Parte
II
“Manter o coração enterrado não era muito
diferente de manter a raiva reprimida, isso eu aprendera. O sentimento corrói
você por dentro até que tudo que você quer é gritar ou chutar alguma coisa.”
–
Richelle Mead
Domingo, 10 de Novembro de 2011
Querido Diário,
Tive mais um pesadelo esta noite. Mais um. O mês
inteiro sonhei com a mesma coisa: um homem acorrentando preso em uma gaiola
coberta de neve, que eu sabia, nenhum ser humano sobreviveria mais de 5 minutos
ali. Ele sempre murmurava a mesma coisa “Cathy! Tem que me salvar. Salve-me!”. Salvar, de quem? Mas as palavras nunca saiam,
a única coisa que eu sabia fazer era ficar ali, olhando.
O homem de asas.
Que chamava meu nome.
Mas hoje o sonho foi diferente. Sonhei que estava
em um abismo sem fim, flutuando pela escuridão sem saída. O desespero. O medo.
As lágrimas. Eu estava coberta por elas. Pensei que nunca sairia dali. Era
horrível. E eu dizia alguma coisa...o nome de um garoto. Mas não consigo me
lembrar quem. Sinto que se eu ouvir alguém dizê-lo eu lembrarei.
E depois de tudo, essa tristeza. É de madrugada e
acordei soando com o pesadelo, por pouco não grito. Agora sinto essa tristeza
invadindo-me, como se eu tivesse perdido algo...alguém. Não sei por quê.
Alguma coisa não esta funcionando na minha mente
(eu sei, nunca funcionou) e é...como se eu devesse saber de alguma coisa que eu
simplesmente esqueci.
É como se eu não devesse estar aqui. Mas em outro
lugar. Com outras pessoas.
Paro de escrever e leio a ultima linha. Com outras pessoas?
Que pessoas? Eu estava no lugar certo e com as pessoas certas. Eu estava
alucinando, essa era minha única explicação.
Ajeito-me na cama e encaro o teto. Ele continuava o mesmo,
assim como a minha vida. Nenhuma mancha nova. Nenhum acontecimento novo.
O papel que havia aparecido em minha cama (aparecido, não
conseguia aceitar o fato de ter escrito um trecho da musica do Chris Brown)
estava ao meu lado, reli-o mais cinco vezes e cada vez que fazia isso,
sentia-me ainda mais confusa e desnorteada. “Nada nunca ficará entre nós”. Nós?
Quem?
Amassei o papel e o joguei na parede da frente, ele bateu no
pôster do Bruno Mars, e caiu no chão, fazendo um leve barulho de papel. Dei de
ombros e peguei meu Ipod, escolhi uma boa playlist para me fazer dormir. Joguei
o diário no chão, com raiva dele (Não, eu nem sei porque estou com raiva de um
diário, mas ta.) e Lifehouse começou a tocar. Lifehouse. Agora sim eu dormia.
Depois de duas musicas perdi a consciência. Pareceu não ter
passado nem 5 minutos e meu celular começou a vibrar vorazmente na cabeceira da
cama. Peguei-o e atendi, sem ao menos ver quem era.
– Alô? – falei, sonolenta.
– Ei, Cathy! É você? Cathy, ta me ouvindo? – Era a voz de
Lucia gritando do outro lado, ela devia estar em uma festa, pois o barulho
estrondeante de musica eletrônica não tinha outra explicação. – Você estava
dormindo?
– Oh, não, não, Lucia. Estava só pintando um quadro – disse,
rindo.
– Sério? – Lucia parecia ter acreditado, revirei os olhos.
– Não, sua idiota. – Isso
é amizade verdadeira: chamar a amiga de idiota. – Aonde ta?
– Adivinha?
– Desenrola logo.
– Em uma festa com – ela fez um ar de suspense, acho que
saiu do lugar barulhento, pois a musica diminuiu – ...Leo! O gatinho da escola,
Cathy!
– Aimeudeus! Ta de
brincadeira? Sério?! Eu tenho que ir ai! Como não me contou nada?
– Convite de ultima hora.
– Quantas horas são?
– Três da manhã.
– Passe aqui em vinte minutos.
– Ok!
E desligou.
Saltei de um pulo da cama e segui até o banheiro. Penteei
meus cabelos imensos que iam até a cintura e os amarrei em um rabo de cavalo.
Fui até o guarda-roupa e escolhi uma bata azul marinho e uma calça jeans
rasgada. Passei um pouco de pó compacto, peguei meu all-star favorito (cano
médio) e esperei. 5 minutos depois, Lucia estacionou na frente do prédio, abri
sorrateiramente a porta e sai pelo corredor. Estava torcendo com toda a minha
alma que vó Lijia não ouvisse eu
fugindo as escondidas de madrugada, mas ela tinha um sono profundo, e essa não
seria a primeira vez que eu sairia escondido.
