse mais...um pouco parecida com a dor que senti, com exceção ao fato de ele não sentir o físico. Eduardo me explicou que, se quiser destruir um arcanjo, tem de cravar a arma nas costas do anjo, onde ficam as asas. Um anjo caído sentiria apenas dor se alguma coisa fosse enfiada a onde antes estava suas asas, mas um anjo não, é como se fosse seu ponto fraco...seu calcanhar de Aquiles. Então Eduardo e Kristen podiam tocar na espada. Mas eles preferiam não tocar, pois a dor por dentro era sufocante. E eu sabia disso por experiência própria.
Agora Rafael estava destruído, banido do céu e só voltaria se Deus quisesse – o que eu pedia por tudo que não acontecesse. – Kristen tinha se arrependido de ter agido sem pensar, ela agora ficava muito quieta no seu canto lendo e ouvindo musicas em seu Ipod, acho que destruir um arcanjo estava entre uma das leis dos anjos.
E falando em leis. Preciso contar!
Adivinha quem esta me dando aula sobre os anjos e suas esquisitices? Erro! Não, besta, é Eduardo...Eduardo McLean! É, o Eduardo anjo da guarda na qual eu tenho sentido...sentimentos sobrenaturais. (Não precisa jogar na minha cara que tenho um namorado, eu entendi...) Bem, eu não pretendia ter nada com Eduardo, era só algo passageiro, algo que iria passar...não era amor. Eu mal o conhecia. Meu amor é por Sam. Só Sam.  Uma voz fina sussurrou no fundo da minha inconsciência:
Quando estiver apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo, escolha a segunda, porque se amasse realmente a primeira, não iria sentir nada por outro alguém.
Cala a boca, retruquei. Tentando, mas não conseguindo, ignorar aquilo.
Já havia se passado um dia desde que Dan morreu, perdi totalmente a contagem de datas e nem sabia que dia era hoje. Mas dormi como uma louca depois da homenagem em que Kristen, Eduardo e eu fizemos a Dan. Kris me disse que seu corpo iria para aonde todos os anjos vão quando são destruídos. Como um cemitério no céu. Depois disso, contei a eles sobre o meu encontro com a Morte, que eles não gostaram nada sobre a data de entrega. “Muito perto” dissera Eduardo, e ele estava certo. O solstício de inverno estava chegando cada vez mais...e ainda tínhamos só uma espada. E não fazíamos a mínima ideia de onde estavam às outras.
E não, é claro que não contei a Eduardo sobre o calcanhar de Aquiles, e muito menos pra Kristen. Eu confiava neles, mas não sentia que devia contar. Algo me dizia que aquilo deveria ser meu segredo. E eu ainda não sabia como funcionava isso...a coisa do calcanhar.
Eduardo apertou meu joelho e voltei à realidade, ele tinha colocado botão automático e então, o ônibus estava voando sozinho. Estávamos rondando a Europa, não podíamos ficar no mesmo lugar por mais de seis horas.
– Ei, no que está pensando?
– Privacidade, please.
Ele sorriu.
– Não vai me contar?
Dei um suspiro, indignada.
– Você é sempre curioso assim? Não deveria estar me ajudando a entender as coisas melhor?
Eduardo estava encarregado de me contar tudo, tudo que eu queria. Ou eles achavam o que? Que eu adivinharia tudo? Eu já havia lido muitas coisas sobre anjos, demônios, nefilins e tudo o mais. (Ei, sou Team Winchesters!) Mas ainda tinha muita coisa que eu não sabia. Sobre o que eles eram capazes de fazer e o mais importante, o que estava acontecendo no céu, porque eu estava perdida! Havia viajando com três anjos numa missão suicida, às vezes me pego se arrependendo de ter feito essa escolha, mas pensando por outro lado, teria virado picadinho de arcanjos se tivesse continuado em casa. Fiquei pensando em Lijia e o que andava fazendo: acreditava mesmo que havia ido pro México? Bom, ela tinha o vovô que morava no apartamento ao lado, os dois tinham um clima forte. Hmmmm.
– Quer que eu te ajude a entender o que, hein? – Eduardo se aproximou de mim, sentando-se ao meu lado na cama...flertando! – Quer entender como funciona a cabeça dos anjos apaixonados? Eu lhe explico.
Dei de ombros, como se não estivesse nem um pouco incomodada com sua aproximação e seu jeito de falar. Alias, já disse que tenho um namorado?
–  Professor McLean, não deveria falar desse jeito com sua aluna.
– Desse jeito como?
– Você sabe.
– Não sei não.
– Cala a boca porque sabe sim!
Ele riu e segurou meu queixo, levantando meu rosto até a altura dos seus. Seus olhos pareciam estar ainda mais escuros e negros. Os traços de seu rosto não eram exatamente perfeitos, eram marcadas pelas suas experiências – eras pelo mundo deveria ter lhe trazido sabedoria de cem homens inteligentes juntos. – E ele parecia mais homem do que um menino, mesmo com uma aparência de 19 anos. Sua boca era um traço fino, que parecia um imã dos mais poderosos....
Virei o rosto, mas antes vi a decepção passar por seus olhos. Ele estava mesmo me flertando.
Eduardo McLean, você é a maior droga que já entrou na minha vida.
Ele franziu o cenho, e um pavor tomou conta de mim, teria ele lido meus pensamento?
Pequena, a voz dele sussurrou na minha mente, arregalei os olhos. Não sou uma droga...posso ser um vicio maior que isso.
Ele levantou uma das sobrancelhas, como se me desafiasse a contradizê-lo. Engoli seco e tentei fingir que não ouvira nada.
