segunda-feira, 11 de junho de 2012

9- Será sempre nosso herói, está bem?


Acordei com meu corpo todo doido e vozes indistintas surgiam ao longe. Tentei entender o que diziam para fugir da dor indomável, mas era como tentar olhar pro lado enquanto Johnny Depp dançava na sua frente. Mas pude ouvir que uma voz feminina gritava e parecia estar brava. Tentei abrir os olhos para poder ver de quem pertencia aquela voz, mas a dor me levou para o nada...Dor. Dor. Dor. Dor. Só havia isso. Dor. Dor. Dor. Dor.
E ela me levou para a inconsciência.
Acordei e dessa vez a garota já não gritava mais, a dor havia diminuído a ponto de ser apenas uma pontada incomoda no peito. Pude ouvir minha respiração calma; mas meu coração batia freneticamente, como se fosse sair pela boca.
Abri os olhos e acima de mim, a menos de um metro, tinha uma grande taboa de madeira. Na mesma hora notei que não era uma taboa, e sim o pequeno armário na qual tinha em cima de cada cama, no ônibus...o ônibus amarelo berrante...Um grande alívio tomou conta de mim, apalpei o colchão macio em que estava, a fim de registrar cada parte da cama. Sorri. Era real.
Olhei para o lado e Kristen estava sentada em sua cama. Lendo...Crepúsculo! Tudo bem que eu li a série em duas semanas e estava até ansiosa para a estréia de Amanhecer parte I. Mas eu nunca tinha visto uma finalidade para a estória. Qual o sentido de uma menina que estava sempre se metendo em encrencas, um “amor proibido” com um vampiro que só queria proteger, proteger, proteger, proteger e proteger ela? Ainda acho que Bella deveria ter ficado com Jacob e feito cinco filhotinhos lobo em cada mês. Ai sim.
Só que ali estava Kristen, que amava cabelos coloridos e que agora vestia uma jaqueta de couro e calças jeans rasgada, lendo...Crepúsculo. O mundo dá voltas, pensei.
Não agüentei ver aquela cena e deixei escapar um riso frenético que saiu meio entalado por causa da dor no peito. Kristen deu um pulo da cama com os olhos arregalados e derrubando tudo. E foi ai que vi que meu braço estava preso a um monte de fios de...hospital. Parei de rir na hora. Eu não estava em um hospital, disso eu podia ter certeza. Então...eu estava doente? Doente?
– Meu Deus, meu Deus! Ela acordou! – gritou Kris, correndo ao meu encontro.
Fiquei pensando há quanto tempo estava dormindo pra Kris sair gritando “ela acordou” pra toda a cidade. Revirei os olhos enquanto passos rápidos vinham em minha direção. Até parecia uma avalanche de elefantes...
– Você está bem, Cathy? Por Deus, você consegue falar? – ouvi a voz de Dan, cada vez mais perto.
– Eu to bem – tentei acalmá-lo, mas minha voz saiu casada e fraca.
Eduardo se ajoelhou na frente da minha cama, de modo que seu rosto estava muito perto do meu. E não seria eu que se afastaria.
Seus olhos encontraram os meus e um turbilhão de lembranças veio à tona. Você está completamente apaixonada por Eduardo McLean, a voz da Morte explodiu na minha mente e fui obrigada a fechar os olhos por causa das imagens que se formavam na minha cabeça: a Morte...a espada...Eu havia tocado a espada e sentido uma dor sufocante e sobrenatural...
Olhei instintivamente para o lado, e a espada estava ali, encostada na parede, brilhando a luz fraca que vinha do teto do ônibus.
– Aquela merda. – Grunhi, me agitando toda na cama. Eduardo já estava prendendo meus braços na cama antes mesmo de eu levantar a cabeça. E na questão física, ele era bem mais forte que eu. E na mental também.
– Parece que está muito bem – riu.
Ele sentou-se ao meu lado, ainda prendendo meus braços no colchão com uma das mãos, e a outra tirava os fios.
