terça-feira, 24 de julho de 2012

17- Os peregrinos na América do Sul


Afastei-me de Eduardo como quem diz “não quero nada contigo”; tudo bem que eu gostei e até estava sorrindo, mas isso não explicava que eu devia ficar ali me agarrando com ele enquanto minha amiga, Kristen, estava ferida do outro lado do quarto.
– Sai de mim, Eduardo. – Resmunguei, deixando-o boquiaberto. – Até parece que nunca me viu.
Consigo ser muito egoísta quando quero. O que é quase sempre.
O quarto em que estávamos era pequeno e desconfortável. Com uma cama a um lado, uma mesa de bar perto da janela aberta  e um pequeno armário do outro lado; não havia muito espaço para circular. Muito menos para empurrar alguém.
Dei a volta na cama e me sentei ao lado de Kristen, que ainda ferida, sorria. É incrível o bom humor de algumas pessoas.
– Você esta bem? – perguntei. – É claro que não, que pergunta a minha!
Kristen respirou fundo e apontou para a cama. Franzi o cenho e ela revirou os olhos, impaciente.
O lençol da cama, sussurrou na minha mente. Estou nua, Cathy.
Depois de dois segundos, eu enfim, fui entender. Kristen deu risada tristonha quando expulsei Alice da cama e puxei o lençol. Eduardo já de pé olhando pro teto.
– Aqui – entreguei o lençol rosado a ela e a ajudo a se cobrir. Quando o tecido encostou-se na suas cicatrizes (antes as suas asas), este ficou cheio de sangue. – Ai meu Deus, as suas costas!
– Esta tudo bem, Ca. Já vai parar de sangrar...acho.
Alice veio até nós, pediu para que Kris se deitasse e tocou suas costas. Murmurando palavras desconhecidas, o sangramento logo diminuiu, e imaginei que a dor também.
– Maldito Zacarias – xingou Kris, o rosto enterrado no colchão enquanto Alice cuidava dela. – Ele ainda vai pagar pelo que fez.
– Falando nele – disse Eduardo fechando a janela (como se isso fosse impedir algo). – O que aconteceu?
Contei a eles tudo que havia me acontecido desde o dia em que voltei no tempo e perdi minha memória a como de repente Zacarias resolveu nos libertar. Alice nada disse durante minha narração. Quando terminei só se ouvia o som da vida urbana lá fora e os murmúrios de Alice, já chegando ao fim de sua cura.
– Então – observou Eduardo. – Sammy não te traiu. Mas sim, neste momento, te espera em Nova Jersey.
Bufei como uma criança.
– Tanto faz – repliquei. – O que quero saber é porquê Zacarias nos mandou para cá...E que droga foi aquela Alice?! Mereço boas explicações.
Ela não respondeu de imediato, ao invés disso virou Kris de barriga para cima, a cobriu com um novo lençol que encontrou no pequeno armário e passou de leve a mão no rosto dela . Kris dormiu. Virou-a novamente e se levantou da cama, parecia cansada.
– Achei muito estranho o comportamento de Sam. Fico pensando – hesitou, escolhendo as palavras certas –, será que isto tudo aconteceu realmente ou é apenas obra da sua mente? E de alguma forma interligou a minha mente com a sua para que eu a visse em um cenário imaginário. Talvez...
– Não há talvez – interrompi-a. – Aconteceu de verdade. Voltei no tempo e sofri um acidente. E, se fosse mesmo coisa da minha mente, ora...como pude viajar nas sombras, por todos aqueles dias?
Foi Eduardo quem respondeu, num tom de superioridade e Senhor Criatividade.
– Suponha-se que quando a mandei para o passado, por erro meu, o seu corpo tenha adormecido em algum lugar desconhecido ou continuado no presente. E a sua mente fora para o passado e para a surpresa de todos criou os acontecimentos daqueles dias. E para uma surpresa ainda maior, quando sua mente viajou nas sombras, buscou seu corpo (onde estivesse) e o trouxe aqui para o céu, por este motivo demorou tantos dias para chegar ao Departamento. Seu corpo estava indo ao encontro de seu espírito. É um bom argumento para explicar a facilidade em que saiu do hospital  e que cortou seus cabelos, pois já estavam cortados; e também, é claro, do taxista chamado Benet. Que pra mim é nome de mulher.
Seguiu-se um silêncio depois disso. Por fim zombei:
– Já pensou em escrever um livro Eduardo?
Mas Alice parecia ter levado a teoria mais a sério do que eu.