– Eu tenho uma duvida professor. – Levantei da cama e comecei a circular no ônibus, Kris estava no fundo do ônibus e ouvia musica tão algo, que podia jurar que estava ouvindo 30 Seconds To Mars daqui.  – Em uma pesquisa que fiz no passado; li que um anjo era imortal, não podia morrer, é claro. E se isso é verdade, como Rafael morreu?
Ele pensou por um momento, e respondeu em tom profissional:
– Todos nós, anjos, humanos, demônios ou qualquer outra coisa, somos imortais. Nossa alma é, e é isso que vale. Rafael não está exatamente morto, a alma dele esta descansando como a de qualquer outra humana que já morreu. Todos nós temos almas e quando morremos, ela descansa, esperando o dia do juízo final.
– Interessante – comentei. – Então, digamos que os anjos não podem voltar, ou não?
– Podem, é claro que sim. Mas isso é raro, se um anjo morreu, é porque coisa boa não estava fazendo. – Ele fez uma pausa, pareceu se arrepender do que tinha dito. – Quer dizer, a algumas exceções. Como Dan...Em todo caso, só Deus tem poder para tanto.
E eu estava torcendo para que Deus estivesse do meu lado, não queria mais um inimigo no meu pé.
– O que os anjos são capazes de fazer? E por que aquele anel chegou aqui se o ônibus estava protegido? Qualquer um pode fazer uma proteção dessa? O que tem nesse ônibus?
Eduardo respirou fundo e respondeu tudo de uma vez:
– Esse ônibus foi presente de Miguel para Dan e Kristen, por serem seus anjos da guarda. E ele é protegido por uma forte magia, e com a proteção de Kristen, ficou ainda mais impossível nos achar. Lembra que você contou que a Morte não estava te achando por causa do ônibus? Então...e o anel, eu não sei. Definitivamente não sei. Os arcanjos são mais poderosos que os anjos, podem ter arranjado uma maneira de passar pelas proteções de um ônibus voador. Mas por precaução, não vamos aceitar nada que aparecer aqui, foi um erro de Dan ter aceitado e um erro nosso também de ter deixado. Tantas eras confiando nos arcanjos nos fizeram esquecer de que agora não estão mais do nosso lado...voltaram-se para nós, todos eles, agora só desejam o poder do trono de Miguel. Todos querem comandar o império.
– Por que?
– Porque é o que acontece quando Deus não está mais nos comando. Miguel estava mantendo uma certa ordem até o dia de seu desaparecimento. Agora está tudo um caos...um apocalipse no próprio céu. Isto é decepcionante, a forma como os anjos conseguem mudar de lado e revoltarem-se um com o outro de tal forma. Rafael possuiu e destruiu Daniel como se isso não fosse nada e não significasse nada para ele. Entende o que quero dizer? Não podemos mais confiar nos anjos do céu, eles agora não estão mais do nosso lado...talvez alguns, mas é impossível entrar em contato com eles. E Cathy, às vezes penso no que adiantaria se salvássemos Miguel. Ele vai ser banido do céu, a não ser que ele tenha um motivo muito forte para impedir isso. Quem arrancará as asas de Miguel e o lançara a Terra? Seja quem for ele, será o novo imperador do céu. O que acho que será Zacarias, pois é isso que está acontecendo no céu, uma briga pelo trono entre todos os arcanjos.
“Eles estão se separando, formando exércitos e preparando-se para uma guerra. Uma guerra que terá um final nada feliz. Os anjos precisam de alguém que os comandem, enlouquecem se isso não acontecer. Muitos deles enlouquecem.”
– E se Miguel não voltar? E se não conseguirmos? Qual sua teoria?
Ele suspirou e encostou-se nas janelas, fui e sentei ao lado dele. A nossa frente, imagens de um grande castelo surgiu como uma névoa pairando no ar. O castelo era grande e todo branco, folhas verdes davam voltas pelas torres altas e pontudas. À frente, um jardim verde claro se estendia, árvores com flores de todas as cores estavam espalhadas pelo imenso jardim. Passarinhos voavam ao redor das cinco torres, a do meio era a maior de todas e a mais larga, em baixo tinha um grande portão, que imaginei que daria para um saguão de entrada. Todo o castelo brilhava com uma luz brilhante que vinha do céu azul, não havia sol, mas estava claro e parecia estar de dia. Lindo.
– Pequena, esse é o castelo dos arcanjos, e está vendo esta grande torre ai no meio? – ele apontou para a torre maior que ficava no centro – , ali tem uma sala onde os arcanjos e alguns anjos tomam decisões e discutem assuntos sobre toda a Terra, os humanos e os anjos. Ali tem um trono onde antes era de Miguel, e que agora está sendo disputado por todo o céu.
A imagem tremeluziu e um grande saguão surgiu a nossa frente, era imenso...talvez a metade de um campo de futebol. As paredes pintadas de azul pareciam brilhar e estarem vivas. Grandes imagens estavam desenhas ali, mas não conseguia ver direito, pois estava muito longe. Uma mesa se estendia por quase todo o saguão, no final dela, um trono vermelho vivo, decorado de branco e cinza chamava atenção e estava óbvio, aquele era o trono de Miguel. O trono era bem maior que as outras cadeiras, e ela transmitia poder.
– Aquele é o trono de Miguel. Ou melhor, que era de Miguel. E este é o salão dos arcanjos. Grande não?
O saguão tremeluziu e desapareceu, o outro lado do ônibus ficou visível novamente. Fitei Eduardo, que havia fechado os olhos e pousado a cabeça na janela, ele parecia cansado.
– Você perguntou o que os anjos são capazes de fazer – murmurou, abriu um dos olhos para ver se eu estava confirmando, afirmei e ele prosseguiu. – Somos capazes de quase tudo. Quase. Podemos hospedar o corpo de um humano, mas ele tem que aceitar, não é só ir direto...está vendo meu corpo? Não é meu corpo, é a minha casca. Todos os anjos são assim, pequena. Não se assuste.