Kristen e Dan se sentaram no chão a minha frente, avaliando-me com preocupação.
– Quanto tempo...fiquei desacordada? – perguntei, já temendo a resposta.
– Dez dias – respondeu Dan, parecia estar muito interessado nos próprios tênis. – Só sobreviveu por causa do soro. Você não acordava de maneira alguma. Tentamos de todas as maneiras, mas você parecia estar em um sono sem fim. Pensamos que nunca mais acordaria.
– Dez dias – repeti. Parecia que eu tinha levado um tapa na cara. – Dez dias.
– Você apareceu aqui no chão do ônibus, na tarde do dia 13. – Explicou Eduardo. Ele já não segurava mais meus braços, só minha mão. – Estava se debatendo de dor no chão, respirando com dificuldade e murmurava algo sobre a espada...
– Para não tocarmos na espada. – Corrigiu Kris.
– Isso. E não tocamos, porque você não a largava e – ele sorriu – estava forte. E quando a colocamos na cama e você a soltou, usamos um pano para pegá-la. Sabíamos sobre a lenda das espadas o suficiente para não tocarmos.
– E é ai que nós te perguntamos Cathy. – Dan parecia mais velho e poderoso quando disse as palavras seguintes. – Por que não morreu? A ultima historia sobre alguém que havia tocado a espada e sobrevivido foi...
– Aquiles. – Agora era Kris que me olhava com superioridade. Estava começando a me sentir um bebê ali. – Que hoje é conhecido por ter se banhado no rio Estige. Sendo que na verdade, Aquiles pegou “emprestada” a espada do primeiro espírito para uma guerra que seria travada, e só a espada poderia destruir o rei que...bem, não é importante. O que importa Cathy, é como conseguiu a primeira espada, a mais fatal e mais impossível de ser conquistada, e como sobreviveu?
Sentei-me na cama e encostei as costas na janela do ônibus, ele estava em movimento mas eu não via nada lá fora, apenas uma escuridão enevoada. Kristen esperava minha resposta, e eu não estava disposta a contar a ela – não na frente de Eduardo – sobre tudo que aconteceu. E Kristen estava estranha. Não parecia a menina que eu tinha conhecido com a camisa da Demi Lovato e os cabelos todo repicado, não parecia mais uma menina. Ela estava em uma postura que jamais tinha visto nela...superioridade, poder e...algo mais, algo que me irritou. Quem era ela pra querer saber “toda a verdade”?
– Quer saber a verdade é? Mas que direito você tem de saber a verdade, Kristen Smain?
– Direito? – ela estava quase gritando, um misto de raiva passou por seu rosto e me senti satisfeita com o resultado de uma única frase. – Estamos trabalhando juntos lembra? Temos que contar tudo um ao outro. Somos uma equipe!
– Equipe? – dei uma gargalhada gélida e sem humor. – Que equipe maravilhosa! Então me diga Kristen, se somos uma equipe, por que não contou a mim sobre o dia do meu seqüestro? Louis! Caos no céu...você mentiu pra mim Kristen. Todos vocês mentiram pra mim.
Eles ficaram quietos por um tempo, Kristen ainda me olhava com determinação, mas aquilo já estava começando a falhar. Estavam começando a notar o próprio erro.
– Juramos não contar a você. – Dan mantinha a voz calma, quase casual.
– Um juramento a sangue, Ca. Não podíamos quebrá-lo. Nós morreríamos. – Não gostei de como Eduardo havia me chamado “Ca” que droga era aquela? Mas não me importei no momento, estava perturbada demais com que haviam falado. Juramento? Como o que fiz com a Morte? Como o que Miguel havia feito com Louis?
– Quem fez vocês jurarem?
– Zacarias – Kristen respondeu. Ela já não emanava poder e superioridade, seu tom de voz era de mil desculpas. – Nos perdoe Cathy, Zacarias me fez jurar lealdade muito antes de eu conhecer você. Foi no dia onze.
