sexta-feira, 15 de junho de 2012

11- A menina de cabelos ruivos










Parte II










Manter o coração enterrado não era muito diferente de manter a raiva reprimida, isso eu aprendera. O sentimento corrói você por dentro até que tudo que você quer é gritar ou chutar alguma coisa.”

                                          – Richelle Mead















Domingo, 10 de Novembro de 2011

Querido Diário,
Tive mais um pesadelo esta noite. Mais um. O mês inteiro sonhei com a mesma coisa: um homem acorrentando preso em uma gaiola coberta de neve, que eu sabia, nenhum ser humano sobreviveria mais de 5 minutos ali. Ele sempre murmurava a mesma coisa “Cathy! Tem que me salvar. Salve-me!”.  Salvar, de quem? Mas as palavras nunca saiam, a única coisa que eu sabia fazer era ficar ali, olhando.
O homem de asas.
Que chamava meu nome.
Mas hoje o sonho foi diferente. Sonhei que estava em um abismo sem fim, flutuando pela escuridão sem saída. O desespero. O medo. As lágrimas. Eu estava coberta por elas. Pensei que nunca sairia dali. Era horrível. E eu dizia alguma coisa...o nome de um garoto. Mas não consigo me lembrar quem. Sinto que se eu ouvir alguém dizê-lo eu lembrarei.
E depois de tudo, essa tristeza. É de madrugada e acordei soando com o pesadelo, por pouco não grito. Agora sinto essa tristeza invadindo-me, como se eu tivesse perdido algo...alguém. Não sei por quê.
Alguma coisa não esta funcionando na minha mente (eu sei, nunca funcionou) e é...como se eu devesse saber de alguma coisa que eu simplesmente esqueci.
É como se eu não devesse estar aqui. Mas em outro lugar. Com outras pessoas.

Paro de escrever e leio a ultima linha. Com outras pessoas? Que pessoas? Eu estava no lugar certo e com as pessoas certas. Eu estava alucinando, essa era minha única explicação.
Ajeito-me na cama e encaro o teto. Ele continuava o mesmo, assim como a minha vida. Nenhuma mancha nova. Nenhum acontecimento novo.
O papel que havia aparecido em minha cama (aparecido, não conseguia aceitar o fato de ter escrito um trecho da musica do Chris Brown) estava ao meu lado, reli-o mais cinco vezes e cada vez que fazia isso, sentia-me ainda mais confusa e desnorteada. “Nada nunca ficará entre nós”. Nós? Quem?
Amassei o papel e o joguei na parede da frente, ele bateu no pôster do Bruno Mars, e caiu no chão, fazendo um leve barulho de papel. Dei de ombros e peguei meu Ipod, escolhi uma boa playlist para me fazer dormir. Joguei o diário no chão, com raiva dele (Não, eu nem sei porque estou com raiva de um diário, mas ta.) e Lifehouse começou a tocar. Lifehouse. Agora sim eu dormia.
Depois de duas musicas perdi a consciência. Pareceu não ter passado nem 5 minutos e meu celular começou a vibrar vorazmente na cabeceira da cama. Peguei-o e atendi, sem ao menos ver quem era.
– Alô? – falei, sonolenta.
– Ei, Cathy! É você? Cathy, ta me ouvindo? – Era a voz de Lucia gritando do outro lado, ela devia estar em uma festa, pois o barulho estrondeante de musica eletrônica não tinha outra explicação. – Você estava dormindo?
– Oh, não, não, Lucia. Estava só pintando um quadro – disse, rindo.
– Sério? – Lucia parecia ter acreditado, revirei os olhos.
– Não, sua idiota. – Isso é amizade verdadeira: chamar a amiga de idiota. – Aonde ta?
– Adivinha?
– Desenrola logo.
– Em uma festa com – ela fez um ar de suspense, acho que saiu do lugar barulhento, pois a musica diminuiu – ...Leo! O gatinho da escola, Cathy!
Aimeudeus! Ta de brincadeira? Sério?! Eu tenho que ir ai! Como não me contou nada?
– Convite de ultima hora.
– Quantas horas são?
– Três da manhã.
– Passe aqui em vinte minutos.
– Ok!
E desligou.
Saltei de um pulo da cama e segui até o banheiro. Penteei meus cabelos imensos que iam até a cintura e os amarrei em um rabo de cavalo. Fui até o guarda-roupa e escolhi uma bata azul marinho e uma calça jeans rasgada. Passei um pouco de pó compacto, peguei meu all-star favorito (cano médio) e esperei. 5 minutos depois, Lucia estacionou na frente do prédio, abri sorrateiramente a porta e sai pelo corredor. Estava torcendo com toda a minha alma que Lijia não ouvisse eu fugindo as escondidas de madrugada, mas ela tinha um sono profundo, e essa não seria a primeira vez que eu sairia escondido.