“Não queira ver nossa forma natural, isso te cegaria. Um humano viraria pó, mas você é como um anjo fisicamente...não morre e...”
– Não morro? – interrompi-o. – Se não morro...Por que Miguel me salvou naquele acidente de carro, quando minha mãe morreu?
Eduardo não respondeu, em vez disso abriu os olhos e me fitou, seus olhos escondiam segredos que eu sabia, nunca iria descobri-los. Era um abismo sem fim. Ele acariciou meu rosto de modo tão...estranho. O jeito que ele me olhava, como se eu fosse um presente que ele desejou por toda sua vida, era como se me olhar o fizesse libertar sentimentos que nem os arcanjos mais poderosos saberiam explicar. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas só isso, ele não chorou, só deixou que seus olhos se iluminassem a ponto de eu ficar imaginando o que seria mais lindo que aquilo...seus olhos transbordam de lágrimas. Mas paralisadas ali.
– Ei .– Sussurrei, e não sei o que deu em mim, mas abracei-o. – Ei... por que está chorando?
Ele colocou sua boca em meu ouvido, um arrepio percorreu minha nuca. Ele estava muito perto...perto demais.
Quando você sorri – sussurrou –, o mundo inteiro para e fica olhando por um tempo. Pois, garota, você é incrível, exatamente como você é.
Just the Way You Are.
Sorri. Era uma das minhas musicas favoritas. Encostei minha cabeça em seu ombro e ficamos assim, aninhados um nos braços do outro por um logo tempo.
Seu coração batia perto do meu. Sua respiração era controlada e ele tinha um cheiro que me tirava o fôlego...perfume francês, mas eu não sabia qual. Só sabia que guardaria aquele cheiro pra toda a eternidade. Independente se aquela fosse a ultima vez em que o visse.
Ed e Ca, Ca e Ed.
Para sempre. Para sempre. Para sempre. Para sempre.
– Eu acho que eu me apaixonei por você – ele sussurra em meu ouvido, a voz calma e amorosa. – Desculpe. Fiz o maior erro da minha vida.
Afasto-me dele e o encaro. Eduardo estava triste, como se estivesse me vendo morta na sua frente.
– Eduardo...não é um erro.
Ele toca meu rosto, observando-me.
– Nunca deveria ter te chamado para essa missão, deveria ter pedido a Dan e Kristen para continuarem sendo seus anjos da guarda, o que eu estava pensando que conseguiríamos com essa missão? Nós somos apenas três agora e...eles são centenas e mais centenas. Coloquei-te nesse penhasco e esse foi o meu erro. E ainda me apaixonei por você. Eu sou o maior idiota do mundo e nunca deveria ter te colocado aqui. Perdoe-me por amar você.
Antes que eu pudesse responder, ele tocou meu rosto com as duas mãos e uma escuridão envolveu-me, senti meu corpo flutuar para o fim...não havia saída alguma. Só escuridão.
Acordei de um pulo, sentando-me ereta na cama. Olhei em volta e estava em meu quarto, em Nova Jersey. Os pôsteres do Bruno Mars pregados na parede da frente, Bruno sorria pra mim do seu jeito mais perfeito. Olhei confusa para os lados, e quando fui me levantar, esmaguei um papel com a perna, peguei-o e li:

Um dia, quando o céu estiver desabando;
Eu estarei ao seu lado;
Nada nunca ficará entre nós
Pois eu ficarei ao seu lado.

Franzi o cenho, sem saber o que aquilo significava.


Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

9- Será sempre nosso herói, está bem?


Acordei com meu corpo todo doido e vozes indistintas surgiam ao longe. Tentei entender o que diziam para fugir da dor indomável, mas era como tentar olhar pro lado enquanto Johnny Depp dançava na sua frente. Mas pude ouvir que uma voz feminina gritava e parecia estar brava. Tentei abrir os olhos para poder ver de quem pertencia aquela voz, mas a dor me levou para o nada...Dor. Dor. Dor. Dor. Só havia isso. Dor. Dor. Dor. Dor.
E ela me levou para a inconsciência.
Acordei e dessa vez a garota já não gritava mais, a dor havia diminuído a ponto de ser apenas uma pontada incomoda no peito. Pude ouvir minha respiração calma; mas meu coração batia freneticamente, como se fosse sair pela boca.
Abri os olhos e acima de mim, a menos de um metro, tinha uma grande taboa de madeira. Na mesma hora notei que não era uma taboa, e sim o pequeno armário na qual tinha em cima de cada cama, no ônibus...o ônibus amarelo berrante...Um grande alívio tomou conta de mim, apalpei o colchão macio em que estava, a fim de registrar cada parte da cama. Sorri. Era real.
Olhei para o lado e Kristen estava sentada em sua cama. Lendo...Crepúsculo! Tudo bem que eu li a série em duas semanas e estava até ansiosa para a estréia de Amanhecer parte I. Mas eu nunca tinha visto uma finalidade para a estória. Qual o sentido de uma menina que estava sempre se metendo em encrencas, um “amor proibido” com um vampiro que só queria proteger, proteger, proteger, proteger e proteger ela? Ainda acho que Bella deveria ter ficado com Jacob e feito cinco filhotinhos lobo em cada mês. Ai sim.
Só que ali estava Kristen, que amava cabelos coloridos e que agora vestia uma jaqueta de couro e calças jeans rasgada, lendo...Crepúsculo. O mundo dá voltas, pensei.