– Comigo também – sussurrou Dan. – Não sabíamos por quê ele queria que jurássemos já que...bem, foi Eduardo quem nos chamou para virmos com vocês e ninguém sabia disso antes.
Eduardo não pareceu se abalar.
– Zacarias sabe que vocês iriam comigo se eu os chamasse...só não sei como ele adivinhou que eu iria com Cathy a missão, se ela aceitaria e o mais importante, por quê não podíamos contar a ela sobre seu seqüestro.
Todos pensavam no que ele dissera. Não conhecia Zacarias, mas pelas histórias que já li sobre ele, não parecia ser um dos melhores anjos.
– Zacarias é um arcanjo. – sussurrei.
– Sério, Anjo? – No meio de toda aquele assunto sério, Eduardo conseguia achar uma brecha pra me zombar. Menino chato. Anjo chato. Cara chato. Um chato.
– Cala a matraca Eduardo – mostrei a língua pra ele e o movimento me fez sentir outra pontada no peito. Curvei-me antes de terminar a careta, gemendo de dor. Eduardo me pegou pelas costas e tentou levantar meu rosto, mas eu já estava chorando de dor.
– Cathy? Cathy!
A inconsciência me chamava como um imã....não havia como fugir dela.
Não sei quanto tempo fiquei desacordada, mas quando abri os olhos Dan estava ao meu lado na cama e Kristen chorava ao lado dele. Eu estava deitada no colo de alguém, aninhada nos braços de alguém... e eu tinha uma leve impressão de quem era esse alguém.
Olhei pra cima e o movimento me fez bater a cabeça no queixo do alguém, ele gemeu e deu um sorriso debochado.
– Desculpe – sussurrei para Eduardo.
E me virei para Kristen, que ainda chorava.
– Por que está chorando, Kris? – perguntei.
Ela levantou os olhos, mas logo os abaixou novamente, chorando na camisa de Dan. E foi ele quem me explicou:
– Rafael acabou de mandar um recado para todos os anjos do céu, que tem esse anel – ele mostrou seu anel no dedo. – Com a mensagem clara, sua cabeça vale muito no império, Cathy. Sinto muito.
– Sinto muito o quê...?
Antes que Dan pudesse responder, Eduardo já me puxava pela cintura e caímos da cama, ele estava em cima de mim e acabei não vendo o que nos atacou. Eduardo me jogou para frente do ônibus e antes que eu pudesse piscar, Kristen já estava a minha frente, em posição de ataque. Tentei olhar para o que estava acontecendo onde segundos antes eu estava, mas Eduardo ficou na frente, impedindo minha visão.
E então Dan deu um soco em Eduardo, forte o bastante para deixá-lo cambaleando pelo corredor. Eduardo se recuperou fácil e devolveu o soco, mas Dan era mais rápido, já estava com alguma coisa na mão...minha espada. A espada da Morte.
– Não! – gritei rouca. Dan se virou para mim, seus olhos estavam vermelhos e eu não conseguia encará-los, em vez disso olhei para espada, que ainda brilhava.
Não entendi como Dan havia conseguido segurar a espada sem ao menos sentir dor, ou estava sentindo e era forte o bastante para não demonstrar? Ele fez um sinal com a mão e Eduardo foi jogado para o fundo do ônibus, com outro sinal Kristen bateu contra a janela, espatifando-a. Sangue branco escorria de sua cabeça.
– Não! – gritei novamente, tentei me levantar mais uma força indistinta me colocou no chão e me virei zangada para Dan. – Como ousa? É Kristen, Dan! Kristen, sua amiga lembra?
– Daniel não vai gostar de saber que Kristen só o considerava um amigo. É triste quando o sentimento não é recíproco.
Por que Dan estava falando na terceira pessoa?
– Quem...eu...Dan...o que... – gaguejei. Mas ele me mandou calar com um aceno de mão.