Meu aniversário seria apenas amanhã, por tanto não podia
dirigir meu carro novo, ainda. Ainda. Entendeu? Ainda. Ta, já parei. Então,
passei pela portaria (Antes disse ao segurança pra não contar nada a minha vó. Ele disse “claro”. O cara nunca
contava, e olha que o pessoal do prédio sempre dizia que ele era chato.
Discordo.) e entrei no carro de Lucia. Um Ford azul e antigo.
Lucia sempre foi bonita. Desde os 9 anos quando a conheci
ela já era a “bam-bam-bam” na beleza. Lucia é ruiva dos olhos verdes, tinha
algumas sardas no rosto, mas isso só a deixava ainda mais linda. As feições de
seu rosto eram perfeitas, por não ter
uma palavra melhor. O corpo magro: ela nunca tinha problemas na loja. Já eu não
achava numero pra mim, sou muito magra. Tipo, 55 quilos! (Ok, to exagerando. Eu
acho sim numero pra mim.).
Enfim, agora ela estava usando um vestido rodado a partir da
cintura e violeta. O vestido tinha detalhes branco e roxo. Lembro que tinha
ajudado-a a escolher, tinha sido a maior guerra: violeta ou verde claro? Você
já deve ter reparado que violeta ganhou.
Lucia deu um alô e começou a falar. A falar muito. Ela não
se importa se você quer ouvir ou não, ela vai falar de qualquer maneira.
Tagarelou sobre Leo e como ele era fofo, engraçado, lindo, fofo, lindo e
engraçado. Mas minha mente estava em outro lugar. Um nome começou a disparar na
minha cabeça: Kristen Smain.
Eu nunca ouvira falar de nenhuma Kristen Smain, mas sentia
que já tinha compartilhado coisas com essa garota, como amigas...
Amigas...
Uma imagem minha de cabelos curtos e óculos meios redondos e
meios quadrados, rompeu em minha cabeça. Eu sorria e passava os dedos sobre o
cabelo.
Voltei a ouvir a voz de Lucia, que ainda falava sobre Leo.
Tentei imaginar quando eu havia
cortado os cabelos curtos. Eles sempre foram grandes e eu nunca gostara de
óculos daquele jeito.
Mas eu tinha de admitir que estava linda. De uma maneira que
me fez prometer cortar o cabelo assim um dia. Um dia. Nem que eu tivesse de
comprar óculos daquele jeito.
– Sam esta lá? – perguntei a Lucia. Ela para de falar,
respira fundo e responde:
– É uma longa história.
– Conta logo, Lucia.
– É assim: Sam estava se agarrando com outra garota, bêbado.
Eu devia ter ouvido errado. Sam, bêbado? Com outra?
Impossível. Ele gostava de mim a anos, não ia jogar nosso relacionamento pra
cima dessa maneira.
– Não pode ser verdade – digo, já começando a ficar com
raiva. – Não pode ser!
Lucia abre a boca mas nada saiu dali, ela olha pra frente,
para a estrada escura e arregala os olhos. Olho também e o que vejo não é nada
animador: uma ave gigante (só podia ser uma ave) estava no meio do caminho,
abrindo as asas e grunhindo para nós. Mas era difícil acreditar que era uma
ave, pois a criatura tinha 2 metros de altura.
Lucia pisou no freio e o carro rodou na estrada, bateu em
uma árvore e caiu barranco a baixo, batendo em pequenas árvores e enormes
pedras. Senti o sangue fluindo pela minha cabeça, ouvi o grito de Lucia, só que
ele já estava distante demais para mim. Eu estava sofrendo meu segundo acidente
de carro.
Perfeito e super impactante, parabens.
ResponderExcluirMas ela se esqueceu de tudo que acontecera antes ? Não entendi direito isso.
Eduardo apagou a memória dela '.' mas vai ficar fragmentos...
ExcluirObrigada <3
Gostei, mas não entendi uma coisa, sei que o Eduardo apagou a memória dela, mas e o cabelo, como faz?
ResponderExcluirEles voltaram no tempo e ele apago a memória dela... eu entendi isso :S
ExcluirEla se esqueceu de tudo, nossa :O isso ta ficando muuito bom. Só não entendi como o cabelo dela volto a ser longo de novo.
ResponderExcluirBoa pergunta '.'
ExcluirAcho que bem, quando ela voltou no tempo, tudo que ela tinha feito virou "lembranças" e não acontecimentos reais. É complicado, pois tudo que aconteceu foi em torno dela, um jogo de mente na qual os dias que ela viveu desapareceram. Mas que pros outros foram reais e não só lembranças. O cabelo desapareceu e virou lembrança :/