– E eu, como anjo da guarda dela, estava vendo o seu eu espírito e não o seu corpo. Perfeito Eduardo, perfeito!
Lembrei como estava estranha naquele dia, cheia de ódio e ressentimento; e um alívio tomou conta de mim. Não precisaria mais ir ao psiquiatra!
– É...bem... – gaguejei. Recompus a voz. – Até parece fazer um pouco de sentido. Claro, claro. – E para me livrar do assunto constrangedor (e não menos curioso) falei: – Alice querida, você ainda não respondeu a minha pergunta.
Alice se sentou em uma das cadeiras da mesa de bar perto da janela fechada. Permaneci em pé. Eduardo deitou na cama com cuidado para não acordar Kris, parecia desinteressado no assunto.
– A história de minha raça – a minha história – ela é tão intensa e repleta de leis que, se eu fosse lhe contar tudo...além de perdermos tempo com algo desnecessário; encheria sua mente com informações pesadas demais para você. Apenas saiba que eu sou, apesar de não parecer, velha. O primeiro anjo da guarda da história da Angelologia.  É claro que não viu meu nome em nenhuma de suas estórias ou pesquisas. Primeiro que meu nome não é Alice Lian; segundo que nunca, nem mesmo se estiverem arrancando meu pescoço eu diria meu nome. Por que? Porque aquele que possuir o verdadeiro nome de um anjo terá total controle sobre ele.
– Interessante – comentei, imaginando como seria ter o verdadeiro nome de Zacarias.
– Fale por você. Duvido que ia querer alguém te controlando.
– Mas isso não explica o que aconteceu entre você e Zacarias. Há não ser que...que...
Alice me interrompeu antes que eu pudesse concluir o pensamento.
– Não, eu infelizmente não tenho o nome dele. O que acontece é que como eu sendo o primeiro anjo da guarda, ele não tem poder sobre mim. Ou seja, não tem autoridade para arrancar minhas asas e me expulsar do Céu. Como fez com Kristen.
– O imperador que tem essa autoridade? – pergunto, tentando entender o que dizia, pois ela já parecia impaciente.
– Sim – respondeu. – E sempre foi Miguel quem cuidou disso. Não é todo dia que tal acontecimento é presenciado no Céu, pois, como deve saber, os anjos do Céu sempre foram...certinhos, a ponto de ser raro um anjo perder as asas desse modo.
Eduardo que pensei que tinha adormecido, murmurou da cama:
– E Zacarias na liderança? Vai ter chuva de anjos. Há não ser que estes se juntem a eles como parte de seu exército particular.
– Poxa! – exclamei. – Isso ainda não explica o por quê dele ter nos libertado com tanta facilidade.
Eduardo deu de ombros e Alice também. Ou eu era burra demais ou eles não tinham a resposta da minha pergunta.
Passaram-se alguns minutos e resolvi sair daquele quarto abafado e sem graça. Precisava de ar fresco e pensar direito.
Fechei a porta com cuidado ao sair.
Dei com um corredor vazio e velho. Perto do quarto onde estávamos havia uma escada, caminhei de leve até lá, o tempo todo olhando ao redor.
Pelas minhas experiências literárias tudo indicava que eu estava em um hotel de quinta categoria. Rachaduras nas paredes e chão sujo e mal cuidado; nos cantos do teto até jazia algumas teias de aranha, marcando a falta de limpeza. Ouvi passos atrás de mim mas não me virei, já sabendo quem era.
– Acho que devíamos sair daqui – Eduardo apareceu a meu lado. – Mas no estado em que se encontra Kris, não sei se ela agüentaria uma viagem...ela esta péssima Cathy, não só fisicamente.
– Eu sei – foi à única coisa que disse.
– Ela precisa de você.
– E eu preciso dela.
Ficamos nos entreolhando por um tempo, seus olhos preocupados não apenas por mim, mas por Kris também. E vi que ele gostava dela, uma amiga de verdade.
– E Alice? – Pergunto a ele.
– De olho em você – ele suspira. – Deve ser horrível ter alguém lendo até seu menor pensamento.
Eu não pretendia discutir este assunto com Eduardo, portanto não respondi. Desci a escada, ele atrás de mim.
Um, dois, três andares...Um bom exercício físico.
– Sabe onde estamos? – pergunto a Eduardo.
– Ainda não.
Chegamos no primeiro andar. Nenhuma novidade: era um saguão pequeno e velho e não havia ninguém ali. Estava começando a pensar que aquele lugar estava abandonado e quase a destruição. E isso não foi nada animador.