Meu aniversário seria apenas amanhã, por tanto não podia dirigir meu carro novo, ainda. Ainda. Entendeu? Ainda. Ta, já parei. Então, passei pela portaria (Antes disse ao segurança pra não contar nada a minha . Ele disse “claro”. O cara nunca contava, e olha que o pessoal do prédio sempre dizia que ele era chato. Discordo.) e entrei no carro de Lucia. Um Ford azul e antigo.
Lucia sempre foi bonita. Desde os 9 anos quando a conheci ela já era a “bam-bam-bam” na beleza. Lucia é ruiva dos olhos verdes, tinha algumas sardas no rosto, mas isso só a deixava ainda mais linda. As feições de seu rosto eram perfeitas, por não ter uma palavra melhor. O corpo magro: ela nunca tinha problemas na loja. Já eu não achava numero pra mim, sou muito magra. Tipo, 55 quilos! (Ok, to exagerando. Eu acho sim numero pra mim.).
Enfim, agora ela estava usando um vestido rodado a partir da cintura e violeta. O vestido tinha detalhes branco e roxo. Lembro que tinha ajudado-a a escolher, tinha sido a maior guerra: violeta ou verde claro? Você já deve ter reparado que violeta ganhou.
Lucia deu um alô e começou a falar. A falar muito. Ela não se importa se você quer ouvir ou não, ela vai falar de qualquer maneira. Tagarelou sobre Leo e como ele era fofo, engraçado, lindo, fofo, lindo e engraçado. Mas minha mente estava em outro lugar. Um nome começou a disparar na minha cabeça: Kristen Smain.
Eu nunca ouvira falar de nenhuma Kristen Smain, mas sentia que já tinha compartilhado coisas com essa garota, como amigas...
Amigas...
Uma imagem minha de cabelos curtos e óculos meios redondos e meios quadrados, rompeu em minha cabeça. Eu sorria e passava os dedos sobre o cabelo.
Voltei a ouvir a voz de Lucia, que ainda falava sobre Leo. Tentei imaginar quando eu havia cortado os cabelos curtos. Eles sempre foram grandes e eu nunca gostara de óculos daquele jeito.
Mas eu tinha de admitir que estava linda. De uma maneira que me fez prometer cortar o cabelo assim um dia. Um dia. Nem que eu tivesse de comprar óculos daquele jeito.
– Sam esta lá? – perguntei a Lucia. Ela para de falar, respira fundo e responde:
– É uma longa história.
– Conta logo, Lucia.
– É assim: Sam estava se agarrando com outra garota, bêbado.
Eu devia ter ouvido errado. Sam, bêbado? Com outra? Impossível. Ele gostava de mim a anos, não ia jogar nosso relacionamento pra cima dessa maneira.
– Não pode ser verdade – digo, já começando a ficar com raiva. – Não pode ser!
Lucia abre a boca mas nada saiu dali, ela olha pra frente, para a estrada escura e arregala os olhos. Olho também e o que vejo não é nada animador: uma ave gigante (só podia ser uma ave) estava no meio do caminho, abrindo as asas e grunhindo para nós. Mas era difícil acreditar que era uma ave, pois a criatura tinha 2 metros de altura.
Lucia pisou no freio e o carro rodou na estrada, bateu em uma árvore e caiu barranco a baixo, batendo em pequenas árvores e enormes pedras. Senti o sangue fluindo pela minha cabeça, ouvi o grito de Lucia, só que ele já estava distante demais para mim. Eu estava sofrendo meu segundo acidente de carro.




 Cathy Lohan e os Espíritos da Morte 
Por: Carol C.

6 comentários:

  1. Perfeito e super impactante, parabens.
    Mas ela se esqueceu de tudo que acontecera antes ? Não entendi direito isso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eduardo apagou a memória dela '.' mas vai ficar fragmentos...
      Obrigada <3

      Excluir
  2. Gostei, mas não entendi uma coisa, sei que o Eduardo apagou a memória dela, mas e o cabelo, como faz?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eles voltaram no tempo e ele apago a memória dela... eu entendi isso :S

      Excluir
  3. Ela se esqueceu de tudo, nossa :O isso ta ficando muuito bom. Só não entendi como o cabelo dela volto a ser longo de novo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa pergunta '.'
      Acho que bem, quando ela voltou no tempo, tudo que ela tinha feito virou "lembranças" e não acontecimentos reais. É complicado, pois tudo que aconteceu foi em torno dela, um jogo de mente na qual os dias que ela viveu desapareceram. Mas que pros outros foram reais e não só lembranças. O cabelo desapareceu e virou lembrança :/

      Excluir

Sua opinião é essencial para o blog...