Não agüentei ver aquela cena e deixei escapar um riso frenético que saiu meio entalado por causa da dor no peito. Kristen deu um pulo da cama com os olhos arregalados e derrubando tudo. E foi ai que vi que meu braço estava preso a um monte de fios de...hospital. Parei de rir na hora. Eu não estava em um hospital, disso eu podia ter certeza. Então...eu estava doente? Doente?
– Meu Deus, meu Deus! Ela acordou! – gritou Kris, correndo ao meu encontro.
Fiquei pensando há quanto tempo estava dormindo pra Kris sair gritando “ela acordou” pra toda a cidade. Revirei os olhos enquanto passos rápidos vinham em minha direção. Até parecia uma avalanche de elefantes...
– Você está bem, Cathy? Por Deus, você consegue falar? – ouvi a voz de Dan, cada vez mais perto.
– Eu to bem – tentei acalmá-lo, mas minha voz saiu casada e fraca.
Eduardo se ajoelhou na frente da minha cama, de modo que seu rosto estava muito perto do meu. E não seria eu que se afastaria.
Seus olhos encontraram os meus e um turbilhão de lembranças veio à tona. Você está completamente apaixonada por Eduardo McLean, a voz da Morte explodiu na minha mente e fui obrigada a fechar os olhos por causa das imagens que se formavam na minha cabeça: a Morte...a espada...Eu havia tocado a espada e sentido uma dor sufocante e sobrenatural...
Olhei instintivamente para o lado, e a espada estava ali, encostada na parede, brilhando a luz fraca que vinha do teto do ônibus.
– Aquela merda. – Grunhi, me agitando toda na cama. Eduardo já estava prendendo meus braços na cama antes mesmo de eu levantar a cabeça. E na questão física, ele era bem mais forte que eu. E na mental também.
– Parece que está muito bem – riu.
Ele sentou-se ao meu lado, ainda prendendo meus braços no colchão com uma das mãos, e a outra tirava os fios.
Kristen e Dan se sentaram no chão a minha frente, avaliando-me com preocupação.
– Quanto tempo...fiquei desacordada? – perguntei, já temendo a resposta.
– Dez dias – respondeu Dan, parecia estar muito interessado nos próprios tênis. – Só sobreviveu por causa do soro. Você não acordava de maneira alguma. Tentamos de todas as maneiras, mas você parecia estar em um sono sem fim. Pensamos que nunca mais acordaria.
– Dez dias – repeti. Parecia que eu tinha levado um tapa na cara. – Dez dias.
– Você apareceu aqui no chão do ônibus, na tarde do dia 13. – Explicou Eduardo. Ele já não segurava mais meus braços, só minha mão. – Estava se debatendo de dor no chão, respirando com dificuldade e murmurava algo sobre a espada...
– Para não tocarmos na espada. – Corrigiu Kris.
– Isso. E não tocamos, porque você não a largava e – ele sorriu – estava forte. E quando a colocamos na cama e você a soltou, usamos um pano para pegá-la. Sabíamos sobre a lenda das espadas o suficiente para não tocarmos.
– E é ai que nós te perguntamos Cathy. – Dan parecia mais velho e poderoso quando disse as palavras seguintes. – Por que não morreu? A ultima historia sobre alguém que havia tocado a espada e sobrevivido foi...
– Aquiles. – Agora era Kris que me olhava com superioridade. Estava começando a me sentir um bebê ali. – Que hoje é conhecido por ter se banhado no rio Estige. Sendo que na verdade, Aquiles pegou “emprestada” a espada do primeiro espírito para uma guerra que seria travada, e só a espada poderia destruir o rei que...bem, não é importante. O que importa Cathy, é como conseguiu a primeira espada, a mais fatal e mais impossível de ser conquistada, e como sobreviveu?
Sentei-me na cama e encostei as costas na janela do ônibus, ele estava em movimento mas eu não via nada lá fora, apenas uma escuridão enevoada. Kristen esperava minha resposta, e eu não estava disposta a contar a ela – não na frente de Eduardo – sobre tudo que aconteceu. E Kristen estava estranha. Não parecia a menina que eu tinha conhecido com a camisa da Demi Lovato e os cabelos todo repicado, não parecia mais uma menina. Ela estava em uma postura que jamais tinha visto nela...superioridade, poder e...algo mais, algo que me irritou. Quem era ela pra querer saber “toda a verdade”?
– Quer saber a verdade é? Mas que direito você tem de saber a verdade, Kristen Smain?
– Direito? – ela estava quase gritando, um misto de raiva passou por seu rosto e me senti satisfeita com o resultado de uma única frase. – Estamos trabalhando juntos lembra? Temos que contar tudo um ao outro. Somos uma equipe!
– Equipe? – dei uma gargalhada gélida e sem humor. – Que equipe maravilhosa! Então me diga Kristen, se somos uma equipe, por que não contou a mim sobre o dia do meu seqüestro? Louis! Caos no céu...você mentiu pra mim Kristen. Todos vocês mentiram pra mim.
Eles ficaram quietos por um tempo, Kristen ainda me olhava com determinação, mas aquilo já estava começando a falhar. Estavam começando a notar o próprio erro.
– Juramos não contar a você. – Dan mantinha a voz calma, quase casual.
– Um juramento a sangue, Ca. Não podíamos quebrá-lo. Nós morreríamos. – Não gostei de como Eduardo havia me chamado “Ca” que droga era aquela? Mas não me importei no momento, estava perturbada demais com que haviam falado. Juramento? Como o que fiz com a Morte? Como o que Miguel havia feito com Louis?
– Quem fez vocês jurarem?
– Zacarias – Kristen respondeu. Ela já não emanava poder e superioridade, seu tom de voz era de mil desculpas. – Nos perdoe Cathy, Zacarias me fez jurar lealdade muito antes de eu conhecer você. Foi no dia onze.