– Vamos lá fora ver isto – mas eu já estava lá olhando ao redor. – E ai?
Minha risada sarcástica já responde a pergunta dele.
Estávamos em frente a uma rua larga – comércios, casas e até um pequeno e velho salão de festa. A rua não era grande mas era bem movimentada. Alguns meninos jogavam futebol no final da rua e do outro lado três meninas arrancavam os cabelos de uma boneca. Tinha também alguns adolescentes aparentemente revoltados, já a nossa frente, fumando algo que não reconheci.
– Viemos parar numa favela, só pode! – xinguei via pensamentos Zacarias, pela sua falta de companheirismo.
Eduardo colocou a mão na boca tentando não rir.
– Como um bom narniano, não vou deixar de explorar isto aqui. – Ele segura minha mão enquanto rio de sua comparação aventureira.
Descemos pela rua e demos com uma praça típica de uma cidade do interior. No centro da praça uma estátua empoeirada  – águia com o bico aberto –, chamava atenção; jorrava água aos lados. Nos sentamos em um banco e observamos uma menina brincar de quebra-cabeça.
Ou melhor, eu observei – Eduardo não tirava os olhos de mim.
Ajeitei meus óculos como uma boa leitora. Uma folha amarelada caiu em meu rosto. Sorri, Eduardo a tirou para mim, sorrindo com a leveza do movimento. Ele deitou em meu colo com uma intimidade assustadora; não soube o que fazer por dois longos segundos, depois comecei a fazer cafuné em seus cabelos bagunçados que me tiravam o fôlego.
– Esta brava comigo? – ele pergunta num sussurro.
– Não. Deveria?
–  Sim – ele se vira pra mim, seus olhos num misto de confusão. – É muita informação pra você, e mesmo não sendo um momento correto, queria lhe entregar isto. Ele se senta a minha frente e procura algo no bolso da jaqueta, tira de lá uma caixinha de veludo preta. Abre-a e de dentro um reluzente colar de prata brilha para mim. Ele a tira da caixinha e se curva sobre mim, colocando-a em meu pescoço. Olho para o pingente: uma asa. Só uma. – Psiu – chama, e puxa uma corrente do bolso dele, com uma asa como pingente. Ele a coloca no pescoço e ela faz um timbre engraçado quando bate em seu peito, não havia dito nada até aquele momento.
– Uma completa a outra?
– Sim – ele sussurra. – E eu gosto de você.
Eduardo afasta uma mecha de cabelo do meu rosto, seu toque era como uma corrente de eletricidade; ao sol daquela manhã, na cidade desconhecida, uma calma se apoderou de mim. E pela primeira vez depois de dias eu me senti segura, pois eu estava ao lado dele.
Ficamos sem saber o que diz por um tempo. Apenas o modo como ele sorria – de canto de boca – e brincava com a borda de minha blusa; o silêncio se tornava confortável. Não queria ser eu a quebrá-lo.
– Acho que só vou me sentir bem depois que você me perdoar.
– Mesmo eu não tendo gostado; você fez aquilo pra me proteger.
– É.
– Bobo você.
Ele sorri, seus olhos sorrindo, seus lábios sorrindo, sua face e seu coração sorrindo.
– Vem cá, vem.
Deixo que ele me abrace e sussurre palavras positivas em meu ouvido. Estava precisando de um ombro-amigo.
– Cathy?
– Sim?
– Esta pronta pra mais uma aventura?
– Não.
Ele ri novamente, desta vez o acompanho.
– Vamos voltar ao hotel. Precisamos sair deste lugar.
– Pra onde?
– Acho que Brasil.
– Não. Eu odeio sol! – aquela ideia não estava me deixando nada feliz.
Ele se levanta e me puxa para perto dele, começamos a caminhar de volta ao hotel.
– Você é meio doida.
– Não quero ir ao Brasil – minha voz chorosa e infantil.
– Você vai perder a discussão. Vamos ao Brasil.
– Mas eu odeio sol! – tentou me afastar dele, do seu braço em minha cintura. Ele me puxa para si novamente, me apertando contra sem peito.
– Compre protetor solar. – Como se protetor solar diminuísse o calor. Passamos pelos adolescentes e entramos no hotel abandonado, que tinha três andares e estava pinchado.
– Odeio sol – digo novamente, para implicar.
Ele para, me lança um olhar de “cale-se?” e um sorriso torto. Bagunça o cabelo em um sinal de impaciência e diz:
– Pequena, você tem probleminhas.
Que jeito carinho de dizer que minha mente não funcionava como devia funcionar.


