segunda-feira, 4 de junho de 2012

5- A bordo do ônibus voador.



Uma garota de mais ou menos 16 anos explodiu sala adentro. A primeira coisa que se via nela era o cabelo, repicado e vermelho berrante com as mexas nas pontas, azul. Ela vestia uma camiseta com a foto da Demi Lovato, com um sorriso do tamanho do mundo, abaixo estava escrito “My queen. Always stay strong”. Não pude deixar de sorrir, a Demi sempre foi um exemplo de superação, e olha só! Um anjo Lovatic! Ela vestia jeans normais e sapatilhas pretas. E linda. Apesar do cabelo todo repicado. Era linda. Suas feições  perfeitas, não havia sinais de adolescência (espinhas, manchas, cravos...) e as sobrancelhas ligeiramente levantadas dava uma impressão de desafio. A boca fina e os olhos castanhos a deixavam simples. Se não fosse o cabelo.
 – Alguém ai disse “aventura”? – exclamou. Sua voz era um pouco grossa, mas ao mesmo tempo fina. Vai entender...
– Opa, opa. Chegou! – Eduardo a cumprimento com um beijo em sua mão...que clássico. – E cadê Daniel?
Ela deu de ombros e olhou para o corredor vazio a suas costas, um sorriso zombeteiro no rosto.
– Ele tropeçou no próprio tênis e deixei o elevador fechar, e provavelmente deve estar vindo pelas escadas.
Os dois soltaram uma grande gargalhada e pelo canto do olho vi Sam sorrindo pra menina, um tanto tonto.
– Ahh! Essa aqui é Cathy – apresentou-me Eduardo para a garota. – E Cathy, essa é a Kristen Smain.
Ela acenou com a cabeça e dei um tchauzinho idiota com a mão. Ela se virou pra Eduardo ainda sorrindo, ela bem mais baixa que ele, até parecia uma menina de 13 anos.
– É a filha de Miguel? Não se fala de outra coisa...acabei de voltar do castelo dos Arcanjos e está tendo a maior rebelião lá – ela tossiu e imitou uma voz grave e masculina: – Então eu mato Catherine Lohan. Duvido que ela tenha algum tipo de imortalidade... – ela tossiu novamente e imitou uma voz fina e feminina: – É claro que não! Eu a mato! – Kristen deu uma risadinha sarcástica e se virou pra mim, uma careta de reprovação no rosto. – Se eu fosse você dava o fora daqui. Está em território inimigo.
Sorri. Tentando, mas não conseguindo me manter calma.
– É, talvez eu deva mesmo...
– É – concordou Eduardo. Agora já não sorria mais, emanava um tom sério na voz. – Vamos esperar o Daniel e já partimos.
Sam se levantou, ainda olhando pra Kristen. Uma pontada de ciúmes me pegou desprevenida.
– Eu vou!
– Já disse que não! – ordenou Eduardo. Vi pelos cantos dos olhos Kristen revirar os olhos, como se aquilo a entediasse. – Você volta pra casa.
– Como? – perguntei.
– Alice, dê um jeito nele... – hesitou, e depois corrigiu. – mande-o para casa.
Alice sorriu pra Sam e de repente ele não estava mais lá. Imaginei se ele vomitaria muito quando chegasse em casa...coitado.
– Mandou-o mesmo para casa? Em Nova Jersey?
– É claro que sim, menina. Agora é melhor vocês irem, não quero encrencas no meu escritório.
– Venha Cathy...vamos. Encontraremos Dan no caminho. – disse Kristen Smain.
Despedi-me de Alice com um tchau desconcertante e os segui corredor afora. Quando estávamos chegando ao elevador um menino de mais ou menos 20 anos veio sem fôlego pelo outro lado, da escada. Ele até poderia se aparecer com Sam, se não fosse o fato de seus cabelos serem castanhos e os olhos verdes, tão verdes que qualquer um se perderia neles. Quando Kristen e Eduardo o viram começaram umas gargalhadas descontroladas, e me vi sem graça em meio à intimidade deles...não deveria estar ali, pensei.
– Não tem graça – a voz do garoto (homem?) era grossa e firme. Olhava Kristen como se ela o tivesse jogado em uma poça de lama e saído correndo. – Eai? Qual a história, Eduardo?
– Hm. Conto-te em Nova Jersey...antes... – Eduardo se virou para mim, apresentando-me novamente. – Essa é a Cathy...Cathy Lohan.
Ele se virou e me cumprimentou com um “alô”, sorri.
– Se não é a menina mais procurada do céu!
Meu sorriso desapareceu na hora.
– É, pra você ver a injustiça. – Tentei sorrir, mas meu humor havia viajado pra Oceania.
Kristen tossiu e indicou o elevador com a cabeça, entramos e partimos.