– Comigo também – sussurrou Dan. – Não sabíamos por quê ele queria que jurássemos já que...bem, foi Eduardo quem nos chamou para virmos com vocês e ninguém sabia disso antes.
Eduardo não pareceu se abalar.
– Zacarias sabe que vocês iriam comigo se eu os chamasse...só não sei como ele adivinhou que eu iria com Cathy a missão, se ela aceitaria e o mais importante, por quê não podíamos contar a ela sobre seu seqüestro.
Todos pensavam no que ele dissera. Não conhecia Zacarias, mas pelas histórias que já li sobre ele, não parecia ser um dos melhores anjos.
– Zacarias é um arcanjo. – sussurrei.
– Sério, Anjo? – No meio de toda aquele assunto sério, Eduardo conseguia achar uma brecha pra me zombar. Menino chato. Anjo chato. Cara chato. Um chato.
– Cala a matraca Eduardo – mostrei a língua pra ele e o movimento me fez sentir outra pontada no peito. Curvei-me antes de terminar a careta, gemendo de dor. Eduardo me pegou pelas costas e tentou levantar meu rosto, mas eu já estava chorando de dor.
– Cathy? Cathy!
A inconsciência me chamava como um imã....não havia como fugir dela.
Não sei quanto tempo fiquei desacordada, mas quando abri os olhos Dan estava ao meu lado na cama e Kristen chorava ao lado dele. Eu estava deitada no colo de alguém, aninhada nos braços de alguém... e eu tinha uma leve impressão de quem era esse alguém.
Olhei pra cima e o movimento me fez bater a cabeça no queixo do alguém, ele gemeu e deu um sorriso debochado.
– Desculpe – sussurrei para Eduardo.
E me virei para Kristen, que ainda chorava.
– Por que está chorando, Kris? – perguntei.
Ela levantou os olhos, mas logo os abaixou novamente, chorando na camisa de Dan. E foi ele quem me explicou:
– Rafael acabou de mandar um recado para todos os anjos do céu, que tem esse anel – ele mostrou seu anel no dedo. – Com a mensagem clara, sua cabeça vale muito no império, Cathy. Sinto muito.
– Sinto muito o quê...?
Antes que Dan pudesse responder, Eduardo já me puxava pela cintura e caímos da cama, ele estava em cima de mim e acabei não vendo o que nos atacou. Eduardo me jogou para frente do ônibus e antes que eu pudesse piscar, Kristen já estava a minha frente, em posição de ataque. Tentei olhar para o que estava acontecendo onde segundos antes eu estava, mas Eduardo ficou na frente, impedindo minha visão.
E então Dan deu um soco em Eduardo, forte o bastante para deixá-lo cambaleando pelo corredor. Eduardo se recuperou fácil e devolveu o soco, mas Dan era mais rápido, já estava com alguma coisa na mão...minha espada. A espada da Morte.
– Não! – gritei rouca. Dan se virou para mim, seus olhos estavam vermelhos e eu não conseguia encará-los, em vez disso olhei para espada, que ainda brilhava.
Não entendi como Dan havia conseguido segurar a espada sem ao menos sentir dor, ou estava sentindo e era forte o bastante para não demonstrar? Ele fez um sinal com a mão e Eduardo foi jogado para o fundo do ônibus, com outro sinal Kristen bateu contra a janela, espatifando-a. Sangue branco escorria de sua cabeça.
– Não! – gritei novamente, tentei me levantar mais uma força indistinta me colocou no chão e me virei zangada para Dan. – Como ousa? É Kristen, Dan! Kristen, sua amiga lembra?
– Daniel não vai gostar de saber que Kristen só o considerava um amigo. É triste quando o sentimento não é recíproco.
Por que Dan estava falando na terceira pessoa?
– Quem...eu...Dan...o que... – gaguejei. Mas ele me mandou calar com um aceno de mão.
– Não é Daniel, idiota. Acha que ele teria força para dois anjos? Sou Rafael, arcanjo do céu, dominei o corpo de Lenin com o anel que ele usa na mão direita...trouxa. E você Lohan? Acha que vai ter o império para você? Deus pode estar ausente, mas as leis da criação continuam – Rafael segurou meu queixo, levantando-o para que eu o encarasse. Tentei olhar para qualquer lugar, menos para seus olhos que ardiam como brasa. – Não vai ter meu trono, Lohan. Ele agora é meu. Zacarias é fraco, tenho um exército inteiro para destruí-lo e bani-lo do céu. Mas você é o problema. Você não pode sair por ai procurando pelos Espíritos da Morte. Nenhum...que nome pra você? Que seja, pecado de Miguel, você não terá o trono e nenhuma das espadas. Estará morta antes mesmo que possa...
Rafael não conseguiu terminar sua frase, uma espada atingiu sua nuca e ele caiu paralisado. Atrás dele Eduardo segurava a espada com luvas de couro. Ele sorriu pra mim, mas eu já estava debruçada sobre Dan...onde estava Dan?
– Cathy...Se Rafael possuiu mesmo o corpo de Dan, acredito que nenhum dos dois esteja vivo agora. Sinto muito. Dan morreu quando aceitou o anel...quando você estava inconsciente, um anel surgiu na nossa frente e com um recado de Rafael, dizendo que os anjos mais importantes do céu teriam que usar o anel. Teriam. Era uma ordem. E o anel veio para Dan. Ele o pegou e o colocou....depois disso não era mais ele naquele corpo, Cathy. Nunca mais será ele nesse corpo, em corpo algum.
O sussurro de Kristen ecoou pelo ônibus silencioso, lágrimas transbordavam por meus olhos e não conseguia suportar aquela ideia. Dan não estava morto. Não podia estar. Ele era um anjo, imortal...imortal.