Quando voltamos ao quarto de hotel Eduardo teve uma longa e cansativa discussão. Alice achava o ambiente seguro, sempre dizendo que não era Zacarias o inimigo e sim Lúcifer. Eduardo era totalmente do contra.
Depois que Kristen concordou e apoiou Eduardo em sua ideia, Alice cedeu e resolvemos que íamos para o Brasil. Onde, de acordo com muitas pesquisas de Eduardo – feitas durante as semanas de prisão no castelo – indicava que um dos Espíritos da Morte curtia um sol. Quem sou eu pra reclamar, não é?
Uma boa observação é que ninguém parecia se incomodar com a bondade de Zacarias. Eu tinha muitas dúvidas e uma delas era se ele estava apenas brincando com nós ou se sentia medo de nós. E Louis, o demônio que seqüestrou meu pai vagando pelo Céu; já não sabia o que estava acontecendo mas fiquei com as perguntas pra mim, sem ousar desabafar com ninguém.
Logo depois das duas da tarde Eduardo saiu pra comprar algo para eu comer, descobrindo que estávamos em uma pequena cidade do Paraguai e que o hotel estava oficialmente abandonado.
– Pelo menos não vamos precisar sair do continente! – exclamei, quando Eduardo voltou com a notícia.
Partimos no final do dia para um hotel de estrada fazendo o possível para que não suspeitassem de quatro adolescentes sozinhos em um ônibus. De acordo com Alice, estávamos seguros, pois ninguém podia nos encontrar – ela estava nos protegendo –, já ouvi esse papo antes, quase disse a ela.
E mesmo que eu não gostasse da ideia de perambular por um país desconhecido – língua estranha para mim, costumes e crenças diferentes – tentei ao máximo evitar brigas desnecessárias.
– Iremos passar a noite aqui – idealizou Kristen, as feridas em suas costas aparentavam melhora e todos nós já prevíamos a cicatrizes curadas. – E depois que minhas...cicatrizes estiverem menos sensíveis, partimos ao Brasil. Se todos estiverem de acordo.
Ela olhou diretamente para mim. Ninguém disse nada, portanto alugamos dois quartos. Um deles  Alice, Kristen e eu dividiríamos; o outro Eduardo o teria por inteiro.
– Aproveito para estudar a região – justificou. Ninguém tentou argumentar.
Há noite, quando Kris e Eduardo trocavam informações sobre o Espírito da Morte (ninguém sabia como encontrá-lo) e pesquisavam algo na internet; fui e sentei no chão ao lado da cama de Alice, onde ela estudava um mapa, concentrada.
– Alice? – chamei.
– Sim? – ela nem sequer tirou os olhos do mapa.
– Você pode fazer aparecer coisas, não é? – Eu já sabia que sim, mas estava cautelosa naquele dia e precisava ir aos poucos...mais com medo da resposta do que qualquer outra coisa. Alice assentiu. – Eu posso? – tentei explicar direito. – É que, eu fiz aparecer meus óculos e cortar meus cabelos...
– Foi tudo obra da sua mente – resmungou, como se isso a entediasse. Eu estava ficando desesperadamente triste.
– Mas, se foi obra da minha mente, por que apareci com a roupa que vesti no Hospital no Departamento? Eu não deveria ter aparecido com a que eu estava usando no...ônibus voador?  
Já tinha começado a gaguejar com a baboseira que falava.
Alice tirou os olhos do mapa; parecia não ter resposta para minha pergunta.
– Tente fazer parecer alguma coisa – pediu.
Imaginei um pequeno caderno de capa preta a minha frente; cheguei a fechar os olhos. Nada aconteceu.
– Ah – não sabia o que dizer. – Talvez seja mesmo coisa da minha cabeça.
E me joguei na cama ao lado, meus pensamentos em um turbilhão de confusão.
– Quer um caderno? – Alice pergunta, ela estava tentando ser legal.
– Ficaria agradecida. – Meu tom de voz foi rude; não conseguia aceitar o fato de tudo não ter acontecido. Um caderno como imaginei apareceu em meu colo: de capa de couro e na frente emoldurado com meu nome, não...não era meu nome, era “Cathy McLean”. Virei emburrada pra Alice.
– Tira. Isso. Daqui.
Ela afundou a cabeça no travesseiro e riu – a risada controlada e educada que tanto a pertencia.
As letras desapareceram e no lugar de “McLean” apareceu “Lohan”.
– Bem melhor – retruquei, sorrindo. – Ainda vou me acostumar com a ideia de tudo aquilo não ter sido verdade...ainda vou.
– Você ainda vai passar por muita coisa...estranha – ela disse. – Isso não foi nada.
Não podia ter recebido noticia melhor.
Peguei uma caneta na cabeceira ao lado e abri o pequeno caderno. Na primeira página escrevi:

Este diário pertence à Catherine Lohan.

Virei a folha.

“A ninguém será contada a história do outro.”
- C.S. Lewis.

E na folha seguinte:

Dezembro, 16 de 2011.

Já é noite e as estrelas brilham atrás das nuvens acinzentadas...Meu cansaço mental esta sendo maior que o físico. Não vou mentir, desde o dia de meu suposto acidente de carro me sinto desnorteada. É isso, desnorteada e perdida. Seriam estas boas palavras para me descrever?
Nada parece explicar o que aconteceu no castelo. Teria Zacarias medo de Alice? Ora, nas situações em que me encontro nada mais me surpreende!
Hoje de manhã saímos do hotel abandonado e partimos para a cidade vizinha, onde nos hospedamos em outro hotel – bem melhor que o anterior, este ao menos tem banheiro. Estou sendo um pouco negativa, mas duvido que alguém no meu lugar estaria em humor mais saudável. Um dos motivos do meu mau espírito é as dúvidas que parece não haver respostas que possam me aliviar e me deixar em paz. O outro é que me lembrei que ainda estou namorando, o que quer dizer que traí Sam com Eduardo.
Alice e Eduardo brigam o dia inteiro e de alguma forma o temperamento de Alice acaba me afetando e também me deixando irritada. Não gosto disso, eu era brincalhona e animada até mesmo nos piores momentos. Já não sei mais o que esta acontecendo comigo.


Dezembro, 17 de 2011.