– Faça uma mala rápido...
– Minha ...
– Cathy, terão de confundir a cabeça dela.
– O quê? E meus amigos! Eu não posso simplesmente ir embora...
– Está preocupada com escola?
– Meus amigos...
– Você terá que viajar...vai mudar de pais. Talvez volte.
– Eu terei que ir à escola...
– Sua vó resolverá tudo isso, está bem? Por enquanto, só arrume as malas.
Eduardo havia vencido na discussão. E apesar de a ideia de não precisar mais ir à escola fosse tentadora, não conseguia deixar de pensar nos meus amigos...Sam...Lijia! Não podiam confundir a cabeça dela! Eu não deixaria!
– Como vai confundir a cabeça dela, Eduardo? – sussurrei enquanto jogava umas roupas na mala e ele terminava de contar a Kristen e Dan sobre o “plano” e tudo o mais.
– Eu? Você vai.
– Eu? Não! Não! Não sei...não!
Dan se mexeu desconfortável na poltrona da minha escrivaninha, ele mexia sem permissão nos meus livros.
– Você não pode continuar assim, Cathy. Com medo...
– Não to com medo. É só que...só...
– Só o que? – perguntou Eduardo.
Meus olhos encontraram os dele e de repente eu queria fazer aquilo, queria confundir a cabeça de minha . Não iria deixar ninguém pensando que eu era uma fracassada e medrosa. Muito menos ele.
Uma raiva explodiu dentro de mim. Era isso que eles queriam, que eu fracassasse nessa missão. Que se foda eles, eu iria salvar meu pai. Ele salvou minha vida uma vez e eu salvaria a dele agora, mesmo que nós não nos conhecêssemos...eu pegaria o desgraçado do filho de Lúcifer e o faria em picadinhos. É isso ai.
– Então ta! – disse, me virei pra minha mala, ainda faltava muito. Olhei para o guarda-roupa e fiz um gesto com a cabeça, escolhendo cada roupa com um olhar, com outro gesto gesticulei para que elas fossem pra mala. As roupas flutuaram até a mala e se dobraram sozinha, todas que eu queria. Até as que não estavam em minha visão. Sorri. A mala fechou, trancou-se e veio pra mim. Olhei pras minhas roupas do corpo: uma camiseta do meme “poker face” e um jeans desbotado. Meu all-star vermelho estava em ótimo estado. Já havia tomado banho antes de sair e ainda era 15:00 horas. Dei de ombros e carreguei a mala para a porta, passando direto por Eduardo, Dan e Kristen.
Lijia estava tricotando na sala, ela tinha me visto chegando mas eu não dera explicações a ela. Os outros tinham ido diretamente para o quarto. Deixei a mala no corredor e fiquei em sua frente. Ela sorriu e continuou a tricotar. Senti-me uma idiota, não sabia como fazer aquilo e não queria fazer aquilo. Mas ao mesmo tempo queria.
? – chamei.
– Oi. – Disse, se virando pra mim.
Encarei aqueles olhos castanhos e respirei fundo, concentrando-me.
Vó. Vou viajar, não sei quando volto. Quero que diga a diretoria da escola que sai do país. E se alguém perguntar, diga que estou viajando e que talvez eu volte. Talvez. Fui para o...México, está bem? Fui morar com minha tia que mora lá. Está bem?
Ela piscou e voltou a tricotar.
– É claro, Cathy. Boa viagem.
Oi?
– Vai disser isso a eles? Vai fazer isso, ?!
– Claro que sim... volte quando quiser.
Então funcionou, pensei. Funcionou!
– Obrigada. Obrigada. – Dei-lhe um beijão no rosto e corri para o quarto, com um sorriso de orelha a orelha.
– Consegui! Consegui! – falei a eles. Eduardo deu um sorriso “Viu? Eu tinha razão” que me fez revirar os olhos.
Kristen deu um pulo da cama, feliz. Dan deixou cair um livro...estava fuçando as minhas coisas! Voltei até o meio do corredor e peguei a mala, depois voltei ao quarto e disse.
– Vamos....alias, pra onde vamos? – ri.
Foi Dan quem respondeu, ainda corado por tê-lo flagrado.
– A França...ouve uns boatos de que um dos Espíritos da Morte vivia lá...o cara é francês!
– A França? Que máximo! Sabe onde encontrá-lo? Como vai ser?
Todos nós viramos para Eduardo.
– É, teremos de rastreá-los...bem, veremos quando chegar lá não é? Afinal, já temos uma grande informação. Ele está na França!
Eduardo pegou minha mão e nos arrastou até Kristen, segurou a mão dela e ela segurou a de Dan, não deu nem tempo de franzir o cenho e já estávamos viajando na escuridão assustadora.
Aparecemos em um beco escuro, acho que ainda estávamos em Nova Jersey, não deu tempo de mudar de continente.
– Opa, lugar errado – riu Eduardo.
Mergulhamos novamente na escuridão e agora estávamos em uma grande garagem vazia...exceto por um ônibus amarelo berrante no centro. Íamos de ônibus?
Kristen correu até o ônibus gritando algo como “eu fico na cama da direita” e Dan logo atrás dela, eu ainda me recuperava da viagem.
Notei que Eduardo ainda não havia soltado minha mão, olhei para nossas mãos entrelaçadas e ele fez o mesmo, ambos franzindo o cenho. Larguei-a e a ocupei com a mala, a mão de Eduardo continuava no mesmo lugar.
– Venham logo pombinhos! – gritou Dan, já no ônibus.
Corri sorrindo (Não, não gostei da brincadeira! É sério, pare de rir!) e entrei no ônibus, senti Eduardo correndo logo atrás.
Entrei e fui para o fundo, como em uma excussão de escola. Dentro do ônibus havia camas, como um grande trailer. Quatro camas, duas de cada lado e um armário pequeno em cima de cada uma. Ao fundo do ônibus tinha um grande sofá e me joguei nele, colocando o pé em cima do banquinho-almofada que estava na frente.
Eduardo entrou logo depois e jogou uma mala na segunda cama da esquerda. Kristen jogou outra na cama da direita, e Dan na segunda cama da direita. Só sobrou a primeira cama da esquerda. Epa, volta tudo.
– Dá onde tiraram essa mala? – disse, me levantando e seguindo até a cama que sobrou pra colocar a minha mala.
Todos sorriram como se compartilhassem uma piada particular que eu não devia saber. Mas não deu tempo deles responderem, pois de repente Dan ficou muito sério. Toda a atenção foi para ele.
– Oh! Oh, não!
– O que foi, Dan? – exclamou Kristen. Então ela também ficou ereta, os olhos arregalados.
– O que é? – gritei.
Dan se virou para mim, respondendo, mas como se não estivesse ali.
– Estão vigiadas todas as estradas...todos os meios de viagem...não poderemos viajar nas sombras, Eduardo...vai ter que ser a transporte humano. – Ele voltou a si, e olhou em volta, como se esperasse que algo fora do normal acontecesse. – Vamos ter que tomar muito cuidado. Kristen, cuide da proteção do ônibus. Eu dirijo.
Kristen se morreu com rapidez, saiu do ônibus e começou a andar em volta dele, de olhos fechados e murmurando palavras desconhecidas. Em alguns segundos estávamos cercados de uma névoa densa demais para enxergarmos do lado de fora, a garagem havia desaparecido.
– Ela é boa nisso! – disse Eduardo.
– Hm – fez Dan. – Você não ouviu, Eduardo?
– O quê?
– Bem...Zacarias mandou uma mensagem...
Mas não deu tempo dele terminar a frase, Kristen entrou no ônibus e o fechou, olhou para o teto e pronunciou alto e claro:
“À luz e as trevas;
Anjos e Demônios;
Eis de sermos a névoa.
Invisíveis aos olhos de quem nos perseguem.
Protegidos por Deus e pela fé.
Nada nos verá.
Nada aparecerá.”