Levantei-me e olhei para Kristen, lágrimas silenciosas escorriam em sua face, os cabelos com mexas coloridas parecia estar sem cor. Ela perdia o brilho e a energia enquanto paralisada, olhava para o corpo de Dan. Daniel Lenin....
Abracei-a e chorei em seu colo, no começo ela ficou como uma estátua, mas logo retribuiu o abraço e chorou descontroladamente sobre meu ombro. Senti alguém atrás de mim e quando me virei, Eduardo já estava abrindo os braços e acolhendo nós duas em seu colo. Choramos ali pelo que pensei ser a eternidade, Kristen soluçava ao meu lado, enquanto Eduardo afagava seu cabelo, e meu braço.
– Dan... – sussurrou Kristen, sua voz era tremida e fraca. – Dan...ele era meu melhor amigo. Há milênios vagávamos pelo mundo, apenas nós dois e o mundo...nós éramos considerados os melhores anjos da guarda... – ela olhou pra mim, sobre as ondas de lágrimas. – Cathy...nós éramos os seus anjos da guarda. Miguel tinha que ter alguém para te proteger, mesmo com a proteção da casa. Você não tinha apenas um anjo da guarda, mas dois...seguimos seus passos e lhe protegemos do mal.
– A dupla de Miguel – sussurrou Eduardo.
– Os anjos de Miguel. – E Kristen chorou ainda mais quando pronunciou aquelas palavras. Cada família tem seu anjo da guarda. Você não tem um. Dissera Alice Lian, e agora eu descobria que eu não tinha um anjo, mas sim dois anjos da guarda. Dois anjos que me protegeram, por toda a minha vida. E que um deles agora chorava pela morte do companheiro, ao meu lado. – Ele será sempre meu herói.
– Nosso herói, esta bem? – sussurrou Eduardo, dando um beijo em sua testa.
– Sempre – sussurrei.

Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.

sábado, 9 de junho de 2012

8- "Até a Morte tem coração"


Eu me sentia tonta e fraca, como se tivesse caminhado o dia inteiro só me alimentando de soja. E ainda por cima alucinando. Sim, porque era difícil acreditar que aquilo que estava acontecendo comigo era, de fato, real. Sei que meus últimos dois dias não foram os melhores, mas voltar no tempo e conversar com a...Morte? E você ainda duvida que minha vida não seja bacana?
Eu estava de olhos fechados murmurando “Isso não está acontecendo comigo, não está acontecendo comigo. Vou abrir os olhos e ainda estarei em frente à Torre Eiffel.” E realmente, quando abri os olhos ainda estava em frente à Torre Eiffel: não exatamente onde eu queria e com as pessoas que eu queria, mas estava.
E o velho que dizia ser a Morte me encarava.
Com um grande ponto de interrogação no ar.
Ao meu lado os nazistas passavam sem me notar.
Por fim, convencida que não estava alucinando, disse:
– Então, senhor Morte, vamos conversar sobre a minha trágica vida.
– Claro, e se seu amigo ai – e apontou para Eduardo, que estudava os soldados atentamente – nos der licença.
– O que quer dizer com isso? Eu quero que Eduardo fique.
– Eu quero conversar com você, Catherine. Com você. Ele pode voltar para o ano de 2011. – E quando viu minha expressão questionadora, explicou. – Fui eu que capturei Smain, afinal, era quase impossível ter um encontro com você com toda aquela proteção...E ela agora está bem, está com Lenin no ônibus e... – olhou para Eduardo, que agora desaparecerá – também está seguro agora. Só quero alguns minutos do seu tempo, se não se importa. Por favor. É de seu interesse.
– Sim, mas... – ideias começaram a surgir na minha cabeça. – Foi o senhor quem mandou aquele cara me seguir?
– Cara? – repetiu. – Que cara?
– Nada. Nada. Ninguém. – Se não foi ele, quem foi?
A Morte pigarreou e fez um gesto para que eu o seguisse, e começamos a andar ao lado dos nazistas. E por mais incrível que parece e também vergonhoso, eu estava mais lenta que a Morte. Ele se virou, já mais na frente que eu, um olhar de preocupação estampando seus olhos:
– Aprisionar todos aqueles anjos não foi fácil como pensou, não é?
–  Aprisionar? Eu... – e me lembrei dos anjos virando pó, aquilo parecia ter acontecido a séculos.
– Aprisionar, sim. Ou acha que os destruiu? Ah, Lohan. Não tem poder pra tanto...
– E...onde eu os aprisionei? – Minha voz estava tão cansada que era quase um sussurro.
– Vão simplesmente deixar de existir por um milênio. Depois voltaram para o Império. E isso é muito interessante, só Miguel tem esse poder...parece que herdou dele, não?
Não respondi, não queria, não podia...estava cada vez mais exausta.
Sentei-me no chão, não me importando se a Morte queria ou não andar. Ele teria todo o tempo do mundo para isso.
Ele se sentou ao meu lado e por um tempo nada disse, e então começou a tagarelar:
– Você deve imaginar que eu talvez tenha gostado disso tudo: das guerras em geral. A Morte gosta de mortes, não? Não, eu não gosto de morte e destruição. O que me lembra o trecho de um livro, que infelizmente, não me recordo o nome agora: Até a Morte tem coração. Quem afinal gosta da morte? É a destruição, a dor emocional e física, é miséria, é por tudo, tristeza.
“Imagina você morrer pela honra do seu país? Um povo, um Império, um Líder. Imagina morrer por seguir uma religião, imagina morrer por simplesmente desejar a liberdade? Ninguém gosta da morte, no fundo, todos a temem. Todos temem a mim.”