– Não é Daniel, idiota. Acha que ele teria força para dois anjos? Sou Rafael, arcanjo do céu, dominei o corpo de Lenin com o anel que ele usa na mão direita...trouxa. E você Lohan? Acha que vai ter o império para você? Deus pode estar ausente, mas as leis da criação continuam – Rafael segurou meu queixo, levantando-o para que eu o encarasse. Tentei olhar para qualquer lugar, menos para seus olhos que ardiam como brasa. – Não vai ter meu trono, Lohan. Ele agora é meu. Zacarias é fraco, tenho um exército inteiro para destruí-lo e bani-lo do céu. Mas você é o problema. Você não pode sair por ai procurando pelos Espíritos da Morte. Nenhum...que nome pra você? Que seja, pecado de Miguel, você não terá o trono e nenhuma das espadas. Estará morta antes mesmo que possa...
Rafael não conseguiu terminar sua frase, uma espada atingiu sua nuca e ele caiu paralisado. Atrás dele Eduardo segurava a espada com luvas de couro. Ele sorriu pra mim, mas eu já estava debruçada sobre Dan...onde estava Dan?
– Cathy...Se Rafael possuiu mesmo o corpo de Dan, acredito que nenhum dos dois esteja vivo agora. Sinto muito. Dan morreu quando aceitou o anel...quando você estava inconsciente, um anel surgiu na nossa frente e com um recado de Rafael, dizendo que os anjos mais importantes do céu teriam que usar o anel. Teriam. Era uma ordem. E o anel veio para Dan. Ele o pegou e o colocou....depois disso não era mais ele naquele corpo, Cathy. Nunca mais será ele nesse corpo, em corpo algum.
O sussurro de Kristen ecoou pelo ônibus silencioso, lágrimas transbordavam por meus olhos e não conseguia suportar aquela ideia. Dan não estava morto. Não podia estar. Ele era um anjo, imortal...imortal.
Levantei-me e olhei para Kristen, lágrimas silenciosas escorriam em sua face, os cabelos com mexas coloridas parecia estar sem cor. Ela perdia o brilho e a energia enquanto paralisada, olhava para o corpo de Dan. Daniel Lenin....
Abracei-a e chorei em seu colo, no começo ela ficou como uma estátua, mas logo retribuiu o abraço e chorou descontroladamente sobre meu ombro. Senti alguém atrás de mim e quando me virei, Eduardo já estava abrindo os braços e acolhendo nós duas em seu colo. Choramos ali pelo que pensei ser a eternidade, Kristen soluçava ao meu lado, enquanto Eduardo afagava seu cabelo, e meu braço.
– Dan... – sussurrou Kristen, sua voz era tremida e fraca. – Dan...ele era meu melhor amigo. Há milênios vagávamos pelo mundo, apenas nós dois e o mundo...nós éramos considerados os melhores anjos da guarda... – ela olhou pra mim, sobre as ondas de lágrimas. – Cathy...nós éramos os seus anjos da guarda. Miguel tinha que ter alguém para te proteger, mesmo com a proteção da casa. Você não tinha apenas um anjo da guarda, mas dois...seguimos seus passos e lhe protegemos do mal.
– A dupla de Miguel – sussurrou Eduardo.
– Os anjos de Miguel. – E Kristen chorou ainda mais quando pronunciou aquelas palavras. Cada família tem seu anjo da guarda. Você não tem um. Dissera Alice Lian, e agora eu descobria que eu não tinha um anjo, mas sim dois anjos da guarda. Dois anjos que me protegeram, por toda a minha vida. E que um deles agora chorava pela morte do companheiro, ao meu lado. – Ele será sempre meu herói.
– Nosso herói, esta bem? – sussurrou Eduardo, dando um beijo em sua testa.
– Sempre – sussurrei.

Cathy Lohan e os Espíritos da Morte
Por: Carol C.

6 comentários:

  1. Eu não acredito que você matou o Dan.
    Como você pode?
    E bom, o proximo compensa isso!

    ResponderExcluir
  2. Meu dels, eu não acredito que você matou o Dan, na boa, chorei aqui :'( Como você pode? D: espero que o próximo recompense isso *--*'

    ResponderExcluir
  3. Chorei agora, olha que nem gostava assim tanto do Dan, mas foi inevitável to chorando ate agora :(

    ResponderExcluir

Sua opinião é essencial para o blog...