O vento tremeluziu e Kristen desmaiou em frente a minha cama, Eduardo a pegou antes que ela pudesse se machucar e a deitou na cama da frente, na cama dela.
– Ela vai ficar bem? – perguntei, preocupada.
– Vai...isso é normal. Acordará daqui a algumas horas bem melhor – respondeu Dan, ele ajudou Eduardo a colocá-la na cama e jogaram um coberto encima dela. – Vai ficar bem. É melhor eu ir dirigir...ninguém pode nos achar.
Dan seguiu para o banco de motorista na frente e deu a partida, não sei como saímos da garagem, não se podia enxergar nada lá fora. Mas quando ele começou a dirigir, senti meu estomago dizendo “Não!”.
– Venha. Kris vai ficar bem.
Eduardo se sentou na minha cama e sentei ao seu lado, minha cabeça girava e eu estava cansada. Deitei. Os pés ainda no chão.
Estava quase dormindo, o cansaço era mais do que imaginava. Ouvi Eduardo se levantar e tirar meu tênis, colocar meus pés em cima da cama e jogar um cobertor por cima de mim. Ele se sentou no chão, apoiando a cabeça na cama, ao meu lado.
– Estamos voando? – sussurrei, sonolenta.
Ele riu baixinho e afagou meus cabelos, tão devagar que parecia temer que eu me espatifasse como vidro na sua frente.
– Sim, e durma. Ainda é 4 e meia da tarde mas a viagem é longa. Durma, vou cuidar de você.
Senti seu polegar acariciando meu queixo e perdi a consciência.


Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.

5 comentários:

  1. Carol, você esta se superando!!!
    Amei amei e amei!
    A Kris e o Dan são demais!
    E to adorando Eduardo e Cathy *----*

    E medinho dessa mensagem!
    Bjs All Sun

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  2. MEU SENHOR , AMANDO ... preciso ler urgentemente o proximo capitulo Eduardo e Cathy <3 s2

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  3. Ameiiiiiiiiii, ficou D+
    muito muito bom
    sou mais uma pro fan clube: "Cathy e Eduardo "
    ansiosíssima pelo próximo capitulo

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  4. carol desculpa mais tem mais alguns erros de ortografia por aqui

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    Respostas
    1. Hm, plural e tudo o mais?
      Não querendo ser ignorante e tudo o mais, mas se me fez perder 8263273 minutos da minha vida relendo o cap., por causa de plural? Quando for assim, é, ignora. Ok? Mas se for como troca dos nomes dos personagens ou um erro grave mesmo é só avisar...eu não me importo. Mas ficaria feliz de saber onde está o erro.
      Avisa, ok?
      Thanks de novo <3

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