“Mas só faço o meu serviço, criança. Só vago pelo mundo apanhando almas. Almas que eu desejo por tudo nesse mundo que sejam puras, honestas e – por Deus – que tenham feito algo de bom por alguém, pelo mundo. Mesmo que tenha morrido por amor, homicídio, suicídio, doença ou honra. Que tenha feito algo de bom...que tenha amor no coração.”
– Perdoe-me. Mas o que isso tem comigo?
Ele ignorou minha pergunta.
– Olhe em volta: eles estão honrando seu país. A minha França destruída. Oh, nenhuma época foi pior para a França do que esta. A minha vontade era levar todas essas almas podres e cheias de ódio, que sujaram o mundo. – A Morte parou e se virou para mim. Havia tanta dor em seus olhos, que prometi a mim mesma nunca dizer que a Morte era má. – E isso vai acontecer de novo. Com ou sem você no mundo. Vai acontecer. O maior banho de sangue na historia da humanidade. Mesmo que você lute. Mesmo que volte para casa e continue sua vida.... O que quero dizer, minha jovem, é que você vai lutar, vai ter o que necessita mas...
– Do que adiantará? Estará cercada pelas trevas. – Completei, e um silêncio pairou sobre nós.
– Você podia desistir.
Encarei o velho a minha frente, mas ele não olhava para mim, observava os nazistas. Pensei por um momento no que ele disse. Em outras palavras “Haverá um banho de sangue e você será só mais uma vítima. Desista que é mais fácil.” Pelo menos, foi isso que entendi.
– Não vou desistir. – Minha voz soou mais firme do que eu realmente estava.
– A própria profecia prevê seu fracasso.
– QUE SE FODA A PROFECIA! – gritei, e isso me fez ficar tonta. Balancei a cabeça, tentando me acalmar. – Não vou desistir. Não vou.
A voz da Morte era calma quando falou comigo.
– E você acha que seu pai merece isso?
– Ele salvou minha vida.
– Ele é seu pai. Daria a existência dele pela sua. Afinal, foi exatamente isso que ele fez, não Lohan? Ou nunca lhe contaram sobre o dia do desaparecimento de Miguel?
– Do que está falando?
– Ora, você foi seqüestrada no dia 9 de Outubro. Ou estou enganado?
Coloquei minha cabeça sobre os joelhos, queria por tudo descansar e fugir daquele assunto.
–  Está enganado...eu estava em casa nesse dia e nada de estranho aconteceu comigo.
O que era em parte uma mentira, porque naquele dia eu acordei suando por causa de um pesadelo horrível, que envolvia cenas de luta e morte, mas era um pesadelo...só um pesadelo. E eu podia ter certeza que ficara a noite toda em meu quarto.
– Então você não se lembra. Bem, fico surpreso que não tenham lhe contado a verdade. Quer que eu a conte?
– Vá fundo.
– No dia do seu seqüestro ouve uma grande falha especialmente sua, lembra-se do que fez na manhã do dia sete?
Forcei a memória, mas não muito, sabia do que ele estava falando.
– Briguei com minha e sai de casa. Mas eu voltei...na noite do dia oito.
– Sua proteção era válida apenas se você permanecesse na sua casa e não saísse de lá até os 16 anos.
– Mas eu não morava lá antes. – Observei.
– Não, a proteção era na sua antiga casa. Mas deixe-me explicar melhor: a sua proteção era válida apenas se você permanecesse morando na casa protegida, se isso acontecesse ninguém te acharia. Disso eu sei muito bem. – A Morte deu um sorriso sarcástico e logo voltou a ficar sério novamente. – Mas então você saiu de casa...e era a brecha que Louis precisava para te seqüestrar, e isso aconteceu na tarde do dia oito e durou até a madrugada do dia nove.
– Mas eu voltei na noite do dia oito – interrompi.
– Isso foi à lembrança que implantaram em sua mente. Na tarde do dia oito, eles lhe seqüestraram e a mantiveram em cativeiro no inferno. Você tem muita sorte de não se lembrar de nada, seria um grande trauma para você. Porque o inferno é terrível, sei disso por experiência própria – ele pigarreou e continuou com a história. – Miguel e todo o Império foi informado disso à noite. E é claro que Miguel já havia desaparecido muito antes de terminarem de falar, o que deixou todos em desespero...porque dizia claro na mensagem mandada por Louis...
– Mandada como?
– Por um anjo da guarda...Louis é muito mais poderoso que um anjo da guarda. Mesmo sendo um demônio, foi muito bem abençoado por Lúcifer quando foi criado. Em todo o caso, quando o anjo chegou aos berros no castelo principal, gritando “Filha de Miguel seqüestrada! Presa no inferno e acorrentada pela morte” foi um impacto em todo o céu. Primeiro por todos nem saberem da existência da filha de um arcanjo, e segundo por ser Miguel...Miguel! Bem, ele já havia sumido muito antes dos “Oh” e já estava na entrada para o Inferno muito antes de dizerem “acorrentem Miguel”.
– Acorrentem? Por que?
– Porque é um grande pecado, não sei como Miguel escaparia se saísse vivo do Inferno, mas acho que ele não pensou muito na hora. Quando chegou nas portas do Inferno, que é claro que não vou te dizer onde é, Louis já te esperava. Ali mesmo eles fizeram um acordo, cobertos por uma névoa de ilusão, para que os anjos que procuravam Miguel não os vissem. Miguel recusou ir ao Inferno para conversar.