Kristen acordou muito melhor e ordenou que fôssemos para o Brasil imediatamente. Pois após conferir seu cofre imaginário e ver a Espada da Morte levou um baita susto de realidade e de repente estava melhor. Eu não entendo nem o meu humor, imagina a dos outros não é?
Agora estamos todos dentro do avião que chega em São Paulo ainda hoje. Implorei a Kristen que me deixasse sentar ao lado da janela e para minha alegria ela aceitou. Neste momento Kris esta roncando “suavemente” ao meu lado. É tarde e estou me enfartado de chocolates  enquanto escrevo isto aqui. Acho que teremos uma parada em Belo Horizonte. Os detalhes da viagem ficaram por conta de Eduardo, que tem mantido uma relação amigável comigo. E quando digo “amigável” é bem mais amigável que possa imaginar. Ele quase me beijou hoje de manhã, mas desviei e o deixei no vácuo (pediu desculpas dizendo que havia tropeçado). A cada hora que passa percebo o medo que ele esta sentindo de me perder...não quer desperdiçar um minuto ou meio segundo; e o pior é que eu o entendo. Mas preciso de tempo, há muito venho notando o número crescente de responsabilidades me cercando. Acho que não é época para relacionamentos amorosos – mesmo eu gostando dele.
Neste momento ele esta discutindo com Alice, atrás de mim. Vou ver se encontro meus fones.


Chegamos em Belo Horizonte. Céu estrelado e sem nuvens; árvores para todos os lados e língua embolada...nada mal.



Guardei o caderno – agora meu diário – na bolsa que Alice me deu. Caminho com mais rapidez para alcançar Kristen, que tinha parado pra me esperar.
– O que estava escrevendo? – Ela pergunta, enquanto penteia os cabelos  com os dedos (dormiu a viagem inteira). As mechas rosas e azuis brilhavam com mais intensidade do que antes, e isso me fez sorrir.
– Nada demais – respondo, enquanto entrelaça seu braço no meu. – Quando será que esses dois vão parar de brigar?
Aponto com a cabeça para Alice e Eduardo, alguns passos à frente. Os dois pareciam discutir um assunto sério. Apressamo-nos pelo aeroporto lotado; não estava em nossos planos nos perdermos em um país enorme como o Brasil.
– Quanta infantilidade Alice! – Eduardo a repreende. – Ai vem Cathy e Kris; vou perguntar a elas.
Eduardo se aproxima de nós e entrelaça seu braço no meu. Alice emburrada bate o pé impaciente.
– Qual o motivo da briga desta vez? – pergunta Kris, tentando disfarçar o tom sarcástico na voz.
– Alice quer passar a noite aqui e viajar amanhã de manhã – e afina a voz. – Eu detesto aviões e mereço uma noite de sono.
Nós caímos na gargalhada. Alice nos faz calar com um olhar de advertência.
– Vamos ou não viajar esta noite?
– Acho que devíamos viajar agora – digo, dando uma piscadela para Eduardo. Ele retribui. – Até porque dia 21 esta chegando como um furacão. Todos sabem o que acontece quando chegar não é...
Eles concordaram com meu argumento e Alice joga aos para cima, rendendo-se.
– Tudo bem – diz. – Eu me rendo, com uma prioridade: não viajo ao lado do Eduardo nem por uma praia inteira.
E assim fica decidido: Kris e Alice; Eduardo e eu. [Por favor não leve a malicia o fato de eu passar uma noite com Eduardo.]
Às 22:30 embarcamos. O avião levantou voou e ataquei o pote de sorvete que infelizmente tive que dividir com Eduardo.
– Já acabou – choraminguei, quando passei a língua na colher cheia de sorvete de abacaxi ao vinho. – Você comeu tudo sozinho!
Ele fez uma careta muito engraçada de espanto.
– O quê?!
Jogo a cabeça para trás em uma risada maléfica.
– Ta passando uma aeromoça, vai lá dar em cima dela vai – empurro ele enquanto se levanta para falar com a aeromoça ruiva. – Aproveita e pede bombons...to aceitando trunfas.
Eduardo olha pra mim sobre o ombro com um sorriso zombeteiro e sussurra em minha mente: Esta falando com o deus da sedução, gata.
– Convencido – murmuro pra mim mesma, rindo. Deito-me na minha poltrona e na dele, pensando se as trunfas seriam de maracujá ou de limão...e em como ele era idiota.




 Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.



5 comentários:

  1. Ameiiiiiii
    Valeu a pena a espera
    ficou Ótimo

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  2. Carol, você é um gênio. Te desculpo por me fazer ficar esperando diias, tá? kkkkkkk. Tente não brigar mais com a mãe, viiiu?
    \Larissa/

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  3. Muuuito perfeito, valeu a espera!!

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