A Morte parou, estudou-me atentamente e coçou o queixo, como se pensasse se era certo dizer o que estava na ponta da língua. Ele voltou a olhar para os alemães que passavam a nossa frente e disse:
– O acordo era sua vida por Miguel. Louis teria que te devolver para sua casa, onde estaria protegida até o dia 11 de Novembro; apagar a memória aterrorizante do Inferno e implantar outra, em você e na sua ; Curar os seus ferimentos físicos...ele havia te agredido muito naquele dia...e nunca, nunca mais, te seqüestrar novamente. Eles fizeram um juramento a sangue. Nesse juramento, se você o quebrar, você morre. Não importa se é imortal ou não. Você morre.
Se tudo aquilo era mesmo verdade, por que todos haviam mentido pra mim? Uma missão de Miguel? Eduardo, Kristen e Dan não me contaram nada...e eu pensando que podia confiar neles.  
Mas duvidas começavam a crescer na minha cabeça. Por que Miguel, meu pai, se entregou a Louis de tal maneira? Amor paterno? Duvido.
– E ele se entregou assim, sem lutar?
– Miguel nunca foi muito inteligente, mas vendo pelo lado dele, com todo o Império a sua procura e sua filha querida presa nas mãos de um demônio. Bem, eu não teria feito diferente. Mas a verdadeira razão de Miguel ter feito isso eu não sei. Terá de perguntar a ele. Se isso você conseguir entrar no Inferno e salvá-lo. O que acho muito improvável.
– E por que acha isso? Sou, pelo que me contaram, uma das criaturas mais poderosas já existente. Sou a filha do maior arcanjo, o que faz de um simples nefilim uma formiga invulnerável – tirei toda a minha força e minha coragem para colocar naquelas palavras seguintes. – Meu pai está trancafiado no inferno por minha culpa. Se alguém vai ir até lá e fazer Louis em pedacinhos, esse alguém sou eu. Não vou deixar meu pai lá. Nem que eu tenha que enfrentar o diabo.
A Morte apenas me olhou, sua expressão continuava impassível e inexplicável, mas ele fez um gesto afirmativo com a cabeça e fez surgir uma grande espada em sua mão. Uma espada toda de ouro e cabo de prata. Bem maior que meu braço e parecia ser mais pesada do que eu...parecia.
– Essa não é...a...
– Uma das espadas da Morte? Sim, é. E estou lhe emprestando, Lohan. Veja bem, lhe emprestando. Você tem até o solstício de inverno para entregar-me. E é bom lembrar: estará levando uma grande arma contigo, Lohan. Talvez, quando a tocar não sobreviva. Mas se for forte o suficiente sobreviverá. Isso depende de você e seu espírito.
– Mas...o senhor é um dos espíritos da Morte?
– Não. O primeiro espírito me entregou quando se...aposentou. Ela agora é minha. E ninguém mais além de mim e os Espíritos podem carregá-la por muito tempo. E você tem até o solstício de inverno.
– O que vai acontecer se eu não devolver até lá?
– Nada. Mas se fizer o juramento a sangue, morrerá. E você vai fazer, Lohan. Sinto muito, mas não saio entregando minha espada pra qualquer um ai sem garantia que vão realmente me entregar...você entende, não é?
– Sim...como faço o juramento? – eu estava um pouco fraca, mas um juramento não poderia tirar toda a minha energia, poderia?
– Então você está ciente que pode morrer se tocar na espada?
– É uma probabilidade.
– Ciente ou não?
– Estou.
Uma adaga surgiu em sua mão direita, a Morte deixou a espada no chão enquanto cortava a mão esquerda com a adaga. Algo branco escorreu de sua mão.
– Juro entregar essa espada a Catherine Lohan, com ela ciente da probabilidade de morrer ao tocá-la.
Ele entregou a adaga para mim e cortei minha mão direita, doeu, mas era por um bom motivo.
– Juro entregar essa espada a Morte no dia do solstício de inverno.
A Morte estendeu sua mão para que eu a apertasse. Apertei-a e nossos sangues se juntaram, uma fina luz branca envolveu nosso aperto de mão, e tão rápida como veio, desapareceu.
Logo depois ele me entregou a espada, hesitei, vi dó nos olhos da Morte, pois ele sabia: eu ia morrer.
Peguei a espada com determinação. Na mesma hora uma dor me envolveu e me prendeu, deixando-me invulnerável. Todo o ar dos meus pulmões simplesmente sumiu. Eu não respirava e meu corpo doía. Todo ele, desde o dedão do pé a raiz do cabelo. Era como se eu estivesse sendo esmagada por um caminhão de cinco toneladas. Invulnerável.
Flashbacks  de toda a minha vida passaram na minha mente: minha mãe me empurrava em um balanço, eu tinha sete anos e sorria como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo; eu chorava no colo de minha pela morte de minha mãe; o dia em que Sam me pediu em namoro; Lucia – minha melhor amiga humana – e eu fugindo as escondidas para uma festa; e Eduardo...a imagem de Eduardo sorrindo bobamente pra mim era insuportável, sua voz sussurrando meu nome, seus olhos...um abismo sem fim...Eu precisava dele. Precisava vê-lo novamente.
E de repente eu abri os olhos, arfando. Meu corpo ainda doía e eu ainda estava em 1940. Deixei minha cabeça cair de lado e vi a Morte me observando, intrigado. Era tanta dor! Eu queria a morte mais que tudo e ironicamente ela estava bem ali, ao meu lado, me observando.
– Um calcanhar de Aquiles, Lohan? – sua voz era distante, como se pertencesse a outro mundo. –  Oh! Catherine Lohan, o pecado de Miguel, perdidamente apaixonada por Eduardo McLean. Ah, Lohan! Lembre-se: Coração destruído. Amor proibido.
Um grito agudo soou pela minha boca e me espremi de dor. Eu não enxergava e não ouvia nada. Não sentia nada. Só dor. A dor era tudo que eu podia me agarrar.
Eu era uma boneca de pano tentando vencer uma tempestade